Bryce, Zion e Monument Valley são grãos de areia quando comparados ao Grand Canyon. Daqueles lugares o visitante sai com a sensação, ainda que ilusória, de que eu os conheceu. Do Grand Canyon, o maior do mundo, isso jamais aconteceria. Esculpido por milhões de anos pelo Rio Colorado, sua extensão de 446 quilômetros é mais do que a distância entre o Rio e São Paulo. De largura, chega a 28,8 quilômetros. De profundidade, até 1 800 metros.
O parque nacional tem duas entradas: a Borda Sul (South Rim), que recebe 90% dos visitantes e fica aberta o ano inteiro, e a Borda Norte (North Rim), mais remota e com estrutura de visitação apenas entre maio e outubro. Ressalva: se de Las Vegas você embarcar em um passeio para conhecer a Skywalk, a passarela de vidro que avança sobre um abismo do Grand Canyon, vale saber que o lugar está na Borda Oeste e não faz parte do parque nacional. Na ponta do odômetro, de Vegas até a Skywalk são 195 quilômetros, enquanto que até a Borda Sul são 450 quilômetros.
Do South Rim, é possível ter vistas fascinantes a partir de Desert View, Hermits Rest e do Grand Canyon Village. Já o North Rim, muito menos acessível por estradas – e também por Las Vegas – fica, em média, 300 metros mais alta. Em linha direta, o North e o South Rim estão separados por apenas 10 km, mas, por rodovias, a jornada é de incríveis 354 km.
Quem tem espírito mais aventureiro mete-se dentro do buracão, o Inner Canyon, para atividades tão diversas como rafting em balsas que descem o rio Colorado, trilhas de bicicleta e hiking ou vertiginosos passeios no lombo de uma mula.
Como eu vinha de Monument Valley, foram 320 quilômetros até a portaria leste do parque nacional. Ao passar a guarita, tem-se pela frente 40 quilômetros de estrada ao longo da Desert View Drive e um cardápio de seis mirantes, quatro áreas de piquenique e um museu.
Quem não estiver de carro consegue se virar com as quatro linhas de ônibus gratuitas, cada uma com um itinerário diferente (um parque que tem quatro linhas de ônibus já diz muito sobre suas dimensões).
Mesmo a Borda Sul sendo melhor estruturada, as trilhas cânion abaixo são muito acentuadas – e na hora de voltar viram subidas extenuantes. Não é difícil entender por que 99% dos mais de 4 milhões de visitantes anuais nunca as encaram. Mas isso está longe de ser um problema. A variedade de bichos que se vê ao longo da estrada, somada aos mirantes que se espalham pela borda do cânion, já é uma aventura e tanto.
A parada no Desert View Area, depois da guarita leste, é uma boa introdução à imensidão do cânion. Ali está uma torre de vigia de 21 metros feita à semelhança de ruínas indígenas. Do topo da construção se tem a perspectiva mais alta da borda sul, mas eu não conseguiria transmitir em palavras a escala absoluta e surreal do que vi. Na sequência, uma espiada rápida no pequeno e interessante museu Tusayan, que exibe artefatos dos índios que viviam ali há cerca de 800 anos, não atrasa.
Ao chegar à Market Plaza, no final da Desert View Drive, pude ter noção do gigantismo da estrutura de visitação: ali funciona uma praça de serviços com estacionamentos, banheiros, lanchonete, banco, correio, painéis informativos sobre trilhas, centro de visitantes e terminal de ônibus.
A estrada continua então para oeste do parque, trecho acessível apenas para a linha vermelha do ônibus, e era lá que eu planejava estar na hora do pôr do sol. Mas antes peguei a estrada sul e fui fazer check-in em um hotel de Tusayan, o principal vilarejo fora da área do Grand Canyon. No caminho de volta para o parque, mal eu tinha saído do núcleo urbano e um congestionamento se formou.
Parados de qualquer jeito no meio da estrada, os ocupantes dos carros fotografavam e suspiravam por uma cerva e seu filhote – dois bambis – pastando tranquilamente. Eu não imaginava que eles fossem tão facinhos. E pelo jeito são, porque alguns quilômetros adiante surgiu outro no acostamento. Freei o carro, ele atravessou saltitante na minha frente e eu segui.
Eram umas 18 horas quando entrei novamente no parque e segui até o Grand Canyon Village, estacionei e embarquei no ônibus da linha vermelha em direção à Hermit Road, a estrada que comentei ser proibida para carros. Lotou rápido de gente que queria ver o pôr do sol. O motorista recomendou descer no Hopi Point ou no seguinte, Mohave Point. Achei que seria uma boa descer no Mohave e andar até o Hopi. Bastou descer e andar um pouco para sentir quão roots é o lugar em relação à porção leste do parque.
