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Spa, doce spa

No 7 Voltas, melhor spa do Brasil no Prêmio VT, Ricardo Castanho descobriu que a vida lá é muito boa. Mesmo com 600 calorias por dia

Por Ricardo Castanho
Atualizado em 16 dez 2016, 09h09 - Publicado em 17 set 2011, 17h36

Foi-se o tempo em que spas funcionavam apenas como internatos de obesos desregrados. Hoje, outros motivos que não a perda de peso levam centenas de pessoas a se hospedar em estabelecimentos desse tipo, como a tentativa de aliviar o estresse da vida moderna, a correção de maus hábitos alimentares e a chance de mergulhar em uma infinidade de tratamentos relaxantes e estéticos. Os números provam que, como muitos de seus (velhos) clientes, o segmento não para de engordar. Quase mil spas operam no país, cerca de 200 deles em resorts. A Associação Brasileira de Clínicas e Spas, criada em 2002, vale ela mesma como balança: no ano passado, a organização viu seu número de associados triplicar.

Se novas razões despertam o interesse das pessoas por spas, a deste editor de gastronomia do GUIA QUATRO RODAS, com quase 3 mil refeições em restaurantes na bagagem, seguia a mais velha de todas: perder alguns quilos em poucos dias. Foi com esse intuito que me hospedei por uma semana no 7 Voltas Spa Resort, em Itatiba, a 98 quilômetros de São Paulo, eleito o melhor spa do Brasil no Prêmio VT 2010/2011 e também o melhor do país na edição 2011 do GUIA BRASIL.

O 7 Voltas, é bom que se diga logo, em nada se parece com um spa médico, pelo menos aquele do tipo linha-dura. Ninguém revista sua bagagem em busca de guloseimas escondidas, o regulamento é parecido com o de um hotel convencional, não há proibição de eventuais escapadas de seus limites territoriais, não existe nenhuma política de repressão ao tráfico de alimentos e a dieta servida é de 600 calorias diárias – parece muito pouco, mas corresponde ao dobro da do spa médico onde fiquei em 2002, o Spa Med Sorocaba Campus. No terceiro dia lá ainda descobriria que não seria punido, muito menos constrangido, ao fazer algo que num spa médico poderia ser considerado crime gravíssimo: encomendar um misto-quente tarde da noite pelo serviço de quarto. “Mas pode fazer isso?”, perguntei a uma hóspede que me serviu de modelo. “Claro. Aqui não é um campo de concentração”, respondeu a moça, que também tinha o hábito de repetir a sobremesa do jantar e armazenava barras de chocolate em sua mala para as horas de aperto. Infelizmente, ou felizmente, só soube desses expedientes tarde, quando já lidava com a avassaladora fome noturna de uma maneira bem mais prosaica: dormindo muito cedo.

Deitar cedo, aliás, era ótima estratégia para encarar com bom humor um dos raros momentos em que o 7 Voltas lembrava um acampamento de escoteiros. A menos que tal prática fosse vetada pelo hóspede, monitores batiam de porta em porta às 7 da manhã para acordar os spasianos. Era a hora de tomar café e se preparar para a caminhada matinal. Alimentada (furto-me a usar o adjetivo “bem” no início da frase), a trupe partia de ônibus para áreas rurais próximas, em que o hóspede escolhia caminhar 5 ou 7 quilômetros, supervisionado por professores de educação física e com pontos de apoio com toalhas e água à vontade.

Mas respirar ar puro e ter contato com belas paisagens também era privilégio daqueles que fugiam das caminhadas matinais. O 7 Voltas ocupa um belo terreno de 85 mil metros quadrados de área repleta de árvores e de jardins bem cuidados. Bancos, redes e espreguiçadeiras espalhados pelo hotel concorrem deslealmente com outras atividades físicas estimuladas pelo spa ao longo do dia, como a ginástica praticada em uma academia montada num amplo quiosque, onde há quatro esteiras com minitelas de TV a cabo. Além dela, os hóspedes mais animados nadavam na grande piscina ao ar livre cercada por palmeiras, faziam hidroginástica na piscina térmica coberta, bailavam nas aulas de dança de salão, andavam na mandala no meio dos jardins, jogavam tênis. As aulas de equitação são pagas à parte. Fã de esportes de impacto, senti falta de uma quadra poliesportiva e de um campo de futebol mais caprichado.

