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Metendo a colher

Um museu que conta a história de um livro que conta a história de um amor impossível; outro que guarda os cacos do fim de relacionamentos. A arte veio para o dia a dia

Por Rui Porto
Atualizado em 16 dez 2016, 07h57 - Publicado em 24 jul 2013, 13h58

Sempre fui rato de museu, desde o Paulista – vulgo Ipiranga – até os Louvre e Prado da Vida quando comecei a ganhar carimbos no passaporte. Hoje noto com satisfação que novos espaços de exposições se abrem para as mais diferentes manifestações do espírito humano e que vão além de escolas e “ismos”.

Em recentes viagens, conheci os inusitados Museu da Inocência (masumiyetmuzesi.org), em Istambul, e Museu das Relações Partidas (brokenships.com), em Zagreb, capital da Croácia. O primeiro foi inspirado no livro homônimo do Prêmio Nobel de Literatura Orhan Pamuk e está situado em uma bem restaurada casa otomana. O acervo traz objetos reunidos pelo escritor que contam a história do livro: um sujeito abastado nutre uma paixão impossível por uma prima pobre e passa a colecionar tudo o que diz respeito a ela. Logo na entrada, causa grande impacto um quadro com mais de 4 mil bitucas de cigarros fumados pela amada. Cada uma ganhou um textinho em turco, mas que dispensa tradução: aquilo é a força de um amor tão intenso quanto impossível.

O museu de Zagreb exibe objetos doados por pessoas comuns e simbolizam o fim de seus relacionamentos. Tem de tudo: vestidos de noiva, cartas, ursos de pelúcia, um machado e até uma prótese ortopédica. Insólito? Sem dúvida, mas o conjunto faz sentido e o palácio barroco Kulmer, situado na Cidade Alta, vale uma visita em si. Foi impossível não me lembrar da exposição Cuide Bem de Você, que a francesa Sophie Calle criou a partir da carta de rompimento escrita pelo namorado, uma vingança artística que deve ter calado fundo no dito-cujo.

Eu também acho interessantíssimo quando museus ganham as ruas, como foi o caso das 31 esculturas do artista britânico Antony Gormley espalhadas no ano passado pelo Vale do Anhangabaú e no topo de prédios, em São Paulo. Ou quando espaços seculares como o Louvre ganham intervenções como a do italiano Michelangelo Pistoletto, expoente da arte povera. Entre as obras, que ficam em cartaz até 2 de setembro, está um espelho próximo da Mona Lisa que traz impressa a foto de uma garota tirando fotos. Quem se reconhece?

O COLUNISTA

Rui Porto não faz cara de conteúdo diante de pseudoarte. Passa reto

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