À exceção da área à frente ao ponto de ônibus onde os turistas se concentram, não há grade de proteção nas trilhas que conectam os mirantes, e eu caminhava com um abismo à minha esquerda. Deixei o povo pra trás, peguei a trilha e tive o Grand Canyon só pra mim. O sol foi baixando, e um espectro de cores se refletiu nos paredões à medida que os minutos passavam: laranja, vermelho, violeta, rosa, amarelo, cinza, cinza-escuro, preto, breu.
Anoiteceu no Grand Canyon, e nem sinal do mirante seguinte. Antes de eu descer do ônibus, o motorista disse que a última viagem de volta para a vila acontecia meia hora depois do pôr do sol. Comecei a andar rápido, trotear, correr, nenhum sinal de gente nem muito menos do mirante. Até que surgiu uma plaquinha que eu só consegui ler de perto: Hopi Point. Um ronco de motor e uma luz surgiram na estrada! O ônibus!!! Ufa!!! Passou direto.
De novo éramos eu e o breu. Comecei a andar pela estrada e a me achar uma besta por ter pego a trilha naquela hora. Meia garrafa de água, meio pacote de bolacha, mais uns 4 quilômetros pela frente. Não passava uma agulha, mas bem que podia passar o raio do ônibus. Coração disparado, aquele bolo na garganta, até que, é ele, stop, stooop, comecei a sacudir os braços no meio da pista. O ônibus parou, a porta abriu, e o tiozão motorista sorriu: vim te buscar!
Lição aprendida: o Grand Canyon não é para sabichões em busca de epifanias, mesmo nas trilhas mais fáceis. Depois dali o máximo que me permiti de emoção foi ver o filme Grand Canyon: Os Segredos Escondidos no cinema IMAX dentro da loja da National Geographic, em Tusayan.
O filme conta como se deu a ocupação humana do cânion, as dificuldades de transpor o caudaloso Colorado, a natureza indomada. É uma experiência visual incrível, principalmente nos momentos em que a câmera acoplada a um helicóptero dá rasantes sobre o rio. Frio na barriga, mas sem perigo real.
Centros de visitação
Os visitor center são ótimos pontos de informação, alimentação e descanso ao longo do Parque Nacional. Eles são bem equipados com lanchonetes, restaurantes, lojas de suvenir, banheiros e até área de abastecimento. No South Rim os pontos são:
• The Grand Canyon Visitor Center (Mather Point. Abre das 8h às 17h, no verão)
• Verkamp’s Visitor Center (das 8h às 17h, no verão)
• Yavapai Geology Museum (das 8h às 17h, no verão)
• Kolbi Studio (Bright Angel Trailhead, das 8h às 17h, no verão)
• Desert View (das 8h às 18h, no verão)
Do lado norte você encontra o North Rim Visitor Center, próximo ao Bright Angel Peninsula. Ele fica aberto de maio a outubro, das 8h às 16h.
Passeio de mula
Os passeios em mulas em apertadas trilhas sobre o canyon é uma atividade bem interessante. Basta ter mais de 7 anos de idade e menos de 100 kg de peso. Estão disponíveis desde passeios de uma hora a jornadas de mais de 3 dias. Mais informações no Grand Canyon National Park Lodges (sul) e no Grand Canyon Rides (norte).
Rafting
Há diversas excursões para descer as corredeiras do rio Colorado em botes infláveis. Se você é um praticante experimetado, a viagem de Diamondo Creek a Lake Mead leva de 2 a 5 dias, sendo necessário um registro junto às autoridades do parque.
Esticadas
Aproveite as distâncias para conhecer o Antelope Canyon e o Horseshoe Bend, os parques nacionais de Bryce e de Zion, o Monument Valley e a cidade de Sedona.
Guia VT
DE VEGAS PRA LÁ
O jeito mais fácil de explorar o Grand Canyon é embarcando em um tour organizado saindo de Las Vegas. E a melhor maneira é alugar um carro para fazer paradas mais calmas e contemplativas. Um dos pontos de observação mais populares é o Grand Canyon Skywalk, no condado de Mohave, Arizona. Uma plataforma em U, com piso transparente, debruça-se sobre o precipício, numa queda vertical de centenas de metros. A atração fica a 200 km de Las Vegas.
A Grand Canyon Tour Company organiza passeios bate e volta à Borda Sul. De helicóptero, a Pappilon também vai até lá, e a Sundance desce no fundo do cânion na Borda Oeste, com piquenique.
COMO CIRCULAR
Com as quatro linhas de ônibus, gratuitas para quem pagou a entrada, ou de bicicleta, que pode ser alugada na Bright Angel Bicycles. Entrada no parque: US$ 35 (carro) e US$ 20 (pedestre). Mais informações sobre o Grand Canyon aqui.
FICAR
Recém-reformado, o Best Western Grand Canyon Squire, em Tusayan, fica a cerca de 3 quilômetros da entrada sul do parque nacional. Dentro do parque há oito lodges disputadíssimos no verão – veja no site Grand Canyon National Park Lodges.
COMER
Carnes são o carro-chefe do Big E Steakhouse e do Canyon Star.