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Com o pet amigo

Com meu marcador de combustível calórico sempre perto da reserva, consegui estabelecer a marca de duas atividades físicas por dia, intercaladas por longos cochilos, leituras em redes e passeios com o meu cachorro (quem não gosta de bichos deve fugir de lá; os que adoram vão encontrar muita receptividade, estrutura de canil e acessórios para os pets). E se tirar uma soneca parecia ser o esporte comum de todos os spasianos, o ócio total devia ser o grande objetivo de vários deles, que ignoravam a programação de atividades físicas pesadas e montavam um roteiro com sessões de hidromassagem nas duas banheiras coletivas do spa, estágios na sauna e um rodízio de massagens terapêuticas e estéticas. Eu também encarei com prazer seis dos 30 itens do menu do centro de fisioterapia e estética. Posso dizer que achei as profissionais bem competentes, mas senti falta das últimas novidades do setor, como as terapias vinoterápicas. No 7 Voltas, há apenas um ofurô de vinho.

Ociosos ou não, todos eram iguais à mesa e ninguém pulava nem a gelatina diet servida no lanchinho entre o café da manhã e o almoço. No quesito alimentação, a verdade é que o 7 Voltas consegue deixar até crítico gastronômico feliz. Preparar três refeições agradáveis totalizando 600 calorias diárias é, para mim, um milagre; cumprimentos à nutricionista e à equipe de cozinha do spa, que evitam carboidratos no jantar e carne bovina em geral. Está certo que meu primeiro prato principal, um hambúrguer de soja com molho rosé, não foi nada animador e que não havia os menus francês e japonês prometidos no site. Mas comi vários pratos elogiáveis, caso do medalhão de berinjela com quatro queijos, e, quem diria, até umas sobremesas diet gostosas, como a musse de manga e o abacaxi em calda com creme de coco. Tão boas quanto algumas emoções transmitidas pelas receitas foram as sensações extra pratos. O restaurante do 7 Voltas é a antítese do clima hospitalar que domina muitos spas, notadamente os spas médicos. O jantar ocorre à luz de velas e é embalado por um pianista, o que mostra que romantismo e até mesmo sexo podem ser estimulados nesses ambientes.

Se na cozinha quase tudo ia bem, o mesmo não se pode dizer dos quartos do tipo standard, os mais comuns. Embora confortáveis, carecem de mobília mais nova e equipamentos como ar-condicionado silencioso e com controle de temperatura. Afinal, se o spa se diz também resort – e cobra diária desde R$ 758, condizente com o título -, ele deve ter suas acomodações comparadas com o que há de melhor na hotelaria do país.

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Poréns à parte, o 7 Voltas brilha com um serviço bem afinado e ancorado em algo infelizmente raro na hotelaria brasileira: a participação de corpo e alma do dono. A proprietária e residente Myrian Abicair é figura fácil nas áreas comuns do spa, sempre escoltada pelos yorkshires Bóris e Babi, dois dos mais de 100 cães que ela cria no lugar. Myrian faz suas refeições no restaurante, supervisiona tudo de perto e contribuiu muito para transformar o 7 Voltas numa espécie de Ilha de Caras da baixa caloria. O último grande evento celebrado no espaço foi o mais recente casamento da apresentadora de televisão Adriane Galisteu, que fechou o spa para os seus 400 convidados. Não tive assento nessa festa, mas os 5 quilos que perdi em uma semana foram motivo de grande comemoração em família. Uma pena tê-los recuperado pouco tempo depois, em 38 testes de restaurantes repletos de fritura na Baixada Santista e no litoral catarinense.

TESTE DE VIAGEM

7 Voltas Spa Resort

Rodovia das Estâncias (SP-360) para Amparo, km 93, Jardim Leonor (8,5 km do Centro de Itatiba), 11/4534-7800, www.setevoltas.com.br; diárias desde R$ 758; Cc: A, D, M, V; Cd: M, R, V.

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Quartos (bom)

Os standard não podem ser classificados como espaçosos, mas contam com boa varanda, cama queen-size e TV de tela plana de 29 polegadas com amplo pacote de canais por assinatura. Falta um ar-condicionado mais silencioso e uma mobília menos calejada pelo tempo. Nas suítes tipo luxo, ótima área e visual mais moderno. Quatro têm hidro.

Refeições (bom)

A maior qualidade do spa. Dentro das fortes limitações das dietas de baixa caloria, a equipe responsável pela comida conseguiu proezas elogiáveis, com derrapadas em uma ou outra receita.

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Lazer e Atividades (bom)

A estrutura de lazer é eclética e tem como diferenciais as aulas de equitação, a academia ampla e as boas piscinas. O brasileiro típico sentirá falta da quadra poliesportiva e de um campo de futebol menos improvisado. Para quem quer pegar no pesado, não faltam atividades físicas durante todo o dia. O centro de fisioterapia e estética tem estrutura enxuta, menu clássico de tratamentos e profissionais competentes.

Serviço (bom)

A reserva foi tranquila e não deixou dúvidas no ar. No spa, do mensageiro à dona, todo mundo se mostrou solícito e bem informado. Deslizes menores na falta esporádica de funcionários no bar e nas áreas mais distantes da sede.

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