Roteiro: 48 horas em Barcelona
Veja dica de passeios para 2 dias na Catalunha, em cores góticas, modernas e azul-grená
Atualizada em 07/08/2015
À primeira vista, Barcelona pode despertar sentimentos contraditórios. Mas quem a visita não se decepciona e acaba se apaixonando. Das sombras do Bairro Gótico à amplitude de Montjuic, do colorido modernismo à arejada e alegre cozinha, a Catalunha é uma Espanha diferente, que passa ao largo dos estereótipos do flamenco e touradas. Aqui, você admirará a arquitetura orgânica de Antoni Gaudí e a arte que sai dos pés da esquadra Blaugrana. É arrebatador.
Há duas formas de conhecer Barcelona. Uma é tirar proveito do bom sistema de transporte público da cidade e conhecer o maior número possível de museus, parques e galerias, que são muitos. A outra é dedicar tempo em caminhadas e curtir a paisagem urbana. Apesar de 48 horas em Barcelona pressuporem muita correria, vamos optar por um passo mais lento, apreciando a cidade. Afinal, esparramada por uma agradável planície, é muito fácil andar por aqui e, com exceção feita aos bairro gótico e Montjuic, a orientação é muito simples.
Dia 1
Comece o primeiro dia com uma visita ao centenário Palau de la Musica Catalana, uma magistral obra do arquiteto Lluís Domènech i Montaner. Esta policromática sala de concertos é uma alegoria ao mundo da música, listada como Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Apesar do vidro ser apenas razoável para fins acústicos, ele foi utilizado sabiamente à exaustão no auditório central, o ponto alto das visitas guiadas tal é sua arrebatadora beleza. Este é um brinde certeiro de boas-vindas.
Do colorido dos vitrais, ganhemos a rua. Faça uma vagarosa caminhada pelas Ramblas, um calçadão arborizado e bem movimentado, que vai do coração da cidade ao porto. Aqui é o lugar perfeito para ouvir um pouco não só o idioma catalão, mas também o espanhol em suas mais diferentes faces e sotaques – loiros asturianos, andaluzes com um pé na cozinha árabe e um ou outro imigrante andino. Não há programa fixo por aqui: vá a um café e escolha uma mesa com vista para a rua, ofereça uns trocados para os malabaristas e estátuas-vivas, ou aprecie pequenos detalhes arquitetônicos e artísticos que a tornam tão única. Uma destas paradas pode ser no elegante Cafè l’Òpera ou dentro do mercado Boquería, nos quiosques El Quim ou Pinotxo, que servem algumas boas tapas. Experimente os camarões ao alho.
Tapas e rações de frutos do mar (como o polvo da foto) são uma forma saudável de matar a forme nas ruas de Barcelona. Crédito: Jun Seita/CC
Para continuar neste clima de safári urbano, repleto de tipos distintos, adentre o amplo espaço da Plaça Reial, antes de se meter nas sombras do Barri Gótic. Este, aliás, é um bom momento para o almoço, que pode ser frugal e barato ou um pouco mais aprumado, como no Les Quinze Nits, que serve ótima cozinha mediterrânea.
Agora, entre em um mundo claustrofóbico e de matizes tão escuros que todos os olhares voltam-se para o céu em busca de luz. As vielas e caminhos do Bairro Gótico são encantadores, escondendo pequenas lojas – que parecem estar paradas no tempo há décadas, vendendo chapéus, luvas, joias e gravatas.
Nossa rota passará por alguns marcos obrigatórios, como a Plaça Sant Jaume, onde fica o edifício da prefeitura, o Ajuntment. Aos domingos, pessoas se reúnem no fim da tarde para a sardana, dança típica dos catalães. Outro ponto onde as animadas rodas são formadas é na praça em frente à Catedral, que também merece uma visita. Daqui, siga para a elegante e surpreendentemente ampla igreja Santa Maria del Mar e o Museu Picasso. O pintor malaguenho passou parte de sua juventude na cidade e aqui, nesta instituição, você poderá apreciar não só obras de todas suas fases, mas também uma curiosa série baseada em Las Meninas, de Diego Velásquez.
Quando o sol se for, opções de baladas e jantar são praticamente inesgotáveis. Alguns bons endereços estão no entorno da Plaça Reial, enquanto junto à marina do Port Vell você poderá sorver sidra ou cava refrescantes e tapear – pular de bar em bar experimentando tapas – até tarde da noite. Aí, o rol de casas para entrar na farra é longo e variado. Tem diversão para o público LGBT (Metro), para os que curtem blues e jazz (Jamboree) e clássicos da cena local, com DJs mandando set-lists bem ecléticos (Razzmatazz e Sala Apolo).
A Sagrada Família, muito mais que uma obra de Antoni Gaudí, é o entrocamento colaborativo de centenas de arquitetos, engenheiros e artistas plásticos. São tantos os detalhes e simbolismos que uma visita cuidadosa levaria horas. Crédito: JetSetWilly/CC
Dia 2
Sua noite provavelmente foi longa, então cure todas as ressacas caminhando pela orla de Barceloneta. Certamente não será a mais bela praia urbana que você já viu, mas a agradável combinação de gente bonita, sol e aquele delicioso cheiro de maresia faz qualquer um despertar. Caso se canse um pouco no caminho até Port Vell, pare num quiosque e peça a orchata de chufa, um refresco típico da Espanha mediterrânea.
