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Passeio pelo Ipiranga: Museu Paulista e arredores

Conheça o famoso bairro paulistano em um roteiro que inclui o Aquário de São Paulo, o Parque da Independência, bons restaurantes e uma sorveteria escondida

Por Kátia Arima
Atualizado em 16 dez 2016, 00h33 - Publicado em 6 ago 2012, 14h10

Você pode nunca ter pisado os pés no bairro do Ipiranga, na Zona Sul de São Paulo, mas certamente já ouviu falar dele na escola ou na primeira estrofe do Hino Nacional. De acordo com a historiografia tradicional, foi lá que o príncipe regente D. Pedro de Alcântara de Bragança – futuro imperador D. Pedro I – deu o grito “Independência ou Morte”, em 7 de setembro de 1822, o que marcou a emancipação política do Brasil de Portugal.Ok, vários historiadores contestam a versão oficial do “grito da independência” às margens do riacho Ipiranga. Mesmo que seu senso crítico o impeça de aceitar o que a maioria dos livros de história diz, vale a pena separar um dia para conhecer o bairro, em um roteiro que inclui o Museu Paulista (mais conhecido como Museu do Ipiranga), o Parque da Independência e o Aquário de São Paulo, com paradas para boas comilanças. Escolha um par de sapatos confortável e vamos lá!Você pode começar seu passeio pelo Museu Paulista, que funciona das 9h às 17h. Fique atento: ele fecha às segundas-feiras. Inaugurado em 1895, é o mais antigo museu da cidade. A primeira vista dele é encantadora: no alto do terreno está o imponente edifício, construído entre 1885 e 1890. Na frente, há um belo e bem-cuidado jardim em estilo francês, que merece um passeio tranquilo.Mas vamos conhecer o museu primeiro. Programe-se para uma visita curta, de cerca de 1h30, mas pouco confortável, pois há poucos lugares para descansar as pernas ou uma cafeteria para matar a sede ou fazer um lanche rápido. Há exposições temporárias e permanentes nos três pisos. No térreo, na ala História do Imaginário, as primeiras salas apresentam vídeos em telas grandes, que ajudam a apreciar quadros referentes ao início da colonização do Brasil, como Fundação da Cidade de São Paulo, de Oscar Pereira da Silva (1909). Nesta área, também há uma sala que exibe grandes retratos de bandeirantes paulistas como Domingos Jorge Velho e Anhanguera. No fim do corredor desta seção há uma maquete de 3D da cidade de São Paulo, construída em 1841 – acompanhe o vídeo no telão para localizar pontos famosos como o Mosteiro de São Bento e a Rua Direita.Ainda no térreo, do outro lado do prédio, está a galeria Universo do Trabalho. Lá você vai encontrar coisas interessantes como um carro dos bombeiros e um carro do serviço sanitário, ambos do fim do século 19. Este último servia para desinfetar as ruas vaporizando formol e evitar que doenças se alastrassem pela cidade.Museu Paulista, no Ipiranga, em São Paulo Museu Paulista, no Ipiranga, em São PauloEscadaria de mármore do Museu Paulista – Foto: DivulgaçãoHora de subir as elegantes escadarias de mármore e observar as estátuas e pinturas, que ilustram a história paulista e brasileira de 1500 a 1822. Note as ânforas de cristal com base em bronze, instaladas nos corrimões, que guardam, simbolicamente, água de rios brasileiros.Depois de ficar frente a frente à imponente estátua de bronze de D. Pedro I e de vários bandeirantes que estão na escadaria, entre no Salão Nobre. É lá que está a principal razão da sua visita ao museu, a famosa tela “Independência ou Morte”, pintada por Pedro Américo em 1888 e estampada nos livros didáticos. Sente-se à frente dela para identificar os personagens, com ajuda de cartões informativos, disponíveis em português, espanhol e inglês. Pouco verossímil? Pense que a função desta pintura é justamente retratar uma gloriosa cena patriótica, cheia de pompa.Siga para a ala Cotidiano e Sociedade, onde foram montados ambientes para mostrar como era o espaço doméstico no fim do século 19. Mobiliários, instrumentos de uso pessoal, conjuntos de jantar reunidos mostram como viviam os paulistanos naquela época. Atenção às curiosas escarradeiras, objetos que ficavam na sala de estar, para coletar o cuspe dos moradores ou visitantes – pelo jeito, naquele tempo a alta sociedade expelia seus pigarros sem cerimônia. Vá ao lado oposto do prédio, ainda no andar