Sol, mar e uma garrafa de rum: conheça Cancún, Cuba e Jamaica
No problem, man! Em Cancún, em Cuba e na Jamaica, três dos mais queridos destinos caribenhos para os brasileiros, a gente só quer é ser feliz
CANCÚN
Uma ilha em forma de 7
Quando a principal dúvida do dia se restringe a ter de escolher entre uma Ocean View e uma Premium Ocean, pare tudo. Talvez a sua vida esteja passando por um de seus grandes momentos. Eu guardo bem esse instante, tanto que me lembro do nome do maleteiro que nos explicava as vantagens de uma e de outra suítes e de como os US$ 60 de upgrade naquela baixa temporada não eram nada. Absolutamente nada. Darío, era assim que ele se chamava, discorria sobre as vantagens dos quartos, que ficavam lado a lado no sexto andar do hotel de seis andares.
A Ocean View, como o nome indicava, tinha vista de frente para o oceano – e não de lado, como a nossa primeira opção, uma Garden View (que, portanto, tinha vista para o garden). Darío prosseguia. A suíte vizinha, a Premium Ocean, custaria um pouco mais. Mas não muito. Mais ampla que a anterior, ela tinha, além do quarto com cama king-size e aquela mesma vista, uma antessala e duas televisões de 32 polegadas. Televisões que você não iria ver, a não ser quando apagassem lá fora o dia e o mar hipnotizantes em suas dezenas de camadas de cor azul. Ficamos com a primeira. Já estava de bom tamanho.
Nossa passagem por Cancún concluiu uma longa viagem pelo México, com outras seis cidades e muitos meios de transporte pelo caminho. Chegávamos um pouco cansados. De troca de hotel, de mudanças de temperatura, de repetições e variações de cardápio. Chegar a Cancún foi como encontrar um lugar perfeito para… Bom, deixa primeiro eu contar como é chegar a Cancún. Vínhamos de carro pela 307, a carretera federal que acompanha a Riviera Maia de Tulum até Cancún, ou vice-versa, a depender de como se olhe o mapa. Essa chegada, vale dizer, é a mesma para quem vem de avião e segue em carro alugado ou transfer. Portanto, não se preocupe: veremos as mesmas coisas. Depois do trevo do aeroporto, você vai seguindo as placas: “Zona Hotelera”. Não tem erro nem alternativa. Você passa uma ponte sobre o Canal Nizuc, e começa o deslumbre. A avenida, a Boulevard Kukulcán, é um tapete feito de asfalto com um canteiro de palmeiras, muitas palmeiras, no meio. Você desliza.
Do lado esquerdo, vamos vendo postos de abastecimento, clubes, restaurantes. Tudo com vista para uma lagoa de água azul-esverdeada. Do direito, uma sequência de resorts gigantescos – um deles em forma de pirâmide. Você ainda não enxergará o mar, mas imensos gramados verdes, aparados impecavelmente. Sentirá talvez esse cheiro, o de grama cortada. Sentirá possivelmente o aroma e o frescor de uma brisa salgada. Logo, logo você encontrará o seu lugar, o seu resort. E, quando chegar ao seu quarto, vai começar a entender como funciona a coisa toda, assistindo do alto, como num Google Earth particular.
Adeus, Wilma
A Kukulcán é a principal artéria da Zona Hotelera, o outro nome da Isla Cancún, um pedaço de terra cercado de água doce e salgada por quase todos os lados. Essa ilha tem 23 quilômetros de comprimento e a curiosa forma de um “7”. É separada do continente pela Lagoa Nichupté e ligada a ele por duas pontes. Tudo parece tão meticulosamente calculado que a ilha logo passa a sensação de ter sido construída por alguém. E foi mesmo, pelo governo mexicano, que nos anos 1970 transformou um vilarejo de pescadores em um grande complexo turístico. Hoje é um dos balneários mais importantes do mundo.
