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Velozes, ricos e famosos

Domicílio de artistas, pilotos e outros ricaços que não pagam impostos, Mônaco tem glamour, jogo, realeza e a mais tradicional corrida de F-1

Por Rodrigo França
Atualizado em 16 dez 2016, 08h42 - Publicado em 3 Maio 2012, 11h57

Mônaco é a segunda menor nação do mundo, à frente apenas do Vaticano: tem 2 quilômetros quadrados de área; tem também a maior taxa de expectativa de vida do planeta (86,68 anos), a menor de desemprego – e teria o maior índice de glamour per capita do Sistema Solar caso houvesse tal indicador. Em maio, a pompa chega ao ápice com o GP de Fórmula 1, no último fim de semana do mês.

Não procure explicações na etimologia para o luxo dessa cidade-Estado. A palavra Mônaco teria vindo do grego mono (um) e oikos (casa). A “casa única” talvez fizesse mais sentido no fim do século 13, quando a dinastia Grimaldi se estabeleceu ali. Seu atual mandatário é o príncipe Alberto 2o, que parecia fazer fé na solteirice até decidir se casar, no ano passado, com a sul-africana Charlene Wittstock, agora princesa Charlene. A sorte dos Grimaldi e do principado virou em 1865, quando um cassino foi encomendado pelo rei Carlos 3o ao ilustre arquiteto francês Charles Garnier (o mesmo da Opéra de Paris). Tudo para atrair os franceses que não podiam jogar em seu país. Para completar, o serviço de trem gaulês acabava de chegar ao principado. 

Há um ditado que os habitués de cassinos conhecem bem: “A casa sempre vence”. A fase dá a dimensão da importância do jogo na história de Mônaco. Com o dinheiro rolando no pano verde, outros cassinos se somaram ao primeiro, e a coroa decidiu isentar os habitantes locais do pagamento de impostos (só os franceses que vivem ali não desfrutam da isenção). A estratégia ajudou a encher Mônaco de esportistas, artistas, executivos e jet-setters, o que deu ainda mais carvão à fogueira das vaidades. Em 1956, o casamento do príncipe Rainier 3º com Grace Kelly pôs Mônaco numa dimensão elevada de sofisticação, algo que o principado não perdeu nem depois da morte da atriz, em 1982.

Outro postal é a Fórmula 1, que encontrou em Mônaco, com seu cenário de iates, seus belos edifícios e suas montanhas, a prova mais fotogênica. Com o trânsito bloqueado, as Ferrari e McLaren disputam o tradicionalíssimo GP na rua. A F-1 se beneficia do glamour de Mônaco, mas a recíproca é muito verdadeira. Associar o local à corrida é tão natural que até para quem nunca viu uma prova, nem nos tempos de Ayrton Senna (o maior campeão desse GP, com seis vitórias), é fácil reconhecer os lugares por onde passam os carros. Como a Igreja Sainte- Dévote, a curva La Rascasse, onde está o bar-restaurante homônimo, o túnel e a marina. O circuito tem 3 340 metros – se tivesse um pouco mais, invadiria a França. Nas 51 semanas do ano em que não há F-1, as ruas são tomadas por inúmeros Porsche, Maserati e Lamborghini, em concentração quase indecorosa – alguns desses veículos, alugados por turistas.

O Mediterrâneo de Mônaco, onde até os guarda-sóis são estrelados
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O Mediterrâneo de Mônaco, onde até os guarda-sóis são estrelados

Mas você não perde nada se começar a explorar Mônaco a pé. Ignore o ponto de largada do GP, no movimentado Boulevard Albert 1º, e inicie o seu circuito pela Cidade Velha (Monaco-Ville). Ali estão o Palácio do Príncipe, o Forte Antoine e o belo Jardim Exótico, com uma coleção de plantas de todo o mundo e vista para o Mediterrâneo. Monaco-Ville também ostenta a Catedral de Mônaco, cenário do casamento do príncipe Rainier 3º com Grace Kelly. Os restos mortais do casal estão lá. Outra grande atração é o Museu Oceanográfico, fundado em 1910, que teve como diretor Jacques Costeau, o célebre documentarista francês. Como tudo em Mônaco, o espaço está longe de ser supersize, mas seus 90 pequenos tanques mostram centenas de espécies das águas do Mediterrâneo e dos trópicos. Depois de vê-los, suba ao terraço, com mais uma vista panorâmica do principado, do porto, dos iates. 

