É fã da Disney? Que tal bater cartão (literalmente) nos parques durante as férias de verão inteiras? A maior empresa de entretenimento do planeta mantém um conhecido programa de intercâmbio profissional para universitários do mundo todo, o International Cultural Program (ICP), mediado, no Brasil, pela operadora STB.
Para a Disney, trata-se de atrair uma mão de obra jovem, internacional, bilíngue, empolgada e relativamente qualificada a um custo baixo, já que os gastos da viagem (passagem, visto, seguro, alimentação) correm por conta do estudante, e a estadia, em condomínios da própria Disney, é descontada do salário dos intercambistas.
Para um jovem universitário, viajar sozinho ao exterior por tanto tempo – e cheio de responsabilidades – pode despertá-lo para a vida adulta no timing certo. Nas horas vagas, a troca cultural com jovens de outros países e a autonomia para administrar tempo, dinheiro e programação são uma espécie de vestibular da maioridade. Bônus: todos entram nos parques na faixa, e, depois do intercâmbio, têm um mês de visto para viajar pelos States – se sobrar grana.
Sim, o trabalho é duro, a remuneração pode variar e a frequência com que se pratica o inglês depende da vaga, mas seu currículo ganhará um bom diferencial (e seus netinhos, quando souberem que você já esvaziou todas as lixeiras do Magic Kingdom, retribuirão a anedota com uma larga risada).
Noves fora, o investimento na viagem – uns R$ 11.000 – não é dos mais altos, sobretudo para uma estadia de dois a três meses. A seguir, tudo sobre intercâmbio na Disney.
Não banque o Pateta: tire as suas dúvidas
Quais são os pré-requisitos?
É preciso ter, no mínimo, 18 anos até o início do processo seletivo (lá pra maio), falar inglês avançado ou fluente (mas sem a necessidade de um certificado) e estar cursando a partir do segundo semestre de um curso de bacharelado presencial e reconhecido pelo MEC. O programa também requer disponibilidade para viajar de novembro a março e para morar com estudantes de outros países.
Tem custo?
Sim, o da viagem: cerca de US$ 1.000 pela passagem aérea (ida e volta), US$ 185 de visto, US$ 95 por mês de seguro-saúde internacional (exigido pela Disney) e assessment fee (US$ 431, em 2023), um pagamento antecipado das duas primeiras semanas de acomodação.
Com três meses de seguro, a conta bate nos US$ 1.900 (ou R$ 9.580, no câmbio a R$ 5,04). Sem extravagâncias, as outras despesas (demais semanas de acomodação, lazer, alimentação, passeios) podem ser cobertas pelo seu salário da Disney.
Qualquer curso universitário é aceito?
Sim, mas a experiência é mais proveitosa para ganhar experiência em turismo, hotelaria, gastronomia, relações internacionais e administração.
Onde e como é o processo seletivo?
Em 2023, as palestras e entrevistas da primeira etapa aconteceram em escritórios da STB em Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio de janeiro e São Paulo. Os candidatos aprovados nesta fase realizam as entrevistas da segunda etapa em São Paulo, no escritório da Disney – quem não mora na cidade tem de arcar com essa viagem.
Quanto tempo dura o programa? Dá para esticar a estadia?
O intercâmbio dura de dois a três meses (a critério da Disney) e é sempre entre novembro e março, em datas estipuladas pela empregadora. Terminado o contrato, o visto de trabalho J-1 Summer Work and Travel permite que o estudante fique por mais um mês nos Estados Unidos como turista – o chamado grace period. É comum os jovens utilizarem o dinheiro economizado para “tirar férias” e viajar pelo país nesse mês extra.
Como é o trabalho?
Você pode atuar em qualquer um dos seis parques da Disney: Magic Kingdown, Epcot, Hollywood Studios, Animal Kingdown, Blizzard Beach e, o mais recente da lista, ESPN Wide World of Sports Complex. Além destes, é possível trabalhar nas dezenas de hotéis, restaurantes e lojas que fazem parte do complexo Walt Disney World. Trabalham-se, no mínimo, 30 horas por semana, carga que pode aumentar dependendo da função, do local de trabalho e da época – no Natal e no Ano-Novo, a lotação dos parques estende a jornada dos cast members.