No Prêmio VT, em que os leitores desta revista elegem os melhores destinos nacionais e internacionais, Cancún reina como o melhor destino de praia do exterior desde que a categoria foi criada, em 2004. Ou seja, foi campeã oito vezes. Essa lembrança se reflete nos números de visitação. Em 2007, 10 mil brasileiros aterrissaram em Cancún. No ano passado, foram 53 mil (entre janeiro e outubro), segundo o Escritório de Turismo de lá. O sucesso atual encerra uma história recente difícil com dois capítulos marcantes. Em 2006, a passagem do furacão Wilma, um dos mais devastadores que já varreram a costa do Atlântico. Em 2009, a epidemia de gripe A – o México foi um dos sete países considerados de risco. Para um balneário que costuma receber 3 milhões de turistas por ano (metade deles americanos), ambos foram golpes duríssimos. Com a gripe, a taxa de ocupação dos hotéis caiu para 5%. Com o furacão a história foi mais grave: destruiu os megarresorts, desapareceu com a areia de praia.
Lembrávamo-nos de Wilma enquanto tomávamos um esplêndido café da manhã no La Capilla Argentina, uma autêntica parrilla que das 8 horas ao meio-dia se transforma num bufê chique variado: US$ 20 o café completo, com direito a todos os pratos quentes (incluindo fajitas, tortillas, tacos e nachos), além de sushis e sashimis, waffles e panquecas, ou US$ 15 o simples, só com suco, futas e cereais. Um dia antes preferimos atravessar os jardins do hotel e tomar um cappuccino com muffin na Seven Eleven colada a um posto de gasolina, de pé e rindo, por US$ 2 os dois.
Quem nos servia no La Capilla era Lázaro, um simpático garçom nascido em Chiapas, o estado mais pobre do México, que trabalhava em Cancún havia mais de 15 anos. Olhando para fora, Lázaro nos contou que, passados o aguaceiro e a ventania, todas aquelas espreguiçadeiras ficaram amontoadas, dentro e fora da piscina, como se fossem de papel amassado. As vidraças imensas foram estilhaçadas. As palmeiras, derrubadas. A praia sumiu. “O pior foi quando tudo passou e vimos o estado das coisas.” Sol lá fora, pessoas felizes de roupão e margarita na mão, o relato agora parecia surreal.
Para chegar rápido ao final feliz: dois anos e US$ 1,5 bilhão depois, Cancún estava reconstruída. Uma empresa belga responsável pela criação das ilhas artificiais de Dubai trouxe a areia de volta, tirando-a do fundo do mar. As praias, de Punta Cancún a Punta Nizuc, ficaram até mais largas. Depois do Wilma, ainda houve outros sustos; nenhum tão devastador. Nem sempre os meses mais propícios à formação de furacões, setembro e outubro, têm episódios semelhantes. Como uma compensação divina, no restante do ano o clima é generoso. A média é de 286 dias de sol.
Simples assim
A grande alegria em Cancún talvez seja a simplicidade das coisas. Não falo do rústico nem do barato, pois nenhuma dessas características se encaixa bem aqui. Digo do simples. Quão simples é deitar-se numa espreguiçadeira em frente à praia com um copo de margarita na mão e ficar olhando o mar até se cansar, e então mergulhar na imensidão daquele azul ou dar um cochilo e, quando a vontade de ficar lá passar, voltar às piscinas do hotel, não sem antes tirar a areia do corpo em um chuveirão com diâmetro maior do que a nossa própria circunferência, para então escolher uma das piscinas e ficar ali até ter vontade de alguma outra coisa? Simples. Como se tudo em Cancún tivesse sido pensado para o seu, o meu, o nosso conforto. E foi. E funciona.