Na visita ao Palácio do Príncipe, chegue poucos minutos antes do meio-dia para assistir à troca de guarda. Pode ser mais legal do que fazer o tour interno. Só 15 ambientes, entre eles a Sala do Trono, são abertos ao público. Considerando os oito séculos da dinastia Grimaldi, há muita coisa behind the scenes.

A mais famosa região do território é Monte Carlo, que dá nome ao circuito de rua de automobilismo e ao cassino, e que por isso parece mais que o simples quartier (bairro) que é. Lá estão os hotéis mais luxuosos, como o Hermitage e o Hôtel de Paris. Neste, inaugurado em 1864, fica o restaurante Le Louis XV, do chef Alain Ducasse, onde o jantar custa € 280 (mas no outro restaurante do hotel pagam-se “só” € 50). O cassino vale a visita até para quem não é chegado à jogatina. Ele faz parte de um complexo em que estão também o Grand Théâtre (a Ópera) e a sede do Balé de Monte Carlo. Impressiona o lobby com seu piso do mármore e seu grandioso átrio. Para conhecê-lo, basta fazer uma aposta de € 10. E é preciso estar trajado apropriadamente – bermudas são vetadas.

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A ligação de Mônaco com a velocidade começou em 1911, com o Rali de Monte Carlo. O primeiro GP, quando ainda não havia tantas categorias no automobilismo, foi realizado em 1929, em circuito quase igual ao de hoje. Sua grande marca é ter poucas áreas de ultrapassagem. Para o piloto tricampeão Nelson Piquet, disputar Mônaco “é como correr de bicicleta em um apartamento”.

A competitividade pode sair perdendo, mas o GP de Mônaco é intocável. Chefes de equipe e Bernie Ecclestone, diretor da Formula One Management, que comanda a área comercial da categoria, afirmam e reafirmam que a prova é fundamental para que a F-1 continue atraindo patrocínios milionários. Poucos pilotos dizem ser Mônaco seu GP preferido, mas é difícil quem não a tenha como cidade de eleição. Nem tanto pela pompa, mas pela isenção de impostos. É algo realmente a pensar quando você fatura € 14 milhões por ano, como Felipe Massa. Ainda há a localização estratégica, próximo de Cannes, Nice e San Remo. O clima ajuda: são muitos dias solares e um inverno moderado. “É um lugar perfeito para esportes ao ar livre”, disse à VT o piloto Bruno Senna, da Williams, que vive ali desde 2009 e pedala pelas montanhas da região.

Mônaco tem lindos recantos, mas, se você por alguma razão acabar de novo no cassino, lembre-se: a casa sempre vence. Vai pagar para ver?

Na próxima página, veja onde ficar, comer, passear e agitar em Mônaco.

Mônaco (DDI 377)

FICAR

É de imaginar que, em um lugar minúsculo e luxuoso, os hotéis tenham cinco estrelas e 50 cifrões. É quase isso. O Hôtel de Paris (Place du Casino, hoteldeparismontecarlo.com; diárias desde € 530; Cc: M, V) fica em frente ao cassino. O Hotel Hermitage (Square Beaumarchais, 277, hotelhermitagemontecarlo.com; diárias desde € 496; Cc: M, V) é belle époque no último. Na linha, o Fairmont Hotel (Avenue des Spélugues, 12, fairmont.com/montecarlo; diárias desde € 439; Cc: A, D, M, V) é um pouco mais barato. Bolsos mais realistas vão ao Novotel Montecarlo (Boulevard Princesse Charlotte, 16, 9999-8300, novotel.com; diárias desde € 195; Cc: A, D, M, V). Nice, a meia hora de trem, também pode ser base, com opções como o Ibis Nice Centre-Gare (Avenue Thiers, 14, 33-4/9388-8555, ibis.com; diárias desde € 49; Cc: A, D, M, V) e o Nice Garden Hotel (Rue de Congress, 11, 33-4/9387-3562, nicegardenhotel.com; diárias desde € 150; Cc: M, V).

