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O lado B da cozinha brasileira

Cozinha brasileira: guaiamum adestrado, frango de encruzilhada, linguiça despedaçada e outras iguarias estranhas que são servidas pelo país

Por Ricardo Castanho
Atualizado em 14 dez 2016, 12h01 - Publicado em 14 set 2011, 18h00

No mês passado, chegou às bancas o GUIA BRASIL 2011. Como é de praxe, restaurantes foram agraciados com uma, duas ou três estrelas – há 239 premiados nesta edição. Mas não é novidade que o universo gastronômico brasileiro vai muito além. Nos testes para eleger o que entra no GB – como chamamos a publicação aqui na redação -, os repórteres conferem bares, botequins, pastelarias, sorveterias, lanchonetes, barracas de praia, tacacarias (que vendem tacacá) e uma infinidade de outras portinhas – algumas bem suspeitas. O “nosso” melhor está lá, publicado. São lugares que dificilmente levariam alguma estrela, mas ganhariam em originalidade se houvesse tal quesito e ainda deixam nossas viagens bem mais divertidas.

Em Goiana (não confunda com Goiânia), no estado de Pernambuco, as bonitas praias disputam a atenção dos visitantes com o Buraco da Gia (Rua Padre Batalha, 96, centro, 81/3626-0150). O nome pode soar obsceno, mas é apenas um restaurante simplório, tocado por seu Luiz. O homem tem duas habilidades que fazem a fama da casa. A primeira é ser um exímio adestrador de guaiamum, caranguejo de casco azulado e dono de uma patola gigante, criado aos montes no quintal. Seu Luiz “adestrou” o crustáceo para pinçar copos e, com uma ajudinha do mestre, que segura o bicho como se fosse aquele antigo brinquedo Mão Biônica, dá bebida na boca dos clientes. A segunda é descascar um abacaxi em menos de dez segundos. Meninos, eu vi!

Em Salvador, o bar Pimentinha (Rua Dom Eugênio Sales, 11, Boca do Rio, 71/3230-1725) tem um diferencial interessante: abre só às segundas. Nesse dia, o proprietário, descendente de índios, recebe os clientes com um banho de folhas (um maço com sete tipos é usado para dar sorte e tirar mau- olhado). O carro-chefe do cardápio é o frango de encruzilhada, servido inteiro, recheado com farofa e levado à mesa com uma vela acesa espetada na carne. Seguindo o mesmo tom estão os petiscos do bar Temático (Rua Perite, 187, Santa Tereza, 31/3481-4646), em Belo Horizonte. Entre eles há uma receita que nenhum prato dos três-estrelas Fasano ou Olympe consegue superar, pelo menos na criatividade: o frustração di noiva. Preparada com linguiça atropelada (frita e despedaçada) e acompanhada de mandioca mole, a combinação é imbatível no quesito bom humor. Quem disse que a gastronomia é um campo sisudo, elitista e previsível?

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