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Indonésia, a ilha antes do fim

Depois de um ano, a Volta ao Mundo de Cassia e Danilo chega ao fim. Na Indonésia, última etapa, eles vão ao maior monumento budista da Terra e elegem Bali como o melhor lugar da galáxia para não fazer nada. Sabichões...

Por Cassia Dian
Atualizado em 16 dez 2016, 08h03 - Publicado em 12 abr 2013, 11h25

Quando se deixa uma metrópole caótica como Mumbai, na Índia, qualquer lugar no qual se desembarque pode parecer uma cidade da Suíça. Como Jacarta, a capital da Indonésia, um país de quase 250 milhões de habitantes e 17 mil ilhas. Jacarta, porta de entrada de nosso último destino nesta Volta ao Mundo (clique aqui para ver as outras reportagens da série), pensando bem, não tinha a placidez de Genebra ou de Lausanne, mas, olhando pela janela do táxi, algo soava reconhecível: “São Paulo, é você?”, pensei. Vi prédios modernos e um trânsito relativamente organizado. Tínhamos 18 dias para desfutar do país, uma enormidade para qualquer viajante, um tempo ridículo para quem passa um ano dando a volta no globo. Por isso não marcamos bobeira e, no dia seguinte à nossa chegada, embarcamos em um trem com destino a Yogyakarta, simpática cidade 456 quilômetros a sudeste da capital.

Chegamos a Yogya, como é chamada pelos locais, em um fim de tarde e fomos de imediato cativados pelo clima de cidade de interior. O lugar é um dos berços da produção de batique, técnica de tingimento em tecido artesanal que enlouquece turistas consumistas como eu. Na chegada, visitamos o Palácio do Sultão, moradia da família real javanesa, que foi bastante abalada por um terremoto em 2006. Na sequência, vimos o belo Taman Sari, ou Palácio da Água, o Mercado do Pássaro e algumas boas lojas que vendem cerâmicas típicas. Reservamos o dia seguinte para percorrer a Rua Malioboro, com muitas lojas e camelôs que vendem batique, e também para desatar os nós da nossa coluna em uma sessão dolorida de massagem javanesa.

Às 4h30 da madrugada do dia seguinte já estávamos de pé à espera da van que nos levaria aos templos de Borobudur e, na sequência, a Prambanan. Uma horinha de viagem e chegávamos a Borobudur, onde colocamos um sarongue, vestimenta obrigatória para homens e mulheres que visitam os templos do país. Caminhamos com o sol ainda ameno até que, WAAAAL!, chegamos ao maior monumento budista do mundo, erguido, estima-se, no século 8. Subimos e descemos seus dez pavimentos que formam galerias a céu aberto ornadas por desenhos esculpidos em pedras vulcânicas. Visto de cima, o templo tem a forma de uma mandala. Depois de fotografar à exaustão seus mais de 400 budas, nós nos dirigimos a Prambanan. O lugar é menos impressionante, mas detém o título de maior monumento hinduísta da Indonésia. Lá estão os templos dedicados a Brahma, Shiva e Vishnu, o trio de ferro divino da religião.

Madrugar estava virando um hábito, mas dessa vez foi para encarar, com mala e batique, o esquentadinho Vulcão Bromo. Eu estava empolgadíssima pois seria o primeiro vulcão ativo desta minha vida não tão curta de viajante. Depois de nove horas chacoalhando em uma van, já anoitecia quando chegamos a Probolinggo, uma das cidades ao redor do Parque Nacional Bromo Tengger Semeru. Fomos direto para o hotel, pois tínhamos de levantar às 4 horas. Um jipe recolhia os turistas nas pousadas e subia uma íngreme estrada iluminada apenas pelos faróis dos carros. Descemos do jipe e caminhamos por 45 minutos empunhando lanternas até um mirante. Então nos acomodamos em uma das muretas até que meu queixo e algumas lágrimas caíram quando a luz do sol começou a despontar. A névoa na base do vulcão abaixo de nós era uma imagem tão surreal que meus amigos não acreditavam nas fotos que postei no Instagram. Fomos os últimos a descer do mirante e nos juntamos aos outros turistas do jipe para chegar mais perto do vulcão. Já estávamos no mesmo nível da neblina quando alcançamos os degraus de uma extensa escadaria que leva à boca da cratera. Subimos e logo sentimos o bafo quente da água em erupção, enquanto alguns pais gritavam histéricos com seus filhos debruçados no precário guarda-corpo.