No miniguia encartado nesta edição você encontra todas as outras atividades imperdíveis. Os passeios mais comuns. Os restaurantes mais bacanas. As compras que nos dão a sensação de estar fazendo verdadeiros bons negócios. Nós aproveitamos várias dessas coisas. Nos perdemos no La Isla Shopping Mall depois de uma porção gigante de nachos com cheddar no Blu, na praça de alimentação voltada para a Laguna Nichupté. Ela ficava ao lado, aliás, de uma Hooters, rede americana em que garotas de shortinho e meia-calça bege rodam bambolê para garotões embevecidos. Tomamos um drinque colorido no Hard Rock Café; ganhei uma inevitável camiseta.
Em outro dia, escapamos até Puerto Juárez, o lado B de Cancún, a antiga vila de pescadores onde tudo começou. Ali tivemos a chance de ver como vivem os locais. A praia que frequentam quando não trabalham. Os bares de sucesso (com mesas nanicas, cervejas geladas, tequilas que vão baixando de preço à medida que você vai ficando amigo do garçom, Célia Cruz cantando que a vida é um carnaval nos alto-falantes).
Na última manhã, quisemos ver o que havia passando Puerto Juárez. Já não encontramos cartazes de empreendimentos imobiliários. Nem pessoas. Nem outros carros. Já não aparecíamos nos mapas. Até que, depois de 15 quilômetros de nada, a imagem de uma caveira com tapa-olhos nos fez sair da estrada. Cabanas, um bar, um balanço, uns quiosques. Tudo abandonado. O píer, apodrecido, servia de apoio a pelicanos. A areia estava cheia de algas, como se ninguém tivesse pisado ali por séculos. Isla Blanca. Nos sentimos fora do tempo. Entramos naquele mar. Talvez a vida estivesse passando por outro de seus grandes momentos. (GABRIELA AGUERRE)
CUBA
Entre mojitos e lagostas
A motivação não era ideológica, admito. Eu só queria um lugar para passar o Réveillon que não fossem, de novo, as praias superpopulosas do Litoral Norte paulista e de Santa Catarina. A opção por Cuba teve muito mais a ver com azul-Caribe do que com princípios igualitários, Baía dos Porcos e o imaginário revolucionário. No meu pacote de uma semana, estavam, meio a meio, Havana e a ilhota de Cayo Largo, ao sul da Ilha de Cuba. Eu já imaginava o que esperava por mim em Havana, e desembarcar naquele cenário parado no tempo, portanto, não chocou. Senti-me como se andasse no Centro do Rio, ou da minha Santos, num dia de feriado. Não havia trânsito nem movimento, e o lindo casario ruía a olhos vistos. Logo no hotel, o Tryp Habana Libre (Calle 23 L, www.solmelia.com; diárias desde US$ 130), o país começou a mostrar suas peculiaridades.
Apesar de o Tryp ser de uma grande rede espanhola, o check-in foi próprio de um lugar dominado pela burocracia, onde o cliente jamais tem razão. O negócio demorou uma data, sem contar a má vontade da funcionária. Uma alternativa mais original é ficar no histórico Saratoga (www.hotel-saratoga.com; diárias desde US$ 360), num prédio belíssimo bem ao lado do Capitólio.
Se as construções de Havana não veem reformas desde os anos pré-revolucionários, é verdade que eles criam um ambiente delicioso, seguro e cheio de turistas. Vi e ouvi canadenses, espanhóis, alemães, italianos – todos fotografando aquele museu a céu aberto. Cuba deve ter também os melhores mecânicos do mundo, pois fazem rodar aqueles carrões americanos dos anos 1950 e os utilitários soviéticos Volga e Lada, que ajudam a compor um espetáculo e tanto em suas ruas. Para a primeira noite havíamos contratado, por livre e espontânea pressão de um guia, um show de uma das formações do Buena Vista Social Club no Café Taberna (Calle Mercaderes, 53, 53-7/861-1637). Não faltaram temas como Guantanamera e Chan Chan. Os “meninos” setentões mostraram a competência e a qualidade musical que se espera de uma banda cubana, e mais: interagiram com os turistas e não se furtaram às fotos. Comecei naquele bar minha caça ao melhor mojito de Havana, a caipirinha local.