O antigo porto, hoje dedicado apenas a pequenas embarcações, já foi uma área bastante decadente, mas hoje exala dinamismo e vigor. Muitos bons cafés e restaurantes estão instalados na área, assim como o conveniente shopping Maremagnum e o bom Aquário de Barcelona. Reserve um par de horas explorando o local.
Atravesse então a Rambla del Mar, uma passarela sobre as águas, para saudar a estátua de Cristóvão Colombo, que aponta para as Américas. Um pouco mais adiante, na estação Paral-lel da linha L2 do metrô, pegue o funicular para subir a colina de Montjuic.
No alto deste histórico morro há várias boas atrações, como o museu da Fundació Joan Miró (dedicado ao artista plástico moderno e suas composições em cores primárias), o Poble Espanyol (uma espécie de Espanha em miniatura, com a reprodução de vários estilos arquitetônicos típicos do país) e o Palau Sant Jordi, palco de nosso primeiro ouro olímpico em esportes coletivos, aquele do vôlei de Marcelo Negrão, Tande e Maurício. Um dos destaques da área, porém, é o Estádio Olímpico, a antiga casa do time de futebol local que ninguém se recorda, o Espanyol. Antes desta arena, a nômade equipe mandou por muito tempo suas partidas no maldito e hoje enterrado Sarriá – quem tem mais de 35 anos até hoje vai às lágrimas ao ouvir este nome. Lembranças muito mais emocionantes no campo de Montjuic foram perfomadas pelo arqueiro paraolímpico Antonio Rebollo, aquele que acendeu a pira dos Jogos de 1992 com sua flecha em chamas – um momento que eternizou Barcelona na história do esporte.
A Fundação Joán Miró, em Montjuic, traz obras com a trajetória do artista plástico catalão. Crédito: Erik B/CC
Como as atrações da área são muitas, faça uma refeição rápida dentro do Poble Espanyol. A variedade de opções por lá é ampla, indo de comida andaluz à gastronomia catalã, passando por simples cafés e bares de tapas.
Tomemos agora o rumo aos dois mais emblemáticos edifícios da cidade, ambas obras de Antoni Gaudí. No caminho até a estação Plaça Espanya, aproveite e tire uma foto na Fonte Mágica, uma imagem bem cênica, com a cúpula do Palau Nacional de fundo. Há duas rotas de metrô para chegar à avenida Passeig de Gràcia. Não importa qual o escolhido, o importante é descer em uma estação próxima à Manzana de la Discórdia, uma mirabolante sequência de casas modernistas. As curiosas Casas Battlò, Lleó Morera e Amattler são uma silenciosa batalha de estilos e vaidades da irrequieta década de 1900.
Algumas quadras à frente, você vai se deparar com um edifício que causa um efeito profundo e definitivo. A Casa Millá, mais conhecida como La Pedrera, é enganadoramente simples, mas aos nos aproximarmos dela reparamos que aqui não há muitos ângulos retos. As grades das sacadas são todas únicas e o bailar das formas da fachada dão vida à fria rocha. Gaudí, o autor do projeto, teimou na implementação de seus conceitos e a casa viria a destoar muito da vizinhança, que, no final, recebeu diversas intervenções para se adaptar às leis urbanísticas. Mais escultura viva do que residência, a visita é permitida em alguns ambientes e é um dos pontos altos de sua passagem pela cidade.
Nada, no entanto, bate o que está por vir.
O Poble Espanyol reúne os mais diversos estilos arquitetônicos espanhóis: das casas caiadas ao mudéjar, do gótico ao barroco, em edifícios ocupados por ateliês, lojas e restaurantes. Crédito: Tobias Abel/CC
A Basílica i Temple Expiatori de la Sagrada Família é a inacabada obra-prima de Gaudí, símbolo maior de Barcelona e provavelmente de toda a Catalunha. A cada ano lançam-se aos céus as agulhas de uma nova torre, celebrando os apóstolos, os evangelistas, a Virgem e o Cristo. Mesmo quando as gruas se forem, Barcelona estará se reinventando, gótica, moderna, azul e grená.
Vale um dia adicional para…
Visitar o Parc Güell e o Camp Nou, assistir a uma partida do Barça e voltar com mais calma às Ramblas ou ao Passeig de Gràcia
Percurso a pé Palau de la Música Catalana – Ramblas – Barri Gótic
Distância: 3 km
Pit-stops: Mercado de Boquería, Plaça Reial, Plaça Sant Jaume, Catedral (La Seu), Santa Maria del Mar e Museu Picasso
Dificuldade: fácil, com vários bares e cafés pelo caminho
Percurso a pé Barceloneta – Port Vell
Distância: 3 km
Pit-stops: qualquer bar para beber orchata de chufa
Dificuldade: fácil, com vários bares e cafés pelo caminho
Percurso Montjuic – Plaça Espanya
Distância: 4,5 km
Pit-stops: Fundació Joan Miró, Estádio Olímpico, Poble Espanyol e Fonte Mágica
Dificuldade: média, com bastante sobe e desce
Percurso Passeig de Grácia – Casa Millá – Sagrada Família
Distância: 2 km ou 10 minutos, via metrô
Pit-stops: Manzana de la Discórdia e Casa Millá
Dificuldade: fácil