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Quando o destino de férias vira moradia permanente

Quando o destino de férias vira moradia permanente

Por Mariana Maciel
Atualizado em 12 ago 2019, 17h11 - Publicado em 14 jan 2015, 19h11

Há uns dez anos meu irmão, paulistano nato, decidiu ir morar em Natal, no Rio Grande do Norte. Ele não tinha nenhum plano mirabolante o esperando por lá, negócios ou segurança financeira. Ele e minha cunhada conheceram o lugar nas férias, se apaixonaram e a vontade de mudar de São Paulo, que já estava dando seus primeiros sinais, bateu forte na porta ao chegar ao lugar com o qual se identificaram.

No momento não entendi muito bem, até que visitei alguns lugares que fizeram brotar essa paixão e agora vejo que isso não é tão difícil de acontecer. Nesse meio tempo conheci algumas pessoas que passaram pela mesma experiência e transformaram seus locais de férias em moradia permanente.

Veja alguns exemplos abaixo e as dicas para quando você passar por esses lugares que encantaram pessoas a ponto de fazê-las mudar de vida.

Você já pensou em fazer isso e onde estabeleceria sua nova casa?

Natal – os encantos do Nordeste

Em minha ultima visita à cidade conheci a guia turística Angelica Blanco, mais conhecida por Maria Bonita, já que anda sempre com os trajes da companheira de Lampião. Pelo primeiro contato com ela poderia jurar que nasceu e cresceu no nordeste. Sotaque marcado e ótimo conhecimento do lugar. Até que ela contou sua história.

A Angelica é da cidade de Santos, no litoral de São Paulo, e pisou pela primeira vez em Natal em janeiro de 2011. Ela foi fazer turismo e ficaria apenas uma semana na cidade, só que não voltou mais para Santos. “A grande variedade de belezas naturais chamou muito minha atenção e o clima quente, águas mornas e grande potencial no turismo fizeram eu me apaixonar”, explica Angelica. Outro ponto que chamou a atenção dela foram o custo para morar ali e qualidade de vida.

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Hoje ela trabalha como guia turística, levando turistas como ela (quando chegou), para conhecer os principais pontos da cidade, fazer mergulhos ou visitas à cidade de João Pessoa.

Dica na cidade: “Passeio de bugue nas dunas móveis de Genipabu. Lugar imperdível.”

AngelicaOlha a Angelica (ou Maria Bonita) nas dunas de Genipabu (Crédito: Arquivo pessoal)

Berlim – história viva e liberdade

A Manuela Faveri vivia em São Paulo e foi a primeira vez para Berlim quando estava de férias, em junho de 2012. Na época, ela fazia uma viagem de 25 dias pela Europa. Passou por Budapeste, Praga, entre outras cidades, mas o coração bateu mais forte mesmo pela capital alemã.

Ela sempre teve um gosto especial pelo idioma e ao chegar à cidade só teve a confirmação de que viveria uma boa história por ali. Alguns meses depois que voltou ao Brasil ela já se matriculou em um curso de alemão, ainda sem pretensões reais de mudar para a Alemanha. Mas em 2013 aconteceu uma grande virada em sua vida e, junto com essa virada, a possibilidade de mudar de país. Manuela não teve dúvidas: resolveu vender tudo, largar o emprego e partir para um sabático, começando por um curso de alemão em Berlim. O curso terminou e ela decidiu fazer de Berlim sua nova casa.

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“Se tivesse que elencar uma ou duas coisas que me fizeram me apaixonar por Berlim seriam: Berlim é uma cidade livre. Em Berlim sinto que é possível ser e fazer o que quiser. Em Berlim todos são iguais e muito diferentes ao mesmo tempo. É muito difícil fazer distinção de classes sociais nas ruas ou nos trens. Aqui vê-se de tudo, de homens engravatados levando os filhos para a escola de bicicleta a senhoras de seus 70 anos com tatuagens e coturnos. E ninguém se choca com nada, “cada um no seu quadrado”.  Eu, como paulistana que sou, acostumadíssima com rótulos, ainda não consigo evitar me maravilhar com tudo isso”, afirma Manuela.

A segunda razão da paixão indicada por Manuela é a história, muito presente em todos os cantos da cidade. Os inúmeros pontos turísticos relembram um passado que não dá orgulho, mas com uma história que deve ser contada. As estações de trem antigas e preservadas, o traço do extinto muro de Berlim nas ruas e o muro que ainda se faz presente no comportamento distinto de moradores das antigas Berlim oriental e ocidental foram alguns dos motivos de seu encantamento pelo lugar. “A cidade é história viva, que ainda presta contas de seu passado”, complementa. Ela está em Berlim há quatro meses e não tem expectativa de sair de lá tão cedo.

