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Arroyo: os achados da rua mais elegante de Buenos Aires

A mais parisiense das ruas portenhas, casa do bar Florería Atlántico, ganhou um hotel cinco-estrelas, o Casa Lucia. E tem mais

Por Fabricio Brasiliense
Atualizado em 26 ago 2024, 11h10 - Publicado em 22 jul 2024, 20h04
Casa Lucía: o mais novo cinco-estrelas portenho
Casa Lucía: o mais novo cinco-estrelas portenho (FBrasiliense/Arquivo pessoal)
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São apenas 300 metros, mas que concentram o melhor do urbanismo, da arquitetura, das artes plásticas, da boemia e agora também da hotelaria. Aquela máxima de que os melhores perfumes estão nos menores frascos se aplica perfeitamente à Arroyo, a rua mais elegante de Buenos Aires.

Localizada no bairro Retiro, a Arroyo cruza a Avenida 9 de Julio e tem uma pequena continuação já na Recoleta, trecho que guarda dois maravilhosos palacetes: um que abriga a embaixada da França – o Palácio Ortiz Basualdo (fotos na galeria abaixo) – e, um pouco mais adiante, o Palácio Pereda, onde está instalada a embaixada do Brasil. Vale muito espiar esse trecho e já se embrenhar na Avenida Alvear, a mais classuda da Recoleta. Mas neste texto o foco será no trecho da Arroyo que fica do outro lado da 9 Julio, sentido centro, perfeitos para um fim de tarde, um café, um almoço demorado ou uma baladinha. 

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Esse trecho da Arroyo é muito fotogênico por uma combinação de fatores: rua e calçada foram niveladas e são uma coisa só, sem meio-fio; prédios em estilo francês e modernista foram construídos lado a lado, sem recuos; e lá pela metade a rua faz um cotovelo e forma uma sinuosidade que deixa tudo ainda mais elegante, sem muito esforço. No fim de tarde, as luzes se acendem e a magia acontece. 

A noite cai, os luzes se acendem e magia da Arroyo acontece
A noite cai, as luzes se acendem e a magia da Arroyo acontece (FabrícioB/Arquivo pessoal)

Hotel Casa Lucia

A mais nova aquisição da Arroyo foi a inauguração do hotel Casa Lucia no início de 2024 na altura do número 845. O edifício que o abriga, o Mihanovich, poderia muito bem estar na 5ª Avenida em Nova York. Erguido em 1929, o prédio é um ícone e chegou a ser o mais alto da capital portenha. Seu idealizador, o empresário croata Nicolás Mihanovich, mandou instalar no topo um farol para orientar os cargueiros da sua empresa de navegação quando se aproximassem da cidade pelo Rio da Prata. Mihanovich também esteve à frente do primeiro serviço de ferry boat que conectou Buenos Aires e Colonia de Sacramento, no Uruguai.

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O Casa Lucia ocupou o lugar do antigo Sofitel, que fechou as portas em 2017. Trata-se do primeiro empreendimento na Argentina do grupo catalão Único, que tem hotéis em Madri, Mallorca e na Costa Brava. A pegada é um luxo sóbrio, elegante e sem brocados. No lobby, a luz natural penetra em abundância através do teto de vidro e, ao fundo, no balcão onde costuma ser o check-in, foi instalado um bar. A ideia é atrair portenhos de passagem para um drink e quem mais estiver turistando pela Arroyo.

Casa Lucía
Ao fundo do lobby, um bar no lugar do balcão do check-in (//Divulgação)

À direita do lobby fica o restaurante Cantina, onde são servidas as três refeições em um ambiente aconchegante e com temática de polo equestre – e tem a opção de pedir uma mesa na calçada, o que não é nada mal. O cardápio mistura Itália e Argentina: empanada, ravioli, milanesa, ojo de bife, truta da Patagônia e por aí vai.

À esquerda do lobby, o Le Club Bacan é um bar muito elegante, escurinho, repleto de fotos de músicos argentinos e com recantos ótimos tanto para estar com amigos quanto para um date. De quinta a sábado, das 20h até 1h, os drinks são embalados por um DJ.

Cantina: o restaurante do Casa Lucía recebe hóspedes e passantes
Cantina: o restaurante do Casa Lucia recebe hóspedes e passantes (FabrícioB/Arquivo pessoal)

São ao todo 142 suítes decoradas sobriamente com tons claros e crus, cabeceiras em madeira e roupas de cama que abraçam. O hotel ainda tem no subsolo um spa com três salas de tratamentos, sauna seca, área de relaxamento e piscina aquecida.

