Uma das coisas que mais gosto de fazer quando viajo é me perder por um bairro, sem planejamentos. Geralmente escolho uma região que já sei que tem minha cara e, para isso, dou uma leve pesquisada antes para decidir qual. Só não vale pesquisar demais pra não matar a surpresa do passeio! Aí é só definir um ponto de partida e andar, sem destino, pelas ruas do lugar. Os dias de caminhadas assim, sem pontos turísticos, filas e fotos obrigatórias, acabam quase sempre sendo meus favoritos da viagem toda. É mais legal ainda pra quem viaja sozinho porque aí dá pra dedicar o tempo que você quiser a cada parada – pode ser que você goste de passar horas em livrarias, pode ser que prefira procurar tesouros em brechós.
Vale também definir previamente, além do bairro, um restaurante cujo menu te agrade, uma ou outra lojinha do pedaço ou um café fofo, por exemplo, só para se situar. O mais importante é não se prender a um roteiro e se perder mesmo pelas ruas da vizinhança, pra se sentir meio local.
Desse jeito eu acabei descobrindo bairros cheios de personalidade. Alguns são meio burgueses, com lojas caras e restaurantes top, outros bem hipster, com seus empórios orgânicos e brechós bagunçados. Em comum, todos são deliciosos para percorrer a pé em uma tarde ensolarada.
Vou contar quais foram minhas descobertas, mas tenha em mente que a ideia é sempre descobrir os seus próprios cantinhos, ok? No começo dá um medinho de se perder de verdade mas depois vira um ótimo hábito de viagem 😉
– Greenwich Village (Nova York)
O bairro que mais representa o espírito nova-iorquino, para mim, com seus predinhos antigos de cor terracota e escadas de emergência externas, de ferro. O centro pulsante do bairro é o Washington Square Park, sempre agitado e frequentado por estudantes, já que é todo cercado por prédios da NYU. Não muito longe dali, o The Grey Dog tem sanduíches delícia num ambiente super descoladinho. Dá até pra fugir da modinha dos hambúrgueres pedindo um dos lanches de peru assado e fatiado da casa. Amo também a loja Bookmarc, misto de livraria e lojinha de quinquilharias do afamado Marc Jacobs. Dá para encontrar lá desde livros de arte lindíssimos até souvenirs de viagem estilosos, tipo canetas e chaveiros com o logo do estilista. Aliás, a rua desta loja, Bleecker Street, é cheia de boutiques que valem muito a visita (apesar do dólar nas alturas).
– Príncipe Real (Lisboa)
Outro bairro que se espalha ao redor de um belo jardim, neste caso o do Príncipe Real. Bem na frente dele está a Embaixada, mansão linda que abriga um centro comercial meio hipster – cada cômodo é uma loja (tem desde cosméticos orgânicos até cerâmica portuguesa) e o pátio central guarda um restaurante, o Le Jardin. Ali do lado um outro casarão segue a mesma proposta, o Entretanto, que tem lojinhas mais baratas e um juice bar no térreo. Descendo em direção ao Bairro Alto você encontra o lindíssimo Miradouro de São Pedro de Alcântara, com uma vista arrebatadora de Lisboa e, na frente dele, o hostel The Independente, uma das opções de hospedagem mais descoladinhas da cidade. Esqueça tudo que você espera de hostels: esse aqui arrasa no décor e tem até um restaurante premiado, o The Decadente, que apesar da fama tem preços bem legais (€10 o menu do almoço, cerca de €20 para um jantar caprichado). E além dos quartos compartilhados eles têm também algumas suítes privativas cheias de charme com tarifas BEM abordáveis pro nível do lugar. Super vantagem do bairro: é um dos poucos relativamente planos de Lisboa, o que deixa a caminhada por lá ainda mais agradável.