Acordar cedo não é comigo, ainda mais de ressaca, mas o nosso guia, Alejandro Morales, não deu desconto no dia seguinte e apareceu na recepção do Tryp para nosso emocionante city tour. Analista de sistemas e filho de diplomata, ele, como tantos em seu país, sobrevive em outras funções. Como guia, consegue gorjetas que, como disse, “podem significar um mês de salário”.
Cuba tem médicos, professores, cientistas e outros profissionais de ponta que ganham muito mal e precisam encontrar formas alternativas de sobrevivência. E é nesse ambiente de estagnação que Alejandro enxerga o futuro. “Acho que vêm mudanças por aí. Raúl tem uma mentalidade mais jovem”, diz. O Raúl em questão é Raúl Castro, que, com seus 80 anos, não parece ser o dirigente que irá colocar o país no caminho da modernidade. Mas, se ele não reverter uma decisão de 1998, quando da visita do papa João Paulo II, já estará jogando a favor. Nessa época, pelo simples fato de não haver onde comer fora em Cuba, foi permitido às pessoas comuns montar os paladares, espécie de restaurantes informais, em suas casas. Hoje os moradores também podem alugar quartos para estrangeiros (consulte www.ohavanacasaparticular.com caso tenha interesse).
Meu début no mundo dos paladares foi no La Moneda Cubana (Calle Empredado, 152, 53/7-861-5304, www.lamonedacubana.com), aberto há um ano numa casa dos anos 1920 por Miguel Menéndez, outro dos milhares ou milhões de cubanos que adoram os brasileiros e acompanham diariamente Tony Ramos e Mariana Ximenes na novela Passione, ora em exibição no país. O couvert tinha pão com manteiga, servida em formato de flor. Depois a coisa ficou mais séria: lagosta, camarão e peixe com arroz branco. E ainda piña colada, cerveja e mojito, claro, tudo por cerca de US$ 25. Outra indicação é o Paladar San Cristóbal (Calle San Rafael, 469, 53-7/860-1705), com sua ótima lagosta. Faça reserva.
Entre a lagosta e o próximo mojito, você vai ser assediado ao andar pelas ruas. Cubanos pedem, gentilmente, dinheiro, sabonete, uma peça de roupa que você estiver utilizando. Para o meu guia e agora já consultor de assuntos internos Alejandro, “pura malandragem”. “Ou são estrangeiros que vieram para algum tratamento médico ou sujeitos que não querem trabalhar. Emprego tem.” A dependência de rum começava a bater. Hora de ir à famosa Floridita, o bar onde o escritor americano Ernest Hemingway fazia barba e cabelo e onde o daiquiri, bebida prima-irmã do mojito que ele adorava, sai por US$ 6. Há ali também apresentação de salsa.
Alejandro veio depois com suas questões de ordem para nos tirar dali. O argumento era bom: íamos à La Bodeguita del Medio, o lugar onde o mojito foi criado. O bar é daqueles dos quais não dá vontade de ir embora, apesar do aperto e das paredes pichadas. Ande sempre com dinheiro, pois mesmo os locais que dizem aceitar cartões de crédito no final alegam “problemas técnicos” para embolsar as verdinhas. Ficamos até a grana acabar e as pernas cambalearem. Na outra noite, pegamos mais leve e fomos ao restaurante La Torre (Calle 17, 55, piso 36, 53-7/832-5650), no bairro de Vedado, mais formal e romântico. Eles servem ali ótimas lulas fritas e um bom cordeiro com arroz e batata frita como prato principal. A vista é a mais bonita de Havana.
Cayo Largo
Cayo Largo, uma ilhota ao sul da Ilha de Cuba, está a apenas 25 minutos de voo de Havana, mas tudo pode ser mais lento se você tiver de voar com uma companhia aérea cubana – no meu caso, a Aerogaviota. A operadora que eu e meu grupo de amigos contratamos era especializada em Cuba e também em separar casais nos voos. Cada embarque era um tormento na hora de pedir aos comissários para mudarmos de lugar.