Funcionário da Disney: as funções dos cast members na produção da magiaQuem escolhe o seu cargo é a Disney, mas os recrutadores levam em conta os interesses dos candidatos. “Eles só não gostam quando suas opções são muito restritivas”, diz Tales Roder, que passou no processo e dá a dica para a entrevista. Se você for aprovado, mas não gostar da vaga, pode desistir do programa. Antes, familiarize-se com as principais funções: Attractions: Cuidam das filas na entrada dos parques e nos brinquedos e controlam a multidão nas paradas. A função tem muito contato com os visitantes (bom para o inglês), mas a responsa com segurança é grande. Character Attendant: Testemunha de momentos mágicos dos visitantes, a função é dar suporte aos personagens: você deve auxiliar os character performers a se locomover (as roupas tiram a visibilidade), controlar as filas de quem quer conhecê-los e ajudar os fãs a tirar fotos. Character Performer: É quem incorpora os personagens, tira fotos e dá autógrafos. Além de ser um papel mágico, programa 30 minutos de descanso para cada 30 de trabalho. A escolha, criteriosa, avalia o uso da linguagem corporal na interpretação do personagem. Os escolhidos também precisam ter medidas específicas, mas só experimentam a roupa em Orlando: se não servir, acabam em outra função; se servir, precisam suportar o calor da fantasia, a visão limitada e a comunicação restrita a gestos. Custodial: Quase qualquer função envolve limpeza em algum nível, mas só o custodial troca papéis higiênicos e esvazia lixeiras, além de recolher o lixo do chão das áreas comuns. Como circulam pelo parque, são abordados pelos visitantes, bom para a conversação, mas andam bem e carregam peso. Merchandising: Trabalham nas lojas como vendedores, caixas e, numa função mais solitária, estoquistas. Costumam fazer mais horas extras (e ganhar mais), mas lidam com dinheiro e produtos que valem dinheiro. Quick Service: Em lanchonetes e carrinhos, cuidam do preparo da comida, do atendimento e da limpeza. Rende horas extras, mas é puxado. Life Guard: No Blizzard Beach ou em um dos resorts, é preciso saber nadar bem (há um rigoroso teste ao chegar em Orlando) e estar disposto a ficar longos períodos passando frio do lado de fora das piscinas. A principal função é monitorar os visitantes nadando, atender primeiros socorros e manter a área limpa. |
Tem muitas regras?
Além do controle de atrasos e faltas, existe o chamado Disney Look, que regula tanto a estética quanto as atitudes dos colaboradores. Independentemente da função, os cast members devem ser sempre amigáveis e solícitos com os visitantes.
Entre as proibições, não podem usar o celular no expediente nem deixar à mostra tattoos ou piercings. Os meninos devem fazer a barba; as meninas, evitar makes e esmaltes chamativos. Para ambos os sexos, são vetados cortes de cabelo “extravagantes”.
Todos são submetidos a testes aleatórios de drogas. Os menores de 21 anos também passam por testes de bebidas alcóolicas e, se forem pegos bebendo, são sumariamente demitidos.
O salário é bom?
Desde US$ 16 por hora. Como a Disney garante no mínimo 30 horas de trabalho semanais, dá US$ 480 pelo período ou mais. Porém, passadas as duas semanas de acomodação que você deixou pagas, as seguintes são descontadas do salário.
O valor varia com a quantidade de pessoas no apartamento – em 2023, ficou entre US$ 191 e US$ 246, por pessoa. Assim, sobram pelo menos US$ 234 semanais para alimentação, lazer, compras e o transporte (quando não incluído).
Como é a acomodação?
A Disney oferece o condomínio Flamingo Crossing Village para os cast members. Os apartamentos são divididos entre meninos e meninas, menores de 21 anos e maiores. Cada unidade (para até quatro pessoas) reúne sala, cozinha e suítes individuais ou duplas. A lavanderia é coletiva do condomínio.
E o transporte?
Como as acomodações são distantes, a Disney circula ônibus o tempo todo aos parques, diários ao Walmart e semanais ao shopping mais próximo. São grátis e passam na porta dos condomínios – que, em alguns casos, ainda têm ponto de ônibus perto (embora o transporte público seja ruim).
E a alimentação?
A Disney não dá auxílio. No backstage dos parques, há restaurantes para funcionários com comida variada (de sandubas a pratos congelados, mas não em bufês) a preços amigáveis. Os cast members também encontram micro-ondas para esquentar a própria refeição. Nos apartamentos, fazem sucesso as comidas congeladas, mais baratas e convenientes, mas há quem cozinhe.