– Palermo Soho (Buenos Aires)
O tanto que eu amo esse bairro não cabe em um parágrafo. Palermo Soho merece um post inteiro, um blog exclusivo, se bobear! Muita gente fala que o auge já passou e que agora a região já não é mais tão vanguardista mas eu duvido e vejo que sempre tem novidade lá. Antes de tudo, se situe: o bairro tem uns trechos mais residenciais que não são tão legais para explorar a pé. O quadradinho formado pelas ruas Malabia, Nicaragua, Uriarte e Gorriti é o que concentra a maior densidade de lojinhas e cafés interessantes por metro quadrado e é realmente a nata do Soho. Esse quadrado engloba ainda duas praças fofas, a Plaza Serrano, cercada por barzinhos e bem agitada à noite, e a Plaza Armenia, maior e rodeada mais por restaurantes. Um barzinho imperdível perto desta primeira é o Sheldon, boa pedida para finalizar uma tarde de andanças, com seu jardim interno pra lá de charmoso. Gostei muito de me hospedar nesse miolo, no hotel Five Cool Rooms, que tem bom custo/benefício, dava pra fazer tudo a pé e voltar tarde da noite sem preocupações. Fica na mesma rua a loja Chocolate, uma grife argentina bem cool e com preços justos (roupas em Palermo custam caro, no geral!). Ali pertinho tem a padaria francesinha Cocu, que enche de portenhos tomando café e comendo croissant à tarde. Neste post antigo que eu fiz aqui pro blog falei de algumas comidinhas gostosas da minha última viagem pra cidade e vários dos lugares citados ficam, advinha só, em Palermo Soho. Também gosto muito do blog Buenos Aires Para Chicas, feito por uma brasileira moradora de Bs.As. que é fã desse pedaço.
– Spitalfields (Londres)
Confesso que não me apaixonei por este bairro à primeira vista. Num primeiro momento tentei me enveredar por algumas ruas em volta da estação Liverpool Street mas só encontrei becos mal-encarados e desinteressantes. O negócio é que eu saí da estação pro lado errado. O passeio só ficou legal mesmo quando eu encontrei o Spitalfields Market então recomendo que você também comece por lá. Com vários restaurantes e cafés, boutiques fixas e tendas de vendedores itinerantes, o lugar rende um dia inteiro de exploração. Antes ele ficava aberto só alguns dias da semana mas agora mudou e dá pra ir sempre. Pra comer ali recomendo muito o restaurante Canteen, responsável por me convencer que a culinária britânica pode, sim, ser super saborosa. Aí o negócio é sair para dar uma volta nas ruas ao redor, com direito a uma paradinha na Christ Church Spitalfields. A maior graça é ver a fauna local, o povo londrino já é naturalmente estiloso e ousado e em East London isso fica ainda mais evidente
– Marais/Haut Marais (Paris)
Ok, ok, confesso que o Marais já foi mais adorável. Na primeira vez que eu fui pra Paris conheci o bairro meio sem querer e decidi que era ali que eu deveria morar pro resto da vida. Foi muito amor, mesmo. Encontrei por lá praças charmosíssimas nos fundos de mansões do século XVII (chamadas de hôtels particuliers), lojas de designers novos e também cafés e restaurantes de diversas etnias. Só que agora em dezembro eu voltei ao Marais e ele certamente não é mais o mesmo. Hordas de turistas passeavam pelas vias principais, como a rue des Francs-Bourgeois e rue Vieille du Temple. Lojas abertas aos domingos transformaram o bairro em uma espécie de refúgio consumista para os parisiense que querem passear nesse dia em que quase tudo fecha no resto da cidade. Ou seja, o Marais está banalizado. Mas ainda dá para se sentir um local e descobrir cantinhos pouco explorados do bairro, é só evitar os fins de semana e focar nas ruas do Haut Marais, a área mais ao norte do bairro.
Alguns lugares do bairro que eu gosto muito são o café do Insituto Sueco de Paris, escondidinho no jardim de uma mansão linda; a loja multimarcas Merci, toda moderninha e com um mix de marcas muito bom e, finalmente, a pâtisserie Jacques Genin (133, rue de Turenne) que tem uma bomba de caramelo levemente salgado (éclair au caramel, para os franceses) que vai fazer você repensar todos os doces que já comeu na vida. Finalmente, não ouse ir pro Marais sem passar na creperia Breizh Café. Sim, tem que reservar com antecedência porque senão eles nem te deixam entrar na fila antes das 15h, quando finalmente liberam para os pobres desavisados sem reserva. Sim, já virou ponto turístico e fica lotada de grupos de japoneses. Maaas os crepes crocantes recheados com queijo, ovo frito e cebola caramelizada, acompanhados da tradicional cidra bretã, fazem a gente relevar todos os poréns do lugar.
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