Na ilhota, nós nos hospedamos no Sol Cayo Largo (Cayo Largo del Aur, 53-45/24-8260, www.solmelia.com; diárias desde US$ 190), também da rede Meliá, em Playa Blanca, onde estão os outros resorts. Se o que você busca em Cuba é uma praia caribenha, hecho; mas exigir um resort de serviço dominicano, pernambucano que seja, melhor tentar em outro lugar. O Sol, talvez por ser pé na areia, tem areia até no quarto. Os funcionários parecem não folgar nunca – servem o café da manhã e tocam o ganzá nos shows noturnos. O esquema era all-inclusive, mas a comida era pouco generosa – talvez para entrarmos no clima nacional, no qual as severas restrições de abastecimento fazem parte do cotidiano.
Cayo Largo, com suas areias branquíssimas e seu mar azul que dá vontade de gritar, é a quintessência do Caribe. Para ir às praias Sirena e Paradiso, é possível alugar scooters (US$ 25 por dia). A estrada lembra a BR de Noronha, mais mal sinalizada. Paradiso tem um bar com uma atração bastante Miami para o gosto revolucionário: um banho de 20 minutos com dois golfinhos amestrados (US$ 90). No cardápio, mais lagosta (a melhor de toda a viagem, a US$ 11). Turistas europeus como vieram ao mundo faziam parte da paisagem. Vale muito a pena contratar o passeio de catamarã (consulte em seu hotel). A primeira parada é na Cayo Iguanas, cheia desses bichos. Depois há snorkeling num ponto cheio de peixes e visita a mais praias daquelas da tela de descanso do seu computador. O almoço é servido a bordo (eu mencionei lagosta?).
Se você acompanhou com atenção as primeiras linhas deste relato, deve se lembrar de que eu estava em Cuba para o Réveillon. E ele foi no Sol Meliá, com direito a máscaras de Carnaval e um céu estrelado que iluminou o caminho desde a praia até o resort após pularmos as sete ondas. Como havia mais brasileiros por ali e um deles trazia um rádio-CD portátil, demos boas-vindas a 2012 ao som de Tim Maia e Ben Jor. Creio ter visto umas garrafas de Carta Oro na areia. (SIMONE TOBIAS)
Rick’s Cafe, em Negril, Jamaica
JAMAICA
Sunshine days
“No problem, man.” A fase surgiu do nada, ou melhor, de um senhor jamaicano, à saída do aeroporto de Montego Bay, ao me ver confusa, sem saber em qual dos muitos ônibus ali estacionados subir. Meu sorriso deve ter saído particularmente amarelo com aquele calor e aquela umidade, mas isso não o inibiu de tocar meu braço, escancarar o sorriso e pontificar: “No problem, man. You are in Jamaica. Relax”.
Antes que você pergunte, “man”, em jamaiquês, vale para qualquer interlocutor, man ou woman. E “no problem”, bem, aquela foi apenas a primeira das centenas de vezes que ouvi a expressão no país. É um “idioma” que tem poucas fases, talvez três – as outras são “ya, man” e “respect”. Já fui três vezes à Jamaica e aprendi que não é nem um pouco difícil fazer o que o velho do aeroporto me aconselhou. Mas eu demorei a entrar no clima.
É que da primeira vez eu esperava encontrar um lugar similar ao Brasil, ainda que fosse pela cultura de praia ou pela musicalidade. Afinal, pode existir lugar mais autêntico para ouvir Bob Marley do que numa praia jamaicana? Mas, se One Love, Three Little Birds e Buffalo Soldier tocam o tempo todo nos hotéis, lojas e bares, ouvir reggae ao vivo em locais que não sejam pega-turista não é assim tão fácil. Nas praias, o que a gente vê são gringos – e jamaicanos ralando. O turismo, junto com o café, é uma fonte econômica relevante para o país. A taxa de desemprego ronda os 30%, mas mesmo assim o jamaicano vive numa “irie nation”, como dizem (“irie” é uma expressão local que significa algo como “feliz”).