Florería Atlántico

Quase em frente ao Casa Lucia esconde-se um dos bares mais famosos da Argentina. Do lado de fora, apenas uma floricultura. Na calçada foram colocadas mesinhas bem no trecho onde a Arroyo faz a curva, o que confere ainda mais charme. Lá dentro, itens de primeira necessidade para boêmios e românticos: vinhos e flores. Mas basta abrir uma porta de frigorífico que tem à esquerda de quem entra para encontrar uma escada que leva a um porão. Lá embaixo, um balcão de 18 metros e mesas coladas na parede. A Florería Atlántico foi por muito tempo o único bar da América Latina a figurar na lista de melhores do mundo e agora ocupa o 30º lugar. Na carta de drinques, a ideia é homenagear povos originários da América do Sul e imigrantes. A floricultura abre às 11h e o bar às 16h. Pode ser uma boa tomar um drinque à tarde e não ter que encarar as inevitáveis filas. Se a espera for insana e a fome idem, uma possibilidade é pegar uma mesa no endereço ao lado, a Rotiseria Atlántico, dos mesmos donos.

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Florería Atlántico: a calçada mais disputada do Retiro
Florería Atlántico: a calçada mais disputada do Retiro (FabrícioB/Arquivo pessoal)

Quando estiver por lá, repare no prédio onde está instalada a Florería, um dos mais elegantes da Arroyo e que vai até a esquina com a calle Suipacha. O edifício Bencich foi projetado pelo francês Eduardo Le Monnier, que estudou na Escola Nacional de Artes Decorativas de Paris. O desenho do prédio com mini cúpulas e ornamentos tem um pé no Renascimento italiano e outro na Espanha colonial, estilo que estava na moda em 1927, ano da inauguração. Bem na esquina da Suipacha está a confeitaria Farinelli, ótima parada para um café com media lunas e um alfajor caseiro.

Esquina da Arroyo com Suipacha, um delicioso café
Na esquina da Arroyo com a Suipacha, um delicioso café (FabrícioB/Arquivo pessoal)

Do outro lado da rua, o que é hoje uma praça foi palco de um episódio trágico: no dia 17 de março de 1992, terroristas do Hezbollah explodiram um carro-bomba em frente ao prédio onde funcionava a embaixada de Israel, que destruiu a edificação e deixou a triste marca de 22 mortos. No lugar, em 2000, foi inaugurada uma praça que rememora o episódio e suas vítimas. Em frente à praça, na paróquia Mater Admirabilis, uma foto na sacristia mostra os escombros da embaixada naquela fatídica tarde de março.

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Plaza Embajada de Israel (FabrícioB/Arquivo pessoal)

Los Jardines de Las Barquin

Se estiver um dia bonito e for hora do almoço, desça um pouco a calle Suipacha até o Museu de Arte Hispanoamericano Isaac Fernández Blanco, uma mansão colonial belíssima que guarda um enorme pátio andaluz e um restaurante dos mais aconchegantes, Los Jardines de Las Barquin. Inaugurado em 2023, trata-se da nova empreitada dos mesmos donos dos consagrados Niño Gordo e La Carnicería, em Palermo Soho. Vá sem pressa e aproeite o clima de escapada do lugar. 

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A Arroyo tem uma série de outros lugares que merecem uma visita, como o bar de vinhos ProVinCia, os cafés “de especialidad” The Shelter Coffee e o Kissaten Tostador; e as galerias de arte Palatina e Fundación OSDE.

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Dali você pode seguir a Arroyo até o ponto onde ela muda de nome para calle Esmeralda. Mas não acaba por aqui. Bem na junção da Arroyo, Juncal e Esmeralda está o mais francês dos edifícios portenhos, o Palacio Estrugamou, que tem em seu pátio nada menos do que uma réplica da Vitória de Samotrácia – sim, a do Louvre.

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Já chegando na lindíssima Plaza General San Martín e seus gomeros floridos, você estará circundado por alguns dos prédios mais deslumbrantes da cidade: o Palácio San Martín, sede do Ministério das Relações Exteriores; o Palácio Paz, que tem um delicioso café no térreo, o Croque Madame Café, mais um restaurante muito elegante no segundo andar, o Croque Madame (homens não podem entrar de bermuda); e também o Kavanagh, um arranha-céu residencial em estilo racionalista que já foi “personagem” de um livro do escritor argentino Ernesto Sabato – seria, digamos, equivalente ao Copan paulistano. E tudo isso em pouco mais de 300 metros.

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