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Totalmente Lost

Que mistérios esconderia uma ilha deserta perdida no Oceano Índico, repleta de coqueiros e cercada por um mar azul e cristalino?

Por Adriana Setti
Atualizado em 16 dez 2016, 09h13 - Publicado em 13 set 2011, 17h36

O inferno são os outros. Portanto, nada melhor do que um lugar com a menor quantidade de “outros” – especialmente quando munidos de jet ski, crianças com assaduras e bolas que insistem em bater na sua cabeça — para chamar de paraíso. Talvez por isso a imagem de uma ilha deserta protegida por uma circunferência de mar azul cristalino e povoada apenas por coqueiros e mata virgem seja o que muitos de nós associamos ao ideal de férias.

Essa reflexão surgiu quando cheguei a Kadidiri, uma ilha remotíssima, pequena e cercada por águas absurdamente azuis no Arquipélago de Sulawesi, na Indonésia. O paraíso na terra? Vejamos. Seja qual for a sua idealização de éden, não podemos nos esquecer de acrescentar algumas doses inevitáveis de realidade. Por mais sozinho que você esteja, jamais estará livre da companhia dos seres que coabitam os paraísos tropicais: aranhas, cobras, baratas, ratos, esquilos, mosquitos, e por aí vai. Isso sem falar na possibilidade da ausência dos mais básicos dos confortos do mundo moderno: água doce corrente e energia elétrica.

Em Kadidiri havia água doce na torneira uma ou duas horas por dia. Mas às vezes não rolava. Havia energia elétrica a partir do pôr do sol até as 23 horas. Mas às vezes não rolava. Enfim, num lugar em que a infraestrutura depende de meia dúzia de indonésios que se movem em câmera lenta, tudo pode não rolar.

Aluguei um bangalô charmosinho, com varanda e rede, num dos únicos hotéis da ilha, o Black Marlin (62-856/5720-2004, www.blackmarlindiving.com). No meio da noite, acordei com um barulho estranho. Vasculhei o quarto com a minha lanterna e não vi nada. O ruído recomeçou. Acendi a lanterna, e nada. As lembranças do filme Atividade Paranormal começaram a me assombrar. Até que vi a silhueta de um rato descendo sorrateiramente da mesa (por mais limpo e bonitinho que fosse o nosso quarto). E não é que o desprezível roedor estava devorando o nosso precioso estoque de bombons?

Eu poderia ter ficado histérica. Mas, em vez disso, preferi deixar que os dois cães dos donos do hotel dormissem no nosso quarto nas demais noites e nunca mais armazenei comida. Dias depois, encontrei um caranguejo em cima da cama, e, em outra ocasião, uma aranha de um palmo.

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Relaxe ou sofra. Eu prefiro relaxar. E continuo achando que o paraíso tem mesmo a cara de uma ilha deserta, ainda que com pitadas irrevogáveis de realidade.

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