Por que tiramos sempre as mesmas fotos nas viagens?
Mesmos ângulos, mesmas poses, pessoas diferentes. Será que nunca fomos originais?
Em 2014, estava eu em Jungfraujoch, na Suíça, quando uma mulher que eu nunca tinha visto na vida pediu que eu tirasse uma foto segurando sua mão, de costas. Uma certa febre da dita pose começou com o fotógrafo Murad Osmann e sua namorada, Nataly Zakharova. Na série “Follow Me”, no Instagram, Murad a fotografou em vários lugares do mundo segurando sua mão, de costas, como se ela o estivesse guiando. Não deu outra. Desde então, viajantes não param de reproduzir a cena.
E essa não é, de longe, a única foto reproduzida à exaustão pelos viajantes. Aposto que você já tirou uma foto do céu pela janela do avião. Ou estendeu os braços no meio da multidão para um clique no Cristo Redentor. Ou mesmo tentou empurrar a Torre de Pisa. E aquela de costas para Machu Picchu ou pendurado na Pedra do Telégrafo, no Rio de Janeiro?
É, poderia citar milhares de exemplos.
O Instagram @insta_repeat fez um compilado justamente dessas fotografias. Nos mesmos lugares. Na mesma posição. Do mesmo ângulo. Com pessoas completamente diferentes, em momentos diferentes. E surgiu o questionamento: os turistas gostam dos “clássicos” ou falta um pouco de criatividade às vezes? Bem, a questão não é tão simples assim.
A escritora Susan Sontag escreveu, em 1981, que “hoje em dia, tudo existe para terminar em fotografia”. Ela ficaria impressionada como essa tendência foi intensificada com os smartphones e selfies.
Mais do que guardar recordações e álbuns de fotografias, expor virtualmente a viagem tornou-se mais relevante. Para Sontag, a fotografia é a “prova incontestável” que a pessoa viajou, cumpriu os programas e se divertiu. Ou seja, do que vale uma foto que só eu poderei ver? Viajar é fotografar e compartilhar com o mundo!
Neste sentido, um imaginário dos destinos é construído por meio das fotografias e da internet. Elas ajudam o turista a decidir o seu próximo destino e, querendo ou não, fazem uma “curadoria” do que merece ou não ser visto. Segundo uma pesquisa realizada na UFF, 92% dos participantes sentem-se estimulados a conhecer um local após verem publicações de seus amigos nas redes.
Instravel - A Photogenic Mass Tourism Experience from Oliver KMIA on Vimeo.
Este vídeo, feito por Oliver KMIA, também reúne as principais tendências fotográficas, inclusive de viagens. O autor afirmou que, ao viajar, percebeu que as pessoas estavam grudadas no celular e parecia que não estavam aproveitando o momento.
Na mesma pesquisa da UFF, 83% das pessoas acreditam que alguns destinos tenham, de fato, um maior status atribuído a eles. Isso ajuda a explicar porque existam mais clichês e imagens semelhantes de certos lugares ou porque seria considerado um “pecado” ir embora sem aquele clique.
Ir ao Arizona e não tirar fotos dos seus pés no Horseshoe Bend? Vacilo. Fazer a trilha até a falésia Preikestolen, na Noruega, e voltar sem um registro seu no topo? Tsc tsc. Estar no Lago Louise, no Canadá, e não tirar uma foto de costas? Ah, vá! Lamento, mas você não esteve no Lago Louise.
Brincadeiras à parte, nenhuma foto deveria ser obrigatória, assim como nenhuma viagem. Aliás, obrigação é uma palavra que não deveria ser associada à estrada. Claro que continuaremos tirando fotos e mais fotos. Clichês são clichês por um motivo: porque funcionam, são divertidos e, como disse Freud, o ser humano adora uma repetição. Façamos, vamos clicar!