Ao passear pela cidade, você entra em uma das muitas livrarias da rua e pede indicações ao livreiro da casa. Ele já conhece seu gosto e recomenda uma obra que sabe que vai agradar. Mais adiante, você passa por uma loja de discos e confere os últimos CDs da sua banda favorita. Um pouco mais à frente, a locadora oferece clássicos do cinema e os maiores blockbusters da temporada. Um passeio pela década de 1990? Nada disso, essa é a rua Fernandes Tourinho, no coração da Savassi, uma das principais regiões de Belo Horizonte, em pleno 2017.
“Essa é uma rua privilegiada, um espaço de convivência e amizade”, resume Claudia Masini Tonioni, uma das proprietárias da Quixote Livraria. Hoje, a Fernandes Tourinho pode ser comparada a uma plataforma multimídia de literatura, música e vídeo, mas é por conta dos livros que ela é conhecida como “rua das livrarias”. O #hellocidades, projeto da Motorola que estimula novas experiências nos espaços públicos, apresenta esse lugar que reúne algumas das livrarias de rua mais icônicas da capital.
Muitos desses lugares se misturam à história do bairro e agora incentivam a troca de experiências e uma conexão ainda maior com a cidade. Uma das admiradoras desse universo de dois quarteirões (entre as avenidas Cristóvão Colombo e Getúlio Vargas) é a comerciante Priscila Miranda. “Aqui é um lugar central, de muito movimento. Sempre que passo pela rua a caminho de um compromisso aproveito para visitar alguma livraria. Gosto muito da possibilidade de poder pedir indicações para pessoas que entendem do assunto, já comprei vários livros assim e adorei a leitura”, conta.
Pessoal e personalizada
Para Cláudia, as livrarias de rua são espaços de aconchego que permitem que as pessoas se conectem umas às outras e compartilhem experiências e conhecimentos. “É um respiro você poder encontrar um lugar onde não é mais um”, diz a livreira. Ela conta que o pedido de indicações é muito comum e que os clientes confiam bastante nas referências dos livreiros. “Depois a pessoa volta, fala o que achou, discute o livro com a gente e até acaba levando mais um”, relata.
É justamente esse atendimento personalizado que faz com que muitas pessoas ainda prefiram comprar nas livrarias de rua, em vez de optar pelos e-commerces ou pelas megastores de shoppings. À frente da livraria Scriptum há mais de vinte anos, Welbert Belfort, o Betinho, explica que alguns clientes até gostam de comprar pelas redes sociais da loja, mas até mesmo a abordagem online ocorre de forma mais íntima, graças ao contato mais próximo que acontece na loja física.
“O grande diferencial é o atendimento, o conhecimento aprofundado dos livros e autores e a possibilidade de encontrar obras raras e de temas específicos. Muita gente não se contenta só com o virtual e precisa da materialidade da loja física, da possibilidade de diálogo que existe aqui”, explica o livreiro. Betinho ainda ressalta que Belo Horizonte — principalmente a região da Savassi — tem uma grande tradição com livrarias de rua que servem como pontos de encontro.
Espaços de convivência
A Fernandes Tourinho possui diversos espaços para tomar um café — sejam eles administrados pelas próprias livrarias ou em estabelecimentos próximos a elas. Por causa disso, há sempre um lugar disponível para uma conversa leve com os amigos, ou uma reunião breve de trabalho. E até mesmo para quem faz home office mas prefere sair de casa.
Pelas mesinhas nas calçadas da Fernandes Tourinho é possível observar diversas confrarias com grupos bem variados, em todos os dias da semana. “Como sou autônomo, eu sempre marco minhas reuniões em locais públicos, e aqui é um ambiente muito convidativo, estimulante e de fácil acesso”, elogia o arquiteto Pedro Morais.
Além das livrarias do Ouvidor, Quixote e Scriptum, esses quarteirões tão especiais ainda oferecem ao público de BH a Livraria João Paulo II, uma loja especializada em obras didáticas (com foco na troca de livros usados), a Acústica CDs e a ArtVídeo, uma raríssima locadora de filmes que resiste ao passar do tempo.
Em 2015, os frequentadores da região se assustaram com uma faixa que anunciava o fechamento da locadora, patrimônio da rua desde 1993. Afinal, o estabelecimento ocupava um grande espaço no quarteirão. Atualmente, a loja segue firme em um espaço mais compacto e de fácil manutenção. A proprietária Marilene Lisboa conta que a casa carrega ainda uma freguesia fiel, formada principalmente pelo público mais velho e pelos amantes do cinema, em busca de filmes que não podem ser encontrados nas plataformas de streaming.
Na ArtVídeo, as capas dos filmes dividem o espaço com antiguidades como vitrolas, vinis, telefones antigos e máquinas de escrever (todos à venda) e também com um pequeno acervo de quadros variados. “Aqui as pessoas encontram alguns filmes do lado B, o que tem muito a ver com a cultura da rua de um modo geral, que tem esse clima mais intelectual”, repara Marilene.
Livro na rua
É aos sábados que o caráter agregador da região fica ainda mais visível. A Livraria do Ouvidor leva algumas estantes para a calçada e aposta em eventos pontuais para estimular a presença do público, que é sempre significativa.
“De vez em quando fazemos uma feirinha com obras a preços especiais. É uma opção de lazer bem democrática, um passeio cultural e saudável, ao ar livre”, menciona Bernardo Bittencourt, atual responsável pela livraria fundada por seu pai. A primeira loja foi aberta em 1970 na Galeria do Ouvidor, no Centro da cidade (daí o nome). E a filial da Savassi surgiu quatro anos depois, logo na esquina da rua Fernandes Tourinho com a avenida Cristóvão Colombo.
Os lançamentos de livros são bem frequentes na rua — acontecem praticamente toda semana. Esses momentos são propícios para divulgar novos autores, principalmente os mineiros, mas também para trazer nomes de fora para perto do público belorizontino.
Bernardo Bittencourt destaca ainda que as crianças costumam acompanhar os pais nesses passeios e também são grandes fãs da literatura. Por isso, a casa hoje tem quase metade do espaço separado para os livros infantis, prática que se repete na Quixote Livraria. “É muito importante para ajudarmos a formar novos leitores”, pondera Claúdia.
Em setembro de 2017, a Fernandes Tourinho recebeu um festival voltado para a incentivar a ocupação da cidade com a literatura. Durante três dias, o Festival Livro na Rua abrigou contações de histórias, rodas de debates, shows de música e várias outras formas de arte que atraíram muita gente para curtir o espaço público. Apesar de concorrentes, as livrarias da rua têm relação saudável, que faz com que todas se fortaleçam ainda mais, ao invés de se enfraquecerem.
Então, que tal seguir esse clima de trocas e compartilhar um dia na rua das livrarias com os amigos? Conecte-se com a cidade e marque a #hellocidades em seus posts nas redes sociais. Redescubra Belo Horizonte em hellomoto.com.br.