Portugal em família por menos de € 100 por dia

Portugal em família: dá para viajar pelo país inteiro por menos de € 100 por dia

Por Márcia Carini e Maurício Casaroti
Atualizado em 15 jul 2019, 16h30 - Publicado em 13 set 2011, 16h33

“Nosso filho Loretto já viajou conosco três vezes à Europa. Na primeira, com 1 ano e meio de idade, percorreu a França. Na segunda, aos 2, conheceu a Irlanda e o Reino Unido. Da última vez, aos 3 anos e meio, decidiu o destino: “Quero falar português!” foi sua condição. Embora soubéssemos que Portugal era um lugar em conta, calculamos € 200 por dia para os três. Mas gastamos muito menos do que imaginávamos. Na média, foram € 50 para a hospedagem, € 30 para a comida e € 20 para o carro. E isso incluiu até uma noite em hotel quatro-estrelas. Metade do que prevíamos.

Nosso ponto de partida foi Sabugo, um vilarejo na região de Sintra, onde havíamos reservado a pousada Casa da Pinheira (Rua Nossa Senhora da Piedade, 25, 351-219/624-354; diárias desde € 45; Cc: D, M, V), grande e acolhedora. Lá, a avó da proprietária, conhecida como Vovó Flor, deu a Loretto uma aula de jardinagem. E ele disse a ela como era a Casa das Histórias Paula Rego (Avenida da República, 300, 351-214/826-970, www.casadashistoriaspaularego.com; 10h/20h), na vizinha Cascais, que tinha acabado de conhecer: um espaço de arquitetura contemporânea com um lindo jardim.

No dia seguinte, estudamos os três o mapa. Nosso destino era a cidade medieval de Óbidos, mas vimos que seria possível passar antes por Mafra e conhecer a construção citada no livro Memorial do Convento, de José Saramago. Depois de visitar o Convento de Mafra (Terreiro Dom João V, 351-261/817-550; 2ª e 4ª/dom 10h/16h30; € 5), com sua biblioteca de 40 mil livros, seguimos para Óbidos. A cidadela, que foi presente de casamento do rei dom Dinis para Isabel de Aragão, parece cenário de filme de época. Loretto pediu que comprássemos uma espada de madeira de € 5 para ele e se sentiu o próprio rei. Pegamos chuva quando estávamos bem no alto da muralha e nos escondemos num buraco entre as pedras.

Quilômetros à frente, já em Alcobaça, contei a Loretto a trágica narrativa de Inês de Castro, a “rainha-cadáver” do século 14. Ele adorou saber que Pedro I (não confundir com o nosso Pedro I, Pedro IV para os portugueses) mandou arrancar o coração dos assassinos de Inês, exumou o corpo da amada e fez toda a corte beijar sua mão morta. O passeio ao Mosteiro de Alcobaça (Praça 25 de Abril, 351-262/505-120; 9h/17h; € 5), onde fica o túmulo de Inês e de Pedro, foi envolto nesse clima.

Como criança enjoa rapidamente, é preciso variar os temas. Então fomos ver as Grutas de Mira d’Aire (Avenida Doutor Luciano Justo Ramos, 2485, 351-244/440-322, www.grutasmiradaire.com; 9h30/17h30; € 5,50, adultos, € 3,20, crianças entre 5 e 11 anos, e grátis para menores de 5 anos), em Porto de Mós. A gruta tem 110 metros de profundidade, e andamos uns 800 metros dentro dela. Embora haja similares mais bem preservadas em Minas Gerais, para Loretto essa foi a primeira exploração na garganta da Terra. No final, havia uma pequena exposição com um ovo de dinossauro.

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No dia seguinte, já na cidade de Luso, de águas termais, nosso filho se encantou com a altura das árvores trazidas de longe, como o eucalipto da Tasmânia, nas nossas caminhadas na Mata Nacional do Buçaco (351-231/939-133, www.jtluso-bucaco.pt; 8h/20h). Em Coimbra, visitamos o parque Portugal dos Pequenitos (Rossio de Santa Clara, 351-239/801-170, www.portugaldospequenitos.pt; 10h/17h; € 8,95, adultos, € 5,50, crianças de 3 a 13 anos, e grátis para menores de 3 anos), onde há casas em miniatura que mostram os estilos de construção de várias regiões portuguesas e de suas ex-colônias.

