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Tintos, brancos e muito verde

Pelos arredores de Santiago há mais vinícolas com rótulos premiados do que sonha a sua vã adega – e conhecê-las é uma grande razão para ir ao <strong>Chile</strong>

Por Cris Capuano
Atualizado em 16 dez 2016, 08h40 - Publicado em 16 Maio 2012, 17h05

Pressionado pelas grandes vinícolas gaúchas, o governo brasileiro estuda criar cotas de importação para o vinho de países que não pertencem ao Mercosul, como o Chile. Se isso acontecer, é bem provável que os carménères e cabernet sauvignons do vizinho fiquem mais caros. Esse pode ser o argumento que você procurava, se procurava algum, para conhecer in loco os vinhedos chilenos. O Chile é enorme, tem deserto no norte e geleiras no sul, mas, para visitar as regiões viníferas, não é preciso andar mais que 200 quilômetros. Sétimo produtor mundial de vinho, quinto maior exportador do produto, o país desenvolveu rótulos celebrados por sommeliers e críticos renomados. Talvez você já tenha ido a Santiago e tomado metrô e táxi para visitar a propriedade da Concha y Toro (e visto a pantomima do Casillero del Diablo). Agora a hora é boa para procurar os produtos, digamos, mais butique. Dá para ir de trem, ônibus ou carro, em viagens perfeitas para um fim de semana slow travel, um fim de semana totalmente Sideways no Chile (veja sugestões de roteiros pelas vinícolas chilenas no miniguia desta edição).

Digamos que você queira ir a Valparaíso ou à Praia de Algarrobo. O caminho pela Ruta 68 já passa obrigatoriamente por Casablanca, cidade e vale que valem a visita. Influenciada pela corrente de Humboldt, vinda do Pacífico, a região é comparada às áreas de vinhedos da Califórnia. As brisas são fescas, as bebidas também. Para Casablanca vai quem gosta de vinho branco e também das uvas tintas, pinot noir e syrah. Sommeliers sempre elegeram a cabernet sauvignon como a grande uva chilena, mas a última vedete é a syrah – e quem atesta é a respeitada revista Wine Spectator. A edição de março destaca o vinho Syrah San Antonio 2008, da Matetic, vinícolada região, que ganhou 92 pontosdos 100 possíveis nas últimas avaliações. A Matetic não produz apenas um syrah excepcional; ela tem um lindo hotel-butique, o La Casona, onde o hóspede é recebido pelo sommelier e é convidado a explorar a área em caminhadas, como a que leva ao Morro Bahamontes, que tem vista para o Pacífico e para a Cordilheira dos Andes.

Em outro roteiro, se você deixa Santiago e segue pela Panamericana no rumo sul, são duas horas e 178 quilômetros até o Vale do Colchágua. São maisde 30 vinícolas distribuídas entre as cidades de San Fernando e Santa Cruz, grande parte delas concentrada em torno da Carretera del Vino. Há vinícolas que transpiram tradição com suas sedes coloniais, como a Casa Silva, de 1892. Seguindo na direção do mar, a sudoeste, passa-se pela região de Lolol, onde está uma vinícola construída mais para o turismo do que, aparentemente, para a produção, a Viña Santa Cruz. O lugar tem passeios de teleférico, centro astronômico e vistas cinematográficas. Tudo é obra do magnata Carlos Cardoen, que é também responsável por outra atração da região, o Museo de Colchagua, que exibe sua coleção de peças de povos pré-colombianos. “O Don gosta de colecionar”, disse seu ex-professor Thomas Moore, de 74 anos, que é quem cuida do observatório astronômico da vinícola e me mostrou os meteoritos do acervo.

Costelinha na vinícola Matetic, no Chile

Costelinha na Matetic

De volta às coisas mais terrenas, as duas grandes estrelas do Vale do Colchágua são vizinhas. Uma é a Vila Montes, onde me vi às 10 da manhã degustando a primeira taça de vinho do dia. Confesso que bebo, sim, mas estou longe de ser uma perita em buquês e retrogostos. Mas me emocionei com o Purple Angel, da Montes, uma mistura da carménère com a petit verdot – esta uma uva escura de origem de Bordeaux, hoje muito cultivada na Espanha. A safra 2007 do Purple Angel rendeu elogios e o adjetivo “mastigável” do crítico de vinhos americano Robert Parker, o mais influente do mundo. A taça custa cerca de US$ 12 na loja, e você pode tomar no café da entrada da vinícola ou na degustação do tour premium. Ali, 300 barris de carvalho fancês são ninados com canto gregoriano. “Toca 24 horas por dia”, contou-me o chefe de turismo da vinícola, Guillermo Silva. “É para levar boas vibrações ao vinho.” Não bastasse, a bodega ainda foi construída seguindo fundamentos arquitetônicos do feng shui, para a energia fluir.