Posso desistir no meio do intercâmbio?
Pode, mas seu contrato e visto de trabalho serão cancelados: você não apenas perderá o grace period como terá de se virar para voltar ao Brasil até o dia seguinte.
Vou ganhar dinheiro?
Se isso for fundamental, priorize as funções de merchandising e quick service, que geram mais horas extras. Mas, mesmo em outra vaga, é raro ganhar só o mínimo – o salário cobre as despesas do dia a dia, de lazer e, às vezes, de roupas, eletrônicos ou a trip do grace period.
Só não conte com a viagem inteira paga (incluindo passagens, visto, seguro). Aproveita mais quem vai com o foco de aprender e curtir, e não de guardar dinheiro.
Terei tempo para o lazer?
Os cast members têm, no mínimo, um dia de folga semanal, além das horas livres antes e após o expediente. Nesses períodos, entram em todos os parques da Disney sem pagar e passeiam livremente dentro e fora de Orlando.
Vale a pena para conhecer a Disney?
Ter acesso grátis aos parques é uma boa economia. Se esse for o objetivo maior, prefira os trabalhos ao ar livre, como custodial e attractions, ou que permitam trabalhar em vários parques, como character attendant.
Ajudar a construir essa magia é o lado oposto de quem viaja apenas para se deslumbrar, mas ter acesso aos dois lados é uma oportunidade que nenhum ingresso dá: os intercambistas acabam indo aos parques (inclusive nas horas vagas) mais que qualquer turista.
Meu inglês vai melhorar?
Depende do nível de contato da sua função com o público. Os character performers, por exemplo, só se comunicam com as crianças por gestos. As conversações em inglês são mais garantidas nos condomínios, entre os estudantes de várias partes do mundo, e no cotidiano em Orlando.
Os depoimentos de quem já fez o Cultural Exchange Program“Não passei na segunda fase e me desesperei, mas houve desistência e fui chamada, depois, para ser character performer. Foi demais! Você interage com as crianças e faz parte da magia. A única parte ruim era o calor dentro da roupa. Ainda consegui juntar uma graninha para um celular.” – Gabriela Bueno, estudante de turismo, 22 anos “Fui custodial no Magic Kingdom e adorei. Erguer sacos de lixo era cansativo, mas eu gostava de poder andar pelo parque. Como eram no mínimo 44 horas semanais, juntei dinheiro para a minha viagem a NY.” – Giovanna Penteado, estudante de turismo, 23 anos “Atuei como merchandising em 15 lojas dos parques. Nunca era monótono, a interação com diferentes nacionalidades aperfeiçoou meu inglês e ver tantas dinâmicas de socialização foi útil para o meu curso.” – Julia Mahy, estudante de psicologia, 22 anos |
Na expectativa: o processo de seleção, mês a mês, para se planejar já
Março/Abril
Em data a definir, as inscrições são liberadas no site da STB. Comece a pensar nas funções que gostaria de desempenhar e providencie, para a entrevista, o currículo em inglês e uma foto 3×4.
Maio/Junho
É chegada a primeira etapa do processo seletivo. A STB organiza palestras para apresentar o International Cultural Program (ICP) aos candidatos e, ao final de cada evento, distribui as senhas das entrevistas.
Feitas em inglês, em duplas, têm como objetivo conhecer o candidato, seus interesses no programa e o domínio do idioma. Os mais simpáticos, comunicativos e articulados costumam levar vantagem sobre os acanhados e lacônicos.
Julho
O resultado da primeira etapa é divulgado. Se for aprovado, prepare o passaporte e o comprovante de matrícula assinado pela faculdade.
Agosto
Os recrutadores da Disney vêm ao Brasil para a segunda fase, e ser fã do complexo não os convencerá: será preciso demonstrar muita disposição para trabalhar e as habilidades necessárias para algumas funções.
Setembro/Outubro
Os escolhidos recebem a proposta de trabalho com a função para a qual foram aprovados, o salário e as datas do programa. Têm uma semana para aceitar e pagar o assessment fee, após o qual recebem o documento que oficializa o intercâmbio – o mesmo que será usado para obter o visto J-1 Summer Work and Travel. Hora também de comprar as passagens e contratar o seguro de saúde.
Novembro/Dezembro
Com tudo em mãos, os embarques começam. Em Orlando, os estudantes seguem para os apartamentos e tiram a foto do crachá. Em seguida, há uma recepção, palestras e treinamentos.