superior, para conferir o acervo de armas, com espadas, armaduras e armas de fogo.No subsolo do museu você irá encontrar objetos de decoração e cotidiano dos séculos anteriores como ferros de passar e abajures. Se não quiser mergulhar na miscelânea, é hora de uma caminhada pelo agradável jardim e, se houver disposição, pelo Parque da Independência. Se o dia estiver bonito, siga em direção ao Monumento do Ipiranga (ou Monumento à Independência do Brasil), que é composto por mais de 130 peças em bronze. Neste local está a cripta imperial, com o túmulo de D. Pedro I e das imperatrizes Leopoldina e Amélia de Beauhernais.Quem não quiser chegar perto dos restos mortais dos figurões da história, pode aproveitar para curtir a área de 160 mil metros quadrados do parque ou seguir para a Casa do Grito, que está bem próxima do monumento. Ela ficou famosa por estar retratada no quadro “Independência ou Morte” de Pedro Américo, mas os pesquisadores ainda não conseguiram comprovar que ela já estava construída na ocasião da proclamação da independência do Brasil. Tombada como patrimônio histórico em 1975 pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico), a casa com construção de pau-a-pique hoje abriga exposições de fotos e arquivos históricos. Fica aberta a visitação gratuita de terça-feira a domingo, das 9h às 17h.O Museu de Zoologia da USP fica perto do Museu Paulista, mas está temporariamente em reforma. Nesta hora, provavelmente seu estômago estará pedindo atenção. Ainda bem que o Ipiranga tem restaurantes para todos os gostos e bolsos. Para quem gosta de lanches, a pedida é o tradicional Hambúrguer do Seu Oswaldo (Rua Bom Pastor, 1659; não abre aos domingos), que faz sucesso com sua receita única há 45 anos. O despojado Paellas Pepe serve o famoso prato espanhol e outras receitas baseadas principalmente em frutos do mar, mas abre apenas de sexta a domingo (Rua Bom Pastor, 1660). Quem prefere uma refeição em ambiente mais arrumadinho deve optar pelo Nico Pasta & Basta, que serve pratos italianos.Nhoque do restaurante Nico Pasta e Basta, no Ipiranga, São Paulo Nhoque do restaurante Nico Pasta e Basta, no Ipiranga, São PauloNhoque do restaurante Nico Pasta e Basta – Foto: Viviane MacedoMundo subaquáticoBem alimentado, siga para a próxima atração do bairro, o Aquário de São Paulo. Programe-se para gastar pelo menos 2h30 aqui – se estiver com crianças, é possível que precise de mais tempo. Se possível, evite visitas aos fins de semana, quando as multidões disputam espaço.Como geralmente acontece nos aquários, todos os visitantes acabam seguindo o mesmo caminho, por um corredor que exibe os animais. É possível retornar, sim, mas a maioria segue no fluxo de pessoas.Na primeira parte do passeio, que exibe a fauna de água doce, a distribuição dos aquários e terrários é um pouco confusa, misturando peixes, anfíbios e répteis de diferentes ecossistemas em um mesmo setor.Mas, basicamente, nos primeiros ambientes os visitantes conhecerão a fauna da Amazônia e do Pantanal, após uma breve apresentação das espécies presentes do rio Tietê e seus afluentes.Depois dos aquários do Tietê, você vai se deparar com uma sucuri e outros répteis comuns na região pantaneira, como o jacaré-de-papo-amarelo e um exemplar raro de jacaré albino. Outro animal interessante que merece a sua atenção é o poraquê, um peixe-elétrico que parece uma cobra nadadora, presente na região amazônica. Suas descargas elétricas podem matar animais grandes, como um jacaré. Pena que ele costume ficar escondido entre as pedras.Após cruzar uma ponte vermelha sob um lago de carpas, você chegará ao Oceanário, com cerca de 1 milhão de litros de água salgada. Depois de perder alguns minutos na zona de transição do mangue e o aquário dos curiosos cavalos-marinhos, você está prestes a entrar em uma das áreas mais nobres do aquário: o tanque dos tubarões. Em um ambiente que simula um submarino naufragado, você pode ver tubarões de variadas espécies e raias, nadando acima de você, por causa do teto de vidro. As professoras e monitores vão questionar as crianças: “Tubarão come gente?”, para ensiná-las que não devemos temer o rei dos mares, que se alimentam de peixes. Mas mente quem não se intimidaria diante da cara invocada do tubarão-mangona (tubarão-cinza).A