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Brasília, uma atraente sessentona

Brasília comemora cinquentenário e mostra que é mais que uma obra de Niemeyer

Por Cynara Menezes
Atualizado em 5 ago 2021, 10h08 - Publicado em 8 set 2011, 19h58

Esqueçam os (maus) políticos. A ex-enfant terrible das cidades brasileiras se transformou numa cinquentona cheia de encantos. Surgida do nada, Brasília conquistou vida própria além dos ainda vanguardistas edifícios de Oscar Niemeyer. É pequena, mas inspira diferentes olhares: há quem enxergue nela só o concreto, as pistas típicas de um autorama gigantesco e certa monotonia visual. Há também quem diga que a cidade só existe por causa da política, mas há quem consiga ver que Brasília existe apesar dela.

Por agora, nos meses que antecedem a seca (período em que a umidade relativa do ar chega a 10%, especialmente em agosto e setembro), a capital está verdíssima. Um de seus defeitos é não ter sido pensada para andar a pé, mas quem se aventurar a dar um rolê pelas quadras se surpreenderá ao perceber que Brasília é quase uma “Refazenda”, como dizia Gilberto Gil na canção, aliás composta quando ele andava pelo cerrado: abacateiros sem fim, mas também mangueiras, mamoeiros, amoreiras, goiabeiras, jenipapeiros, jaqueiras. Dá para fazer a feira. Na época das mangas, é comum avistar engravatados, pedra à mão, derrubando a fruta no Eixo Rodoviário – o outro eixo, o Monumental, é o dos monumentos (claro), como a catedral. Para não se confundir, tenha em mente que Brasília foi feita em forma de avião (ou cruz): os eixos se cruzam sobre o centro da cidade, que é exatamente onde está a rodoviária. De um lado, a Asa Norte; e do outro, a Asa Sul. É o básico.

Andar de bike na plana Brasília é moleza. Dá para ir de ponta a ponta pela autopista, passear pela Esplanada dos Ministérios e ver as obras de Niemeyer: a bela catedral, o Congresso, a Praça dos Três Poderes, o Itamaraty. Melhor ainda se for à noite, depois das 9, quando o expediente dos barnabés e políticos termina e a Esplanada fica iluminada e deserta. Como a iluminação dos prédios dos Ministérios é feita de baixo para cima, os que se aproximam das lâmpadas se transformam em sombras gigantes projetadas na parede. Divertido. Outra brincadeira para testar é ver se é ou não lenda que, em 21 de abril (aniversário da cidade), o sol nasce exatamente entre as torres do Congresso Nacional.

Quem escolhe fazer o passeio pelas atrações arquitetônicas com os ônibus panorâmicos não gasta mais de uma hora e meia do dia. Mas é possível fazer tudo lentamente, aproveitando para visitar os interiores e tomar sol nos amplos espaços em frente aos edifícios. Nem foi Niemeyer quem mandou fazer, mas o céu vermelho de Brasília no pôr do sol também é uma atração à parte. O melhor lugar para apreciá-lo é na Ermida Dom Bosco, uma capelinha à beira do Lago Paranoá de onde é possível enxergar toda a cidade. Ah, o céu não é de Niemeyer, mas a capelinha, sim. Boas pausas nessa andança são a Central do Cerrado, para comprar os ecologicamente corretos hidratante de gueroba, geleia de buriti, licor de pequi e barrinha de baru, entre outros produtos, e algumas das sorveterias da cidade. A atração da Sorbê são os picolés exóticos, como cagaita, cajuzinho e cajá-manga. Na Saborella, além dos sorvetes de frutas da região, há os de chocolate de diversas nacionalidades (Venezuela, São Tomé, Equador), o de pistache siciliano e outros sabores que mudam diariamente, menos o concorrido sorvete de tapioca.

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Para viver a noite brasiliense, há bares e restaurantes em cada entrequadra – espécie de rua que separa as quadras -, e as opções de balada são fartas, mas não até muito tarde. Há uma “rua” só de botecos (a 408/409 Norte) e uma só de restaurantes (a 404/405 Sul). Entre o Godofredo e o tradicional Beirute, escolha ambos. E fique de ouvidos atentos quando alguém soprar o endereço de alguma festa. Elas acontecem normalmente nas mansões dos Lagos Sul e Norte, mas nem pense em boca-livre. Em geral, cobra-se ingresso na porta e o bar é pago; 0800 só mesmo nos disputados vernissages dos centros culturais, das embaixadas e dos órgãos públicos, onde os penetras não chegam a ser bem-vindos, mas são aceitos. Em termos de restaurantes, a ampla oferta não condiz com a realidade gastronômica provinciana da capital. Destacam-se o charme kitsch do Universal e o simples e gostoso japonês Nippon.

Se ficou acordado para checar o nascer do sol no Congresso, aproveite para conhecer alguma das muitas atrações naturais nos arredores da capital. Como o belíssimo Poço Azul (DF-001 e DF-220 em direção a Brazlândia e Padre Bernardo, a 40 km do Plano Piloto), e as cachoeiras de Indaiá (BR-020 em direção a Fortaleza e GO-118, a 120 km do Plano Piloto) e a Salto do Itiquira (BR-020 em direção a Fortaleza, a 95 km do Plano Piloto), a segunda maior do Brasil em termos de altura, com 169 metros. Para dar só um mergulho e refrescar o corpo da falta de umidade reinante, um passeio de fato imperdível é o Parque Nacional de Brasília (BR – 040, via Estrada Parque Indústria e Abastecimento, Setor Militar Urbano, a 10 km da rodoviária), com trilhas e duas enormes piscinas de água mineral. E, o que é mais incrível, públicas, com ingressos nada superfaturados. É ou não é um escândalo?

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