A travessia foi longa. Depois de subir 1 437 degraus, tropeçar em pilastras de aço e sentir o chão balançar com a passagem do trem lá embaixo, eu finalmente chegava ao topo da Harbour Bridge, a ponte de ferro arqueada, ícone da paisagem local. De onde eu estava, a 134 metros de altura, a cidade se revelava: a imponência branca da Opera House, o verde vívido do Royal Botanic Garden, o vaivém das balsas no Circular Quay, o skyline de arranha-céus. Depois de tanto esforço (a hora de caminhada para chegar ali foi bem mais suave do que o voo de 18 horas desde São Paulo), Sydney e eu, enfim, éramos apresentadas.
Estar lá trouxe à tona uma sensação de vitória pessoal de quem conseguiu chegar ao outro lado do mundo – experiência que não ocorre sempre. Mas pode vir a acontecer mais. A Austrália melhorou muito a vida dos brasileiros que querem conhecê-la ao simplificar o processo do visto. Cerca de 29 mil brasileiros estiveram no país em 2011 – metade a lazer. O visto agora é online, mas sujeito a problemas. Eu mesma caí numa “malha fina” que me custou muita dor de cabeça e dinheiro não previsto – repórter da VT também sofre. Novos voos da aérea chilena LAN, com poucas horas de espera em Santiago, igualmente tornaram a rota acessível: eu voei com a tarifa superpromocional de R$ 850.
Ao chegar a Sydney, a primeira impressão que tive era a de não estar em um país de colonização ocidental, mas em uma cidade oriental a se ocidentalizar. Placas e outdoors estavam em inglês, claro, mas pelas ruas era nítida a predominância de chineses, taiwaneses, sul-coreanos, malaios. Foi mais fácil encontrar um restaurante tailandês do que uma pizzaria. Essa faceta ficou evidente em um almoço no Fish Market, um dos mais importantes mercados de peixe do mundo. Restaurantes comandados por asiáticos servem iguarias marinhas, algumas bizarras. Aprendi com a família chinesa na mesa ao lado como se tomava a sopa com o giant crab: arrancando as patinhas com a mão e lambuzando a cara toda
Mas deixemos os orientais e suas extravagâncias de lado. É inconcebível, num primeiro contato com a cidade, pular a Opera House, uma das construções mais famosas do mundo. Suas formas são admiráveis, e a história por trás delas também. Em 1956, o projeto do arquiteto dinamarquês Jorn Utzon era tão arrojado que ninguém o colocava em prática. A obra só foi concluída em 1973. Mas Utzon, desgostoso com o processo, já havia se picado do país. O prédio tem seis auditórios onde ocorrem concertos e espetáculos. Ali é sede da Opera de Sydney, da Orquestra Sinfônica e da Companhia de Teatro, cuja diretora é a atriz Cate Blanchett.
O ar vintage do The Rock, um dos mais antigos bairros de Sydney – Foto: Diomedia
Se a ideia é tirar a foto definitiva de Sydney, com a Harbour Bridge e a Opera House no quadro, siga para o Royal Botanic Garden, nas costas do Circular Quay. No gigantesco parque, a pequena península chamada de Mrs. Macquire Point guarda as melhores vistas para a Baía de Sydney. Mas no quesito “vista” é difícil bater a Sydney Tower, o arranhacéu mais alto da cidade, com 250 metros de altura. Para subir ao último andar, é preciso pagar um ingresso salgado (AUD 25); por isso, considere tomar uns drinques ou jantar no 360, restaurante giratório que fica no topo da Tower. No térreo do prédio está o Westfield, shopping repleto de grandes grifes, como Prada e Chanel. Vale também andar pelo bairro, o CBD (de Central Business District), para ver coisas como o Queen Victoria Building, prédio de 1898, que conserva a arquitetura de época.
Party night
Com microssaias, saltos altíssimos e decotes profundos, os vários grupos de amigas de 20 e poucos anos que circulavam à noite pelas ruas de King Cross não deixavam dúvidas: balada é assunto sério em Sydney. O bairro lembra a paulistana Rua Augusta. De antigo antro de prostituição e de tipos suspeitos, King Cross virou “cult”. Pelas ruas, sempre lotadas de turistas, rola um clima de vale-tudo: baladas da moda ao lado de inferninhos; patricinhas going wild e garotas de programa dando pinta nas calçadas, além de beberrões abatidos pelos próprios excessos. Excessos, só que da parte dos policiais, que tiraram a vida do intercambista brasileiro Roberto Laudisio, de 21 anos, em março deste ano. Ele saiu de uma noitada na King Cross e morreu ao receber disparos das armas de choque dos policiais.