Entre as coisas que lhe chamaram a atenção pela diferença com São Paulo e o Brasil estão o silêncio, mesmo em aglomerações, e como o transporte público funciona. “A oferta de transporte com precisão de horários é maravilhosa: ônibus, trens, bicicleta, tram (um tipo de trólebus). Aqui consigo realmente planejar o que fazer durante o dia e cumprir horários”, indica.

Dica na cidade: “Meu ponto turístico clichê favorito é o Bundestag, o prédio do parlamento alemão e antiga sede do parlamento da república de Weimar. Ele foi reconstruído após a reunificação e teve um domo de vidro construído acima do plenário do parlamento, de onde tem-se uma vista incrível da cidade. É possível visitá-lo gratuitamente, apenas com agendamento pela internet.

Indico também, sem dúvida, um passeio noturno sem destino no bairro de Friedrichshain, com oferta de todos os tipos de bares e restaurantes. Vá de tênis, chinelo, salto alto, descalço. Friedrichshain é um bom exemplo do estilo “seja você mesmo” de Berlim”.

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ManuelaEste é o Bundestag que a Manuela indicou para conhecer em Berlim (Crédito: Arquivo pessoal)

Mi Buenos Aires querida

A primeira vez que a Keli Campos visitou Buenos Aires foi em maio de 2003. Ela ficou na cidade por 10 dias e já saiu de lá encantada com a arquitetura, além dos ares de cidade super cosmopolita. “Como eu já tinha morado na Europa anteriormente, Buenos Aires me pareceu a mistura perfeita entre a Europa e a América Latina”, afirma Keli.

Assim que ela voltou ao Brasil já começou a buscar cursos de Espanhol e três meses depois se mudou para o país com a intenção de realizar um curso intensivo na Universidade de Buenos Aires, mas por apenas dois meses. Só que ao final desse período ela já voltou ao Brasil apenas para organizar algumas coisas e uma semana depois se mudava definitivamente para a Argentina.

11 anos se passaram e ela não tem planos de voltar ao Brasil. Atualmente, trabalha como gerente de conteúdo em uma empresa espanhola de internet, onde gerencia uma equipe com pessoas de mais de 20 nacionalidades. “Apesar de a economia argentina ser uma montanha-russa, cheia de altos e baixos, os pontos positivos ainda são favoráveis. Entre eles posso destacar a segurança, saúde e educação”, indica.

Entre as diferenças, ela sentiu mais a parte cultural e conta que os argentinos são bem informais, mesmo no âmbito de trabalho. A capital ainda é bastante segura e tem uma vida cultural muito intensa. É comum ver pessoas caminhando pela cidade durante a madrugada sem problemas, o que já não era tão comum em São Paulo.

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Dica na cidade: “Buenos Aires tem uma infinidade de lugares incríveis, para todos os gostos, mas um dos meus lugares preferidos é a livraria Ateneo Grand Splendid, considerada pelo jornal The Guardian a segunda livraria mais bonita do mundo. Situada onde antigamente era o reconhecido Teatro Grand Splendid, construído em 1919, a livraria conserva a arquitetura original do teatro e o esplendor daquela época”.

Ateneo - Buenos AiresEsta é a livraria indicada pela Keli em Buenos Aires (Crédito: Flickr/ Sarmale Olga)

Rumo às serras da Chapada Diamantina

A relações públicas Daniela Moll foi a primeira vez para o Vale do Capão, na Chapada Diamantina, no final de dezembro de 2013. Ela já tinha ouvido muito sobre o lugar e tinha uma vontade imensa de conhecer, mas não imaginava que a paixão seria tão arrebatadora. Assim que voltou para São Paulo teve a certeza de que gostaria de mudar de vida.

Em maio de 2014 ela voltou de mala e  cuia e não tem planos de sair mais de lá. Ela e o namorado compraram um terreno e estão construindo alguns chalés para alugar para os turistas. Além disso, com a ajuda da internet, ela ainda faz freelas de tradução e produção de conteúdo.

“Quando cheguei, o que mais me chamou a atenção foi a simplicidade. Entendi também que eu e todos os meus pequenos dramas não somos nada comparados com a grandiosidade da natureza daqui”, conta Daniela.

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Ela trocou a vida corrida na cidade grande por um lugar mais tranquilo, mas que não perde na riqueza cultural. “O Vale do Capão, ao contrário do que se imagina de uma vila no interior da Bahia, é uma verdadeira esquina do mundo, com gente de todos os lugares: franceses, espanhóis, argentinos, alemães, paulistas, cariocas, gaúchos… A diversidade é imensa e se reflete também nas opções gastronômicas”, conta Daniela. Sim, no Vale do Capão você encontra restaurantes de comida caseira, vegetariana, italiana e indiana. Além disso, a natureza é arrebatadora, com trilhas, rios e cachoeiras.

Dica na cidade: “Impossível vir para o Vale do Capão e não subir a Cachoeira da Fumaça. A caminhada de duas horas e meia até o alto da cachoeira é recompensada com um visual de tirar o fôlego, fora a queda de 340 metros.”

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