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A outra vizinha de que eu falava é a Casa Lapostolle, de Alexandra Marnier Lapostolle. Uma dama bem francesa, que, para Robert Parker, “é a maior visionária do mundo do vinho nos últimos 25 anos”. Em sua vinícola, as visitas são restritas a 30 pessoas por dia. O lugar dispõe também de um hote lcom padrão de conforto Relais Chateaux. Não são suítes, mas casinhas lindas, exclusivas e luxuosas. Por ali, até o funcionário de macacão e chapéu, que passa de bicicleta, parece ter sido contratado só para deixar a paisagem imaculadamente verde, sem defeitos. Não deve ter sido casual que a safra 2005 do Clos Apalta, da Lapostolle, tenha ganhado o título de melhor do mundo em 2005 entre os carménères, segundo a Wine Spectator. José Hugo, administrador de empresas de São Paulo, que também integrava o meu tour, quis levar uma garrafa para casa. “Esgotadas”, resumiu a guia.

Na Lapostolle, pensei no que havia lido no Descorchados, o mais importante guia de vinhos do Chile, sobre o Valedo Colchágua. O autor, Patricio Tapia, dizia que uma das coisas que amava em seu trabalho era “deparar com a estranha conexão entre a personalidade de um vilarejo e os vinhos que são produzidos dentro dele”. Para Tapia, os vinhos daquela região “refletem não só o terroir, mas também o aspecto cálido e sereno de sua gente. Eu vivia um momento de rara serenidade, felicidade, pode-se dizer até, e o vinho devia ter algo a ver com isso.

Veja na próxima página como chegar ao Chile, quem leva e dicas de transporte

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Chile (DDI 56)

COMO CHEGAR

A Gol (4003-7000, voegol.com.br), com saídas de Guarulhos, tem a tarifa mais barata, desde US$ 168. Voam também do Galeão a TAM (4002-5700, tam.com.br) e a LAN (0800-7610056, lan.com), desde US$ 249 e US$ 299 respectivamente.

QUEM LEVA

A Designer (11/2181-2900, deignertours.com) tem pacotescom três noites em Santiago e duas no La Casona, em Casablanca, desde US$ 1 673. A Flot (11/4504-4544, flot.com.br) tem pacotes de três noites em Santiago, com duas noites no Hotel Santa Cruz Plaza, mais um bate e volta para a Conchay Toro, desde US$ 1 900. A Agaxtur (11/3067-0900, agaxtur.com.br) tem duas noites em Santiago, uma no Colchágua e uma no Vale de Curicó (ao sul do Colchágua), desde US$ 1 748. Em Santa Cruz, a Ruta del Vino (72/823-199, rutadelvino.cl) organiza passeios por 14 vinícolas da região, desde US$ 194, para duas pessoas, com traslado. A Vinos de Proa (vinosdeproa.cl) organiza o mesmo tipo de passeio pelo Vale de San Antonio. A empresa também tem roteiros enogastronômicos (nos quais os turistas provam as iguarias favoritas dos poetas chilenos) que visitam a Isla Negra, onde está a Casa de Neruda, e vinhas como a Matetic ou a Casa Marín. Em Santiago, a CTS (chileantravelservices.com) leva a todos os vales de van.

Estrada no Chile

O caminho do vinho tem rodovias bem conservadas

TRANSPORTE

Se você alugar um carro, desde US$ 34 na Budget (2/690-1233, budget.cl) e desde US$ 40 na Hertz (2/360-8600, hertz.cl), poderá escolher a sua rota do vinho. Mas tome cuidado com a polícia, que é muito rígida e está pegando no pé dos motoristas por causa da nova lei seca do país. Com 0,3 mg/l de álcool no sangue, considere-se borracho – melhor pernoitar nas vinícolas. Prefere os trilhos? Saiba que o tradicional Trem do Vinho está desativado, mas dá para ir de Santiago a San Fernando (tmsa.cl; US$ 3,70). De ônibus, o trecho entre Santiago e Santa Cruz demora duas horas e meia (2/7761139, busesnilahue.cl; US$ 8).

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DINHEIRO

O real tem força: a cada R$ 1, você tem CLP 260,42. Se sua cabeça pensa em dólar, saiba que US$ 1 vale CLP 487,19.

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Maio de 2012 – Edição 199

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