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Rio, uma epifania – Onde o Rio é mais Sertão

Feira de São Cristóvão: noites loucas de forró e um baião de dois gigantesco

Por Sara Stopazzoli
Atualizado em 16 dez 2016, 09h11 - Publicado em 15 set 2011, 20h03

Uma estátua em tamanho natural do Rei do Baião, um parque com carrinhos bate-bate, xícaras que rodopiam. Parece um arraial do Nordeste, mas é a entrada do Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, a Feira de São Cristóvão, uma das atrações mais populares do Rio, em São Cristóvão, na área central. São 34 mil metros quadrados, quase 700 estandes (para não dizer barracas) e cerca de 250 mil visitantes por mês, o que a torna atração turística de massa no Rio – o bondinho recebe 1 milhão de pessoas, mas por ano. O espaço é quase uma cidade. Tem salão de beleza, restaurantes e lojas que vendem bugigangas pirateadas. Nas pontas, grandes palcos para shows. Dia e noite tem gente tocando e cantando. Às vezes, figurões como Frank Aguiar ou as bandas Calcinha Preta e Exaltasamba, que deixam o lugar intransitável.

No fim de semana o lugar ferve. De dia, mais família, com gente interessada em comida típica e algum artesanato. As lojas vendem redes – de R$ 40 a R$ 330 – e aqueles demais produtos que você encontra nos centros de artesanato das capitais nordestinas. Já diante dos inúmeros restaurantes a gente se atrapalha. São tão numerosos, e há tantos garçons na abordagem – alguns falando em inglês com os visitantes mais “galegos” -, que a escolha fica difícil. O Rei do Baião tem um raro rodízio de pratos típicos (R$ 23,90 por pessoa). Na Barraca da Chiquita, uma das mais famosas da feira, é servida uma travessa gigante para quatro ou cinco pessoas (que dá para oito!) de baião de dois, com arroz branco, feijão-tropeiro, paçoca de carne-seca e aipim (R$ 67). Deixe a sobremesa para outro lugar. A sorveteria Sabor do Norte é uma excelente pedida, com seus sabores inusitados, como caipirinha e bolacha maria.

No centro do pavilhão há uma pracinha onde repentistas travam duelos de viola, brincam com o público e insinuam esperar uma moeda em troca de seu clique. Alguns parecem estar lá desde o surgimento da feira, há 65 anos, quando ela acontecia em barracas improvisadas. Foi só em 2004 que o evento ganhou o pavilhão e o status de atração turística. Nesse momento, para muitos dos mais velhos, o que era centro de tradição virou balada. É o que diz, sem usar a gíria paulista, é claro, Leônidas Cardoso, dono da Livraria Graúna, que vende livros usados e de cordel.

E que balada! Depois das 10 da noite, diversos botecos abrem as portas e vendem latas de cerveja e fichas de videokê. Reinam as roupas justas de qualquer que seja o manequim das mulheres que as vestem, as mesmas que passam batom em público enquanto esperam um convite para dançar. A música toma conta. Além dos palcos principais, tem trio de forró numa esquina, seresteiro na outra, caixas de som tremendo pelos bares – o do Fagundes é um dos redutos de forró mais autênticos da feira. Divertido é o Bazar da Cantoria, um bar para umas 40 pessoas, com pequeno palco, microfone e duas televisões em que são exibidos os vídeos com letras das músicas. Só não tem banheiro. É preciso caminhar um bocado para encontrar o mais próximo – e não espere nenhum conforto ao encontrá-lo. Pelo palco há desde bêbados desafinados até surpreendentes talentos, como o Anjo Negro, que também dubla de garçom e manda bem no brega à Waldick Soriano. A professora de inglês Marcia Torres também dá pinta no palco de vez em quando. Canta Alcione como ninguém. Independentemente do talento musical, quem pagar R$ 12 pode sair de lá com sua performance gravada em CD.

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Por volta das 6 da manhã, o último cliente sobe no palco. A essas alturas, pode-se ver de tudo pela feira, menos sobriedade. Na saída, a estátua e o parquinho continuam ali, mas é como se não estivessem. O cansaço leva direto à fila da Oxente Radiotáxi. O esquema é bem organizado e rapidamente a gente está em casa, com o ouvido reverberando. E o tão desejado silêncio demora um bom tempo para chegar.

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