Do outro lado da cidade, a noite não é menos animada no Darling Harbour, um imenso píer revitalizado para as Olimpíadas de 2000. Em um processo análogo ao de Puerto Madero, em Buenos Aires, a área portuária abandonada se tornou um complexo fancy, com lojas, restaurantes, bares e baladas. Mesmo para quem não vai cair na náite, bater pernas pelo burburinho do píer de madrugada, sentindo a brisa do mar, é uma delícia. Vá de dia também: ali fica o Sydney Aquarium, com mais de 11 mil bichos marinhos, inclusive tubarões de até 3 metros de comprimento. Ao lado está o Sydney Wildlife World, um minizoo cujo principal destaque é o café da manhã com fofíssimos coalas. Há ainda outra atração, a versão aussie do famoso museu de bonecos de cera Madame Tussauds, aqui dedicado a locais como Nicole Kidman e Cate Blanchett.
Vai dar praia
Bondi Beach (diga “bondai”) figura na lista das praias mais famosas do mundo – é a Ipanema dos sydneysiders. Apesar de estar só a 8 quilômetros do centro, parece um balneário remoto: penhascos, vegetação no entorno da praia, gente de chinelo… No alto verão, a praia, de alma sexy, vibrante, lota de surfistas, turistas, turmas, famílias. Mas cuidado com o Pacífico, que aqui contradiz o nome. Ele arrebenta em ondas imensas, para alegria dos surfistas e desespero dos salva-vidas. Estes resgatam tantos banhistas que desde 2006 também estrelam o Bondi Rescue, programa de TV-verdade que mostra o dia a dia deles na praia. A menos que você queira fazer uma ponta no programa, respeite as zonas demarcadas pelas bandeirinhas.
No canto direito da praia, as duas piscinas olímpicas de água salgada do Bondi Iceberg Club compõem uma das paisagens surreais de Sydney. As ondas quebram com violência contra as rochas – isso quando não acabam invadindo a piscina. Impressionante. Ser sócio do Iceberg é uma questão de honra para os homens da cidade. Para se filiar, é preciso passar por um ritual de iniciação: durante cinco anos, os candidatos têm de nadar todos os domingos ali, principalmente no inverno. Para os turistas, é só pagar AUD 5 e cair na água. No último andar, há um restaurante envidraçado com linda vista para a praia. No mirante onde está o Iceberg tem início um dos passeios mais legais de Sydney: a caminhada de 5 quilômetros entre as praias de Bondi e Coogee. Como a costa é cheia de penhascos, há uma passarela de madeira, o Coastal Walk, que contorna as escarpas e passa por praias como Bronte e Tamarama.
O delicioso passeio pela Coastal Walk – Foto: Diomedia
Em outra direção, a afastada Manly é, depois de Bondi, a praia queridinha dos brasileiros na cidade. Não faltam anúncios de cheese bread e de capoeira lessons. O melhor jeito de chegar é com o ferry que parte do Circular Quay a cada meia hora. O trajeto, com vista da Opera House e da Harbour Bridge, já vale o passeio. Foi na volta de Manly que eu percebi que já sentia saudade de Sydney mesmo estando lá. Aproximava-me do porto quando as luzes da cidade começaram a se acender, fazendo o skyline cintilar como pisca-pisca de Natal. Nessa hora, mais do que apenas apresentada, tive a certeza de estar sendo acolhida por Sydney, como tantos imigrantes antes haviam sido. Eu ia regressar ao Brasil, mas entendi quem deciciu ficar.