Os jamaicanos têm um ponto quando dizem que seu país é a grande atração do Caribe. Não pelo tamanho – 11 mil quilômetros quadrados, uma fração da República Dominicana, por exemplo. Mas são pouco mais de 1 000 quilômetros de litoral, uma enorme quantidade de resorts all-inclusive e algumas cidades como Ocho Rios, Negril e Montego Bay, verdadeiros playgrounds para os caçadores dos sunshine days e das wild nights. E até para quem busca uma experiência mais antropológica a Jamaica tem algo a oferecer, já que o país possui claro protagonismo na cultura negra americana, como porto importante de desembarque de escravos que foi. Pena que sua capital, Kingston, com 600 mil habitantes (cerca de 20% da população), seja um lugar violento, conflagrado – o melhor é evitar. A Jamaica tem 42% de retorno de turistas, o maior do Caribe – e os americanos são os grandes responsáveis por isso.
Uma boa porta de entrada é Montego Bay, destino de grande parte dos pacotes e acessível via Estados Unidos e Panamá. MoBay é a grande balada da Jamaica. A orla está toda tomada por gigantescos resorts, e o restante da cidade se divide em feiras de artesanato, shoppings, restaurantes e bares com muita música – prepare-se para ouvir reggaeton 29 horas por dia. O babado é forte a ponto de fazer as festas da “spring break” (a semana do saco cheio) de Cancún parecerem encontro de religiosos – estou exagerando um pouquinho. Evite a tentação de alugar um carro. As estradas são ruins, a mão é inglesa, e o assédio de pedintes é enorme – você também não está livre deles se caminhar, a propósito. Por isso, é bem mais cômodo se juntar aos tours oferecidos nos hotéis.
Ocho Rios, a menos de 100 quilômetros de Montego Bay, é outro must go da ilha. A cidade está virando uma capital do turismo verde. Ali não param de surgir centros turísticos para a prática de esportes radicais ou nem tanto. É até possível descer de bobsled, aquela espécie de trenó no gelo (lembra do filme Jamaica Abaixo de Zero?), adaptado para o bosque tropical da Mystic Mountain (Ocho Rios Road, 1-876/974-3990, www.rainforestadventure.com; 9h/17h; US$ 68); nadar com golfinhos na Dolphin Cove (1-876/974-5335, www.dolphincovejamaica.com; 8h30/16h; desde US$ 129) e escalar as quedas-d’água que chegam ao Atlântico no Dunn’s River Falls (Dunn’s River Falls & Park, 1-876/974-2857, www.dunnsriverfallsja.com; 8h30/16h; US$ 20). Casais, famílias e amigos vão sempre de mãos dadas – um cartão-postal da Jamaica. No ano passado estreou o Fallmouth Port, porto construído em parceria com a Royal Caribbean para permitir ali a atracação dos maiores navios do mundo (como o Oasis of the Seas e o Allure of the Seas).
A 30 quilômetros, GoldenEye é outra atração. O lugar ficou famoso nos anos 1960, quando o autor Ian Fleming foi morar lá e escreveu todos os livros de um personagem bastante famoso: James Bond. A casa onde viveu Fleming pode ser alugada, mas há por ali também um dos resorts do produtor musical Chris Blackwell, célebre por comandar o selo independente mais famoso do mundo, o Island, onde estiveram de U2 a Grace Jones. Seu GoldenEye (www.goldeneye.com; diárias desde US$ 560) é hoje a hospedagem high end do país. Com suítes sobre uma lagoa privativa e propriedades em forma de villa (de um a três quartos cada uma, com mimos como banheira e ducha outdoor e piscina privativa) e rodeadas por jardins tropicais bem em gente ao mar, é o preferido de celebridades como Michael Caine, Kate Moss e Johnny Depp – que, por sinal, plantaram árvores de reflorestamento na propriedade em suas visitas. Refeições com toques orgânicos acontecem no Eden Dining, num deque com vista para uma lagoa, ou no Blue Bar, com vista para o mar.
