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Roteiro rodoviário – Bocaina e Mantiqueira Fluminense

Um passeio por cidades com ótima preservação, cheias de histórias e atrativos naturais

Por Fernando Leite
Atualizado em 3 ago 2017, 21h01 - Publicado em 24 abr 2012, 18h15

O Vale do Paraíba leva esse nome por separar as duas cadeias de montanhas que o ladeiam: a Serra da Mantiqueira e a Serra do Mar, que nesse trecho é mais conhecida como Serra da Bocaina. Se é fato que as cidades às margens da Via Dutra desenvolveram-se com a construção da rodovia, também é verdade que esse crescimento contribuiu para a derrocada de várias cidadezinhas situadas mais longe, na antiga rota entre São Paulo e Rio de Janeiro. No saldo da história, os turistas ganharam locais bem preservados e com acesso a muitos atrativos naturais. Um ótimo roteiro na estrada que pode ser feito por paulistas e cariocas.Apesar de não pertencer à Bocaina ou Mantiqueira, comece o roteiro pela singela São Luiz do Paraitinga. Para chegar lá é só seguir pela Via Dutra até Taubaté e pegar a Rodovia Oswaldo Cruz. Ainda se refazendo da terrível enchente de 2010, parte do colorido Centro Histórico já foi recuperado. Caminhar por suas ruas estreitas é uma diversão. Na hora do almoço, estômagos corajosos não dispensam um afogado, prato típico da região, onde pedaços bovinos são assados por duas horas e servidos na companhia de um molho bem condimentado. O prato vigoroso harmoniza com uma boa cachaça. E quem gosta de caminhada com direito a muitos banhos pode encarar a Trilha das Sete Cachoeiras.Não é preciso voltar à Via Dutra para seguir adiante. Pegue a SP-153, na saída de São Luiz do Paraitinga, na direção de Cunha. Na metade do caminho, aproveite o banho da Cachoeira Grande. Os atrativos naturais da região ganharam um reforço de peso a partir da década de 1970, quando ceramistas se instalaram na cidade. As peças confeccionadas em fornos de alta temperatura se tornaram o cartão de visitas de Cunha e, de certa forma, incentivaram a presença de muitas pousadas charmosas. Não deixe de subir a Pedra da Macela – uma empreitada fácil: há calçamento até o cume – para apreciar a vista de Paraty e da Ilha Grande.Prepare-se para atravessar o trecho rodoviário mais cênico da jornada. Um mar de montanhas surgirá por uma estrada tranquila: poucos veículos cruzam este caminho, que passa por Campos de Cunha, Bairro das Colinas e termina em Silveiras. Só é preciso ter um pouco mais de cuidado nos 16 quilômetros de terra entre Campos de Cunha e Colinas. São José do Barreiro, o próximo destino, é um dos lugares retratados no livro de contos Cidades Mortas (1919), de Monteiro Lobato. Há pouco para fazer no centrinho, então siga para curtir as atrações do Parque Nacional da Serra da Bocaina, 28 quilômetros de estrada de terra acima. Se você tem um mínimo de amor ao seu veículo, considere contratar os serviços da agência local, que tem um transporte mais adequado para transpor as crateras da estrada. Dentro do parque nacional, os carros são proibidos. A recompensa da viagem aparece na forma de picos com vistas sensacionais e cachoeiras volumosas, porém com água bem fria, inclusive no verão.No caminho para Bananal, um almoço que vale a viagem. Em Arapeí, siga por uma estradinha de terra (quatro quilômetros) até o Restaurante da Dona Licéia, numa fazenda da zona rural. Aliás, todo mundo na cidade sabe onde fica, nem é preciso placa. Capitaneada pela própria Licéia e sua família, a refeição começa com uma degustação de patês e queijos, passa pelo prato principal (frango caipira, truta da serra ou pato criado na fazenda) e termina num enorme bufê de sobremesas.Após a orgia gastronômica, em 15 minutos chega-se a Bananal. Ao observar as construções do Centro Histórico e as fazendas do ciclo cafeeiro, é quase impossível não sentir uma sensação de déjà vu. Provavelmente você nunca esteve aqui, mas a explicação é bem simples: a cidade foi cenário de diversas produções televisivas. Só a Fazenda Boa Vista, que funciona como hotel, apareceu nas segundas versões das novelas Cabocla e Sinhá Moça como a residência dos barões do café.Encerrada a etapa Bocaina, siga até Barra Mansa e entre à esquerda na movimentada Via Dutra. Saia da rodovia no trevo de Penedo, mas deixe para conhecer a cultura finlandesa local na volta, prosseguindo montanha acima em direção a Visconde de Mauá. O asfalto agora chega até a entrada da vila, terminando com o martírio de subir aquela estradinha de terra estreita e cheia de ziguezagues. É verdade que para circular entre as vilas de Mauá – Maringá e Maromba – ainda é necessário encarar uma terrinha. Antigo reduto de hippies, a previsão é que Mauá receba muito mais visitantes no inverno (cosmopolitas que tinham receio do acesso), fortalecendo ainda mais o título de principal destino para casais da Mantiqueira fluminense. Fondues e trutas são presenças garantidas nos menus dos restaurantes, quase todos com lareira e à luz de velas. A cada canto, acha-se uma pousadinha com chalés. Uma vez que tomar um banho de cachoeira é quase um suicídio no inverno, porque não subir a Pedra Selada e ter uma visão 360º da região? Ou apenas curtir o acervo de motos e bicicletas do Museu Duas Rodas.De volta aos pés da Mantiqueira, Penedo foi o local escolhido pelos finlandeses para uma colônia em 1929. O legado está na gastronomia escandinava, no baile típico nas noites de sábado e nas saunas secas, presentes em qualquer pousada, por mais simples que sejam. Bom local para compras, a Pequena Finlândia mostra uma réplica da casa do Papai Noel que faz a alegria da garotada.Ao lado de Penedo, Itatiaia tem no parque nacional homônimo sua única mas grande atração. Criado em 1937, o primeiro do país, o Parque Nacional de Itatiaia tem duas áreas completamente distintas. Na parte baixa, com acesso pela Via Dutra, concentram-se as geladas piscinas naturais do Rio Campo Belo, as cachoeiras e os hotéis. Nesse trecho, a vegetação é totalmente frondosa. Na estrada para Itamonte fica o acesso à parte alta, onde picos de mais de 2.500 metros de altitude desafiam os aventureiros a chegar no seu topo com uma vista de perder o resto de fôlego deixado na subida.LEIA MAIS:48 Horas em Visconde de MauáInverno de A a Z