Veja na próxima página o GUIA VT de Sydney, com dicas de hotéis, restaurantes e atrações
:. GUIA VT DE SYDNEY .:
O DDI de Sydney é 61 + 2. Em setembro, AUD 1 valia R$ 2,11
FICAR
A parte “turística” de Sydney é relativamente compacta; por isso, f ique próximo ao Circular Quay ou ao Darling Harbour. Se preferir algo mais descolado, aposte em Surry Hills ou King Cross. O destaque do ano é a reforma de US$ 68 milhões do Park Hyatt (7 Hickson Road, sydney.park.hyatt.com; diárias desde AUD 900), colado à Harbour Bridge e com vista para a Opera House. Com uma pegada de hotel-design, o Blue Sydney (6 Cowper Wharf Road, tajhotels.com; diárias desde AUD 230) faz parte da Taj, rede indiana de hotéis de luxo. Sem firulas, o Cambridge Hotel (212 Ryley Street, cambridgehotel.com.au; diárias desde AUD 149), em Surry Hills, tem preço bom e quartos confortáveis. Bem colorido, o Wake Up! Hostel (509 Pitt Street, wakeup.com.au; diárias desde AUD 34) nem parece albergue: fica em um prédio no centro e tem quartos privativos (AUD 118).
COMER
A cidade vive a invasão dos chefs-celebridades: a grande estreia é o Momofuku Seiobo (80 Pyrmont Street, momofuku.com), primeira casa do chef estrelado David Chang fora dos Estados Unidos. Aposta em uma cozinha fusion com elementos asiáticos e locais (menus degustação desde AUD 100). O Jamie’s Italian (107 Pitt Street, jamieoliver.com/italian), do chef-gracinha Jamie Oliver, vale pelo custo/benefício: ambiente cool e pratos desde AUD 20. O vietnamita Xage (333 Crown Street, xage.com.au) é bem moderninho e serve receitas apimentadíssimas. Para se sentir um sydneysider, pare em um café: o Bourke Street Bakery (633 Bourke Street, bourkestreetbakery.com.au) é pequeno e tem quiches deliciosas; e o Bill’s Restaurant (359 Crown Street, bills.com.au) ganha no quesito pão de ricota com banana.
PASSEAR
Escalar a Harbour Bridge é um dos passeios mais procurados: a Bridge Climb (bridgeclimb.com; desde AUD 198 pelo roteiro de duas horas) é a única que organiza os tours. Para conhecer mais sobre a história da Opera House (sydneyoperahouse.com), vale participar dos tours guiados (AUD 30), que levam ao interior da construção. Recémaberto depois de uma reforma de AUD 53 milhões, o MCA Australia (140 George Street, mca.com.au) é dedicado à arte contemporânea. O museu fica em The Rocks, primeiro bairro de Sydney. Ele ainda conserva o ar antiguinho, com ruas de paralelepípedos e sobradinhos. Além das praias, a vida ao ar livre em Sydney conta com áreas verdes, caso do Hyde Park e do Royal Botanic Garden, repleto de morcegos. Para ver coalas e cangurus, há várias opções: o Taronga Zoo (taronga.org.au; AUD 44), que é um zoológico mais tradicional, e o Featherdale Wildlife Park (featherdale.com.au; AUD 27), a 45 minutos de Sydney, onde os cangurus andam livremente e os coalas posam para fotos com os visitantes. Uma graça! No Darling Harbour, há ainda o Sydney Aquarium (sydneyaquarium.com.au; AUD 30) e o minizoo Wildlife Sydney (wildlifesydney.com.au; AUD 35).
DOCUMENTOS
Desde fevereiro é possível tirar o visto de turista pelo site immi.gov.au. Preencha o formulário Subclasse 676 e pague a taxa de AUD 115. Se aprovado, o visto eletrônico (não tem carimbo no passaporte) é emitido em até dez dias úteis.
TRANSPORTE
Se você for ficar mais de uma semana, compensa adquirir o My Multi Weekly, passe que custa AUD 43 e dá direito a usar ilimitadamente ônibus, metrô, trem e ferry por sete dias.
COMO CHEGAR
A viagem mais rápida é via Santiago com a LAN (lan.com; desde US$ 1 961) ou via Buenos Aires com a Aerolíneas (aerolineas.com.ar; desde US$ 1 547). Outras opções são a Emirates (emirates.com; desde US$ 1 837), com parada em Dubai, e a South African (flysaa.com; desde US$ 1 438), com conexão em Johannesburgo.
QUEM LEVA
A Kangaroo (kangarootours.com.br) tem um roteiro de seis noites desde US$ 2 824, com city tour e passeio de barco. Pela Intravel (intravel.com.br), dá para combinar três noites em Sydney e três em Melbourne, desde US$ 3 918. De luxo, o pacote da Raidho (raidho.com.br) tem nove noites em hotéis top de Sydney, Melbourne e Ayers Rock, desde US$ 6 487 (sem áereo).
Veja na página anterior a reportagem Sydney, muito prazer completa
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