Em um país cheio de praias do grande Caribe, é difícil montar um ranking das mais bonitas. Mas Negril, no oeste da ilha, é para muitos a hors-concours. Foi eleita a quarta mais bonita do mundo pelos usuários do site Trip Advisor, e para mim é a mais-mais da Jamaica. A imagem caribenha de cartão-postal: areia muito branquinha, água transparente (e morna), faixa larga de praia, peixinhos em abundância. É o cenário perfeito para uma outra atividade comum entre os turistas, o casamento. Os hotéis têm de cerimônias mais íntimas, pé na areia, até festanças completas para noivos, famílias e convidados. Não faltam ambientação, fotógrafos, pétalas de rosa na areia, bolos gigantes, juízes, religiosos etc. A rede Sandals (www.sandals.com) é uma das mais ativas nesse negócio.
Seja qual for a razão para ir a Negril, vá ao Rick’s Cafe (West End Road, 876/957-0380, www.rickscafejamaica.com), que funciona desde os anos 1970, quando Negril era uma mera vila de pescadores. Construído no alto de um penhasco, fica lotado todos os fins de tarde com turistas esperando o alaranjadíssimo pôr do sol com uma cerveja Red Stripe na mão. Gente menos contemplativa e os garotos locais preferem se jogar da ponta do penhasco direto no mar azul-turquesa, 12 metros abaixo. Quando a noite cai, o ambiente mais familiar dá lugar à típica noite jamaicana, com música ao vivo e eletrônica.
Aos poucos os turistas estão descobrindo outros dois lugares, Port Antonio e Whitehouse. A última virou queridinha da hotelaria de luxo desde que o hotel Sandals Whitehouse se instalou ali. Já Port Antonio vem ficando famosa pelo birdwatching e pelo “community tourism”, no qual os turistas que querem fugir do modelo resortão se hospedam em hotéis pequeninos e pousadas low-profile. A estrada que leva de Kingston a Port Antonio, chamada no país de “caminho pelas montanhas”, está sendo reformada.
Se você se surpreendeu com a ausência da ganja (o nome local da maconha) e de sexo neste relato, saiba que, apesar da tradição no uso da maconha e da fortíssima presença dela no imaginário reggae, o consumo é proibido no país – e particularmente coibido entre os turistas. Quanto ao sexo, sim, a Jamaica tem seus famosos resorts Hedonism, onde a nudez é mandatória em várias áreas dos hotéis e cenas de conteúdo “adulto” acontecem à sua frente (ou com você). Mas existe uma discrepância entre o número de (muitos) homens e de mulheres que se hospedam nos resorts – a ponto de a terceira mulher de um grupo não pagar. E, para não dizer que eu não falei de Jah, se você quiser homenagear seu maior propagador, Bob Marley, dê uma passadinha no Museu Bob Marley (56 Hope Road, 876/927-9152, www.bobmarleyfoundation.com; 2ª/sáb 9h30/16h; US$ 20), em Kingston, na casa onde o ídolo viveu. Ali, fãs se emocionam com a cama deixada desarrumada, a velha guitarra e um filme sobre seus últimos dias. (MARI CAMPOS)
Negril, Jamaica
GUIA VT
CANCÚN
Como chegar
Não há voos diretos para Cancún. A Aeroméxico (0800-8917512, www.aeromexico.com) voa via Cidade do México, desde US$ 1 405. A Copa (0800- 7712672, www.copaair.com), via Cidade do Panamá, voa desde US$ 1 374. Já a Lan (0300-7880045, www.lan.com) leva via Lima e Cidade do México, desde US$ 2 025. A TAM (0800-5705700, www.tam.com.br) vai à capital mexicana, desde US$ 1 455. De lá, vá a Cancún de Aeroméxico (desde US$ 264).