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COMER

O clássico Le Louis XV (Place du Casino, 9806-8864, alainducasse.com; Cc: A, M, V), do premiado chef Alain Ducasse, dentro do Hôtel de Paris, continua com suas três estrelas no Guia Michelin. O italiano Adágio (Rue Bioves, 1, 9798-1556; Cc: A, D, M, V) é mais em conta. O La Chaumiere (Place Du Jardim Exotique, 9770-0492; Cc: A, M, V) tem menu desde € 15.

PASSEAR

Cruze o circuito da F-1. São só 3,34 km. Pedale, ande ou alugue um esportivo na Europe Luxury Car Hire (europeluxurycarhire.com). Você verá o Cassino de Monte Carlo (Place du Casino, casinomontecarlo.com; € 10) e a Igreja Sainte-Dévote (Place Sainte-Dévote, 9350-5260). Em Monaco-Ville ficam o Museu Oceanográfico (Avenue Saint Martin, oceano.mc; € 14), a Catedral de Mônaco (Rue Colonel Bellando de Castro, 4, cathedrale.mc), o Palácio do Príncipe (Place Du Palais, palais.mc; € 8) e o Jardim Exótico (Boulevard du Jardin Exotique, 62, jardin-exotique.mc; € 7). Para ver futebol, procure por ingressos do time local, o Monaco, no Estádio Louis II (Avenue des Castelans, 3, asm-fc.com).

AGITAR

Na época do GP há festas e bares com música até altas horas. O La Rascasse (Quai Antoine 1, larascassemontecarlo.com; Cc: A, M, V) fica na última curva do circuito. No Amber Lounge (Avenue Princesse Grace, 22, amber-lounge.com), é preciso ter orçamento recheado e bons contatos para acompanhar a balada que reúne pilotos e sua entourage.

COMO CHEGAR

Não existem voos diretos do Brasil para Nice, o aeroporto mais próximo de Mônaco (a 20 km de distância). Com conexão, levam para lá a Iberia (11/3218-7130, iberia.com.br), via Madri, desde US$ 1 006; a Alitalia (11/2171-7610, alitalia.com), via Roma, desde US$ 1 028; a TAP (0300-2106060, flytap.com.br), via Lisboa, desde US$ 1 078; a Swiss (11/4700-1543, swiss.com), via Zurique, desde US$ 1 096; a Lufthansa (1 1/4700-1700, lufthansa.com), por Frankfurt, desde US$ 1 227; a Air France (0800-8889955, airfrance.com.br), via Paris, desde US$ 1 243; e, via Londres, a British (0800-7610885, ba.com), desde US$ 1 545. Se você precisar apenas de trechos internos, considere voar com empresas aéreas low-cost, como a EasyJet (easyjet.com) e a Blu-Express (blu-express.com).

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QUEM LEVA

A Transibérica (transiberica.com.br) tem quatro noites no cinco-estrelas Hotel Metrópole Montecarlo (metropole.com), desde US$ 2 528. No mesmo clima luxo, a Soft Travel (soft travel.com.br) tem quatro noites no Fairmont, desde US$ 2 637. Se você curte F-1, a Canaus (canaus.com.br) tem três noites no L’Auberge Provençale (laubergeprovencale.com) e ingressos para dois dias no GP, desde US$ 2 636. A Ematur (ematur.com.br) tem quatro noites no três-estrelas Ambassador (ambassadormonaco.com) desde US$ 1 875.

Leia mais:

Maio de 2012 – Edição 199

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