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Milhas, modo de gastar

Nunca foi tão fácil acumular pontos, mas nunca foi tão difícil usá-los. Veja como fazer para, enfim, viajar

Por Liana Amaral
Atualizado em 16 dez 2016, 08h33 - Publicado em 17 jul 2012, 11h41

Basta voar a trabalho ou pagar as compras no cartão de crédito e zás: milhas! Mas, trocá-las por passagens aéreas, que é o que todo mundo quer… Quanto mais pessoas acumulam pontos, mais há procura por passagens-prêmio. Do lado das companhias aéreas, voos rentáveis são aqueles com passageiros pagantes, e demanda para isso é o que não falta. É conflito, como diz o pagode. Para conseguir um assento por uma quantidade justa de pontos, cada vez mais são necessários antecedência, pesquisa e planejamento. Só entre os associados do TAM Fidelidade e do Smiles são 17,4 milhões de usuários – menos mau que nem todos convertam suas milhas ao mesmo tempo. Uma pesquisa do Banco Central revela que, em 2010, deixamos expirarem 101,3 bilhões de pontos nos cartões de crédito – em passagens, 5 milhões de bilhetes para a América do Sul foram para o ralo. Você também não vai querer perder as suas milhas, vai?

Pesquise muito e voe na baixa

Simulações de resgate e dicas de especialistas mostram a importância do planejamento

Por que é tão difícil trocar pontos por passagens? “As empresas variam o número de assentos destinados às passagens-prêmio de acordo com o mercado. Quando ele está aquecido, as companhias reduzem muito a disponibilidade e exigem um número maior de milhas”, diz Rodrigo Purisch, autor do blog Aquela Passagem. No dia 20 de junho passado, a VT simulou o resgate de pontos em quatro programas, na classe econômica, com saídas de São Paulo. No TAM Fidelidade, que faz distinção entre alta e baixa temporada, se você quisesse usar os 30 mil pontos por trecho exigidos para voar a Nova York, teria de esperar: entre os dias 21 e 24, seria necessário quase o dobro de milhas, 50 mil. Na baixa temporada, que começa em 16 de agosto, o mesmo trecho sai por 20 mil pontos, mas só havia lugar em 11 de setembro (!), em um voo da Air Canada, parceira da TAM, via Toronto – leia-se “visto canadense obrigatório”. Para ir a Paris pelos 30 mil pontos da baixa, a primeira data seria 4 de outubro, em voo da parceira Lufthansa via Frankfurt. A Gol, considerada a terceira melhor companhia do mundo para resgatar milhas segundo pesquisa do Wall Street Journal, justificou seu bom ranking. Rio de Janeiro, Salvador e Buenos Aires estavam ao alcance das 10 mil milhas Smiles em no máximo cinco dias. Na Air France, era possível voar a Paris, Amsterdã ou Londres pelas 40 mil milhas Flying Blue entre os dias 26 e 27 de julho – antes, somente com upgrade na econômica especial, por 50 mil milhas. Na American, o AAdvantage conseguia voos com embarque imediato para Miami, Los Angeles e Nova York. Na baixa temporada da companhia, que começa em 16 de agosto, as 20 mil milhas básicas levavam a LA e Miami já no dia 20. Para Nova York, só em 17 de setembro. As simulações provam que, sim, há passagens-prêmio, às vezes em datas próximas e em trechos nobres. Difícil é casar o dia da passagem com a disponibilidade pessoal. Especialistas contam como fazer para essa equação dar certo, quando o resgate vale a pena e como se relacionar bem com as milhas.

Há algum segredo para conseguir o destino certo na data certa?

“É preciso acompanhar com frequência a disponibilidade de assentos nos sites”, aconselha Rodrigo Purisch. “O ideal é garantir a passagem seis meses antes”, calcula. Outra dica é conseguir as passagens antes de marcar suas férias. “E fugir da alta estação”, diz Alexandre Pedrosa, da operadora Canaus.

Vale a pena usar os pontos para upgrade de classe?

“Para quem busca conforto, vale muito. E, como a procura pela primeira classe e pela executiva é sempre menor por causa dos preços, costuma ser mais fácil”, diz Rodrigo Purisch.

Até quanto devo pagar por trecho?

“Cada milha vale cerca de US$ 0,02 [R$ 0,04 no câmbio de junho]”, diz Purisch. Por essa cotação, se em um trecho de 20 mil pontos a passagem paga for vendida por menos de R$ 800, não vale tanto a pena, a não ser que as milhas estejam expirando.

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Devo tentar concentrar as milhas em um mesmo programa?

“Sim. É a forma mais rápida de acumular os pontos necessários para uma passagem”, afirma Purisch.

Como controlo minhas milhas?

“Faça uma planilha de seus programas de fidelidade, atualize o saldo deles e monitore a data em que os pontos expiram”, ensina Samy Dana, economista da FGV. “Também é muito importante acompanhar seu extrato e guardar os canhotos do embarque. Com frequência as empresas esquecem de depositar as milhas”, alerta Rodrigo Purisch.

Milhas são commodities?

“Milhas não são um depósito de longo prazo, expiram, e a companhia pode mudar as regras. Milha boa é milha gasta com sabedoria e o mais rápido possível”, finaliza Purisch.

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Jeitinho brasileiro

Proibida pelas companhias, venda de milhas expõe dados pessoais do passageiro

Embora os regulamentos dos programas não permitam, a comercialização de milhas tornou-se uma prática comum para quem tem créditos a expirar ou não consegue resgatar a passagem desejada. No site Hot Milhas (hotmilhas.com.br), cuja interface é um plágio do Decolar. com, há até um vídeo tutorial que explica, passo a passo, o processo de venda: após receber a cotação dos pontos por e-mail, o cliente é orientado a fornecer dados como CPF, agência e conta bancária, número do cartão de fidelidade e assinatura eletrônica. A seguir, segundo o vídeo, o Hot Milhas aprova o cadastro, faz o pagamento por depósito bancário e ao fim pede a senha de resgate para emitir a passagem. Todo o negócio leva cerca de cinco dias úteis. “É tentador, mas pode ser perigoso. Fornecer dados pessoais cria uma situação de vulnerabilidade”, alerta Rodrigo Purisch, do blog Aquela Passagem. No final de junho, as empresas do ramo pagavam entre R$ 200 e R$ 220 por lote de 10 mil milhas da Gol e entre R$ 250 e R$ 270 por 10 mil pontos da TAM – bem abaixo dos US$ 0,02 por milha que o mercado estima como justo, o que daria cerca de R$ 400 por lote.

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