criançada pira no NemoPeixes de recife no Aquário São Paulo, no bairro do Ipiranga Peixes de recife no Aquário São Paulo, no bairro do IpirangaPeixes de recife no Aquário São Paulo, no bairro do Ipiranga – Foto Viviane MacedoO próximo ambiente, supercolorido, é propício para a exaltação infantil. Na área de peixes de recife e corais, estão vários dos personagens do filme de animação Procurando Nemo. O cirurgião-amarelo inspirou a personagem Dolly, o ídolo-mourisco é o personagem Gil e o Nemo é o peixe-palhaço. Mas não se preocupe com isso, pois as crianças debruçadas sobre o vidro tratarão de identificar todos os personagens (geralmente em berros).Em seguida, os visitantes se sentem em outro filme, Jurassic Park. Réplicas de dinossauros que se movem, com iluminação e sonoplastia dão o clima do tempo das cavernas. Para as crianças, este setor é impressionante e instrutivo, especialmente na sequência de bonecos que mostram a evolução humana até chegar ao Homo sapiens.Após deixar o Vale dos Dinossauros, surpreenda-se com os morcegos da Ilha de Java (Indonésia). A espécie Pteropus Vampyrus é considerada uma das maiores do mundo – o animal tem de 1 a 2 metros de envergadura (medida de ponta a ponta das asas). Seu apelido, “raposa voadora”, diz tudo. Nas placas, há esclarecimentos sobre a alimentação do animal, que se alimenta principalmente de flores e frutas, não de sangue humano.Aí você chega à tão esperada seção dos pinguins. Não espere muito, pois é uma área tímida. Não tem problema, você irá curtir o jeitão desengonçado do bicho – torça para que ele esteja a fim de nadar para ter o show completo.Você chegou à lojinha e à lanchonete do aquário. Aproveite para descansar as pernas e ir ao banheiro, pois o passeio ainda não terminou. O melhor está para ser visto, na área dedicada aos mamíferos.Numa área que simula um navio pirata naufragado está o simpático lobo-marinho. Não sofra para obter uma boa foto dele aqui, você terá outra oportunidade de vê-lo melhor, a partir da plataforma superior. Entre na “casa de ribeirinho”, que simula as típicas casas de habitantes das margens do Rio Amazonas e afluentes. Aqui está um dos mais belos tanques do aquário, onde há pirarucus, tambaquis e o astro da casa, o peixe-boi. Depois de curtir o jeitão calmo deste mamífero, suba as escadas para se divertir mais um pouco o lobo-marinho. Aproveite, antes de descer, o lado zoológico do aquário, com macacos e tamanduás.Pronto! Terminada a maratona subaquática, você pode terminar o dia em um bom bar da região. Indicamos o bar do Nico, famoso por seu chope bem tirado e seus canapés, e o Bar do Magrão, vencedor do Comida di Buteco 2012. No cardápio da casa há mais de 30 cervejas, nacionais e importadas.Quem levou as crianças para passear não pode deixar de passar na sorveteria Damp para caprichar na “saideira”. Nesta casa modesta há mais sabores que você pode imaginar: água de rosas, chocolate com figo turco, manjericão com morango, saquê. No sistema a kilo, sirva-se sozinho e pague de acordo com o peso no caixa. Você pode se aventurar pelos sabores exóticos ou se garanta nos óbvios, não importa qual seja a sua escolha. Depois de tudo isso, você provavelmente não vai achar que o Ipiranga é um bairro sem graça.Sorvete da Damp, no Ipiranga, São Paulo Sorvete da Damp, no Ipiranga, São PauloVocê escolhe se vai provar sabores comuns ou exóticos na Damp – Foto: Viviane MacedoMuseu Paulista (Museu do Ipiranga)Onde: Parque da Independência s/nº; Ipiranga, São PauloQuando: de terça à domingo, das 9h às 17hTel.: (11) 3065-8000Quanto: R$ 6 (inteira), R$ 3 (meia, para estudantes, com apresentação de carteirinha escolar, e professores, com apresentação de holerite e RG). Entrada gratuita para menores de 6 anos e maiores de 60 anos. No primeiro domingo de cada mês, a entrada é gratuita para todos.Aquário de São PauloOnde: Rua Huet Bacelar, 407, Ipiranga, São PauloQuando: das 9h às 18hTel.: (11) 2273-5500Quanto: R$ 40 ; e R$ 20 (meia, para crianças de 3 a 12 anos, maiores de 60 anos e professores de educação infantil, ensino fundamental I e II, ensino médio e curso superior, com apresentação de identificação funcional). Às segundas-feiras, a entrada custa R$ 20 para todos os visitantes.
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