Quem leva
A Nascimento (0800-7741110, www.nascimento.com.br) tem seis noites no Flamingo Cancún com traslados e city tour, desde US$ 1 466. A CVC (11/2191- 8911, www.cvc.com.br) tem seis noites no all-inclusive Oasis Palm Beach, desde R$ 1 788. A Agaxtur (11/3067-0900, www.agaxtur.com.br) tem seis noites no all-inclusive Fiesta Americana, desde US$ 2 074. A ADV (11/2167-0633, www.advtour.com.br) tem seis noites no Oasis, desde US$ 1 958. A Intravel (11/3206-9000, www.intravel.com.br) tem seis noites no Moon Palace, all-inclusive, desde US$ 2 869. A Flot (11/4504-4544, www.flot.com.br) tem três noites em Cancún e seis em cidades com sítios arqueológicos maias, desde US$ 2 356
CUBA
Como chegar
Não há voos diretos para Havana. A Copa voa via Cidade do Panamá, desde US$ 1 073; a Taca (0800-7618222, www.taca.com), por Lima, desde US$ 1 251.
Quem leva
A Sanchat (11/3017-3140, www.sanchattour.com.br) tem quatro noites em um all-inclusive de Cayo Largo mais outras três em Havana, desde US$ 2 652. A Éden (11/3258-1133, www.edentours.com.br) tem duas noites em Varadero, duas em Cayo Largo, em all-inclusive, e duas em Havana, desde US$ 1 999. A Varadero (11/3258-7477, www.varadero.com.br) tem duas noites em Havana, outras duas em all-inclusive em Varadero e quatro em all-inclusive em Cayo Largo, desde US$ 1 832. A New Age (11/3138-4888, www.newage.tur.br) tem duas noites em Havana, duas em Cayo Largo e outras duas em Varadero, em all-inclusive, desde US$ 1 750.
JAMAICA
Como chegar
Não existem voos diretos para o país. Voe via Panamá ou Estados Unidos (neste caso, é necessário o visto americano). A Delta (11/4003-2121, www.delta.com) vai a Montego Bay via Atlanta, desde US$ 3 636. A American (0300-7897778, www.aa.com.br), por Miami, voa desde US$ 1 769. Pela Cidade do Panamá, a Copa (0800-7712672, www.copaair.com) leva a Kingston, desde US$ 1 238.
Quem leva
A CVC tem sete noites em allinclusive em Montego Bay, desde US$ 2 148. A Sanchat tem sete noites no all-inclusive Sandals Montego Bay, desde US$ 2 701. O roteiro da Soft Travel (11/30179999, www.softtravel.com.br), de seis noites, no all-inclusive Beaches Negril Resort & Spa, custa desde US$ 3 173. Em Ocho Rios, a ADV tem sete noites no all-inclusive Riu, desde US$ 2 579. A SVT (11/2959-4435, www.svt.com.br) tem três noites em Negril, três em Montego Bay e outras três em Ocho Rios (all-inclusive em todas, exceto em Negril), mais dez diárias de carro econômico, desde US$ 2 499.
DOCUMENTOS
Para ir ao México, preencha e imprima uma autorização no www.inm.gob.mx/index.php/page/ Solicitud_de_Autorizacion_Electronica/pt-br.html. Ou use seu visto americano. Já Cuba exige visto (R$ 45). Em São Paulo, peça ao Consulado (11/3873-2800); em Brasília, à Embaixada (61/32484517). É preciso ter reserva em hotel e passagens aéreas. O visto jamaicano só é exigido para quem fica mais de um mês.
MELHOR ÉPOCA
O segundo semestre é a época dos furacões no Caribe – o que não quer dizer que eles aconteçam todos os anos. Em Cancún, considere (ou evite) o “spring break”, no fim de março, quando universitários americanos vão à farra.
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Fevereiro de 2012 – Edição 196
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