Depois, já no Douro, nós nos deliciamos entre as videiras da Casa Cimeira (Rua do Cimo do Povo, 351-254/732-320, www.casacimeira-douro.com; diárias desde € 55; Cc: todos), bem no meio das plantações. Foi difícil achar o lugar mesmo com o GPS, mas a delícia daquele quintal cheio de frutas (peras, figos, marmelos e uvas), bem como as compotas feitas por dona Maria para o café, compensou tudo. Fomos a pé até o mais alto que conseguimos nas montanhas e ficamos contemplando as plantações, sentindo o vento balançar nosso cabelo e, claro, chupando as uvas que sobraram da vindima.

Chegamos ao Porto, e o Porto, para Loretto, era um lugar cheio de barcos. Então descolamos um passeio de barco turisticão com a Carristur (www.carristur.pt). Loretto sentiu-se o comandante daquela embarcação típica, o cacilheiro. Na manhã seguinte, chegou até a comentar sobre seu dia de marujo pelo Douro com um segurança da Fundação de Serralves (Rua Dom João de Castro, 210, 351-226/156-500, www.serralves.pt; 10h/17h; € 5, grátis para menores de 18 anos), espaço de arte contemporânea com casa projetada pelo badalado arquiteto Álvaro Siza, com um jardim enorme. A tarde estava quase acabando quando decidimos ir a pé até a Foz do Douro para ver o pôr do sol. Nosso filho prendeu a respiração para ouvir o chiado que o sol faz ao se deitar na água. Ele jura que ouviu.

Foi uma experiência tão marcante que passamos a repeti-la. Em Bom Jesus do Monte, nos arredores de Braga, foi fácil, pois escolhemos um hotel em que todos os quartos têm lindas vistas. O Grande Hotel (Largo Mãe d’Água, 351-253/281-222; diárias desde € 52; Cc: todos) é colado à Igreja de Bom Jesus do Monte, famosa por sua escadaria de 1 001 degraus. Durante nossa visita, pegamos o funicular (€ 2) movido a água para descer o monte. Outro pôr do sol memorável foi num mirante da estrada, perto de Vieira do Minho. Estávamos num desvio de rota, meio sem destino, e subitamente vimos uma placa escrita a mão que dizia “Mirante”. O ponto final era uma construção abandonada no lugar mais alto de um morro pedregoso. Batia um vento que nos empurrava, mas não me lembro de vista mais bonita. O sol foi baixando vermelho, e fizemos mil fotos.

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O trecho final de nossa viagem pela região teve passagens por Trás-os-Montes, com almoço em Chaves para conhecer o castelo e um chá da tarde em Bragança. Pode-se caminhar pelos muros da cidadela de Bragança, mas o mais gostoso foi conversar com uma senhora de 90 anos que nasceu e se criou dentro dela. Hoje, há poucas famílias que moram lá – e a maioria das casas foi derrubada.

O fim da viagem foi no Alentejo. Passando por Évora, visitamos os megalíticos, no entorno da cidade. As pedras desse Stonehenge português estão ali há mais de 2 mil anos. Loretto, que subiu em todas, achou-as com jeito de pessoas.

Ter feito nosso filho participar das nossas decisões de viagem tornou-o um grande companheiro de estrada. Fizemos vários passeios “de adulto” também, mas tentando envolvê-lo com encantamento. No último dia, decidimos que íamos dormir em um banco qualquer do aeroporto, já que nosso voo sairia muito cedo na manhã seguinte. O senhor que nos atendeu na entrega do carro, vendo-nos quase a fazer essa loucura, sugeriu, amavelmente, que dormíssemos no automóvel. Não foi a noite mais confortável de nossa vida, mas saiu de graça e trouxe mais uma história bacana de viagem para o nosso filho contar quando crescer.

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