Faltavam cerca de duas semanas para terminar nossa Volta ao Mundo e, devemos confessar, estávamos exaustos. Tudo o que queríamos naquele momento era chegar a Bali, incluída em nosso roteiro justamente para irmos à forra dos Buda, Shiva, Krishna e outros aí que nos obrigavam a acordar tão cedo. É isso: Bali seria o verdadeiro descanso dos guerreiros. Então pegamos um ônibus em Probolinggo, que atravessou da Ilha de Java para Bali em cima de uma balsa. Depois de 11 horas de viagem, quem nos recebeu em Denpasar foi meu amigo Fábio Rossi, o Feijão, morador da ilha há mais de 15 anos. Fábio nos alugou por US$ 50 ao dia um de seus chalés, perfeitamente localizado entre as praias de Ulu Watu e Padang Padang. A piscina incrível e as praias maravilhosas ao redor não nos encorajaram a desbravar a ilha pelos quatro dias seguintes. A rotina era pesada: praia de manhã, almoço feito por nós em casa (um luxo que não tínhamos havia quase cinco meses), piscina à tarde e uma cervejinha ao pôr do sol em algum bar da encosta de Ulu Watu.

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Gili Meno, a menor ilha do Arquipélago das Gili, em um dia como os outros

Gili Meno, a menor ilha do Arquipélago das Gili, em um dia como os outros – Foto: Cassia Dian

Lá pelo quinto dia, Feijão nos deu um puxão de orelha: “Vocês precisam sair de casa!” Como bons paus-mandados, fomos então conhecer Jimbaran e Kuta, vilas facilmente acessíveis com nossa scooter alugada. Na Praia de Jimbaran, em um dos muitos restaurantes na areia, escolhemos nosso almoço diretamente de um aquário repleto de peixes e crustáceos. Kuta é uma das mais conhecidas vilas de Bali, cheia de turistas, pousadas, bares e lojinhas. Vale o passeio, mas respirei aliviada por não estar hospedada ali.

Feijão é mandão, mas tem bom coração. No nosso último dia em Bali, arrumou um motorista para a gente ir a Ubud, vila conhecida por seus ateliês, suas lojas de artesanato e seus cênicos terraços de arroz. Aproveitamos ainda para conhecer dois templos: Pura Desa e Pura Puseh, ambos com estátuas e portões lindamente ornamentados. Almoçamos uma salada e deliciosos sucos naturais com uma vista de babar para os terraços de arroz no restaurante Three Monkeys. Outra desforra, dessa vez da abstinência de verduras, legumes crus e sucos de futas que nos impusemos nas longas semanas vividas no Nepal e na Índia. Na volta para casa, paramos em uma das muitas lojas de prata de Seminyak, reduto da gente fina, elegante e sincera que visita Bali. Na mesma noite fomos convidados por Feijão para jantar no restaurante mais bonito em que estivemos em quase um ano de viagem, o Métis. Memorável, mesmo após três garrafas de vinho.

Próxima parada: Ilhas Gili, nosso lar pelos cinco dias seguintes. Depois de uma hora e meia de lancha rápida desde o porto de Benoa, em Bali, e mais dez minutos num barquinho contratado em Gili Trawangan, chegamos. O Arquipélago das Gili é formado por três ilhotas, verdadeiras filiais do paraíso. Escolhemos a menor de todas, Gili Meno, com cerca de 300 habitantes e uma orla que se percorre a pé em uma horinha. Sente o drama: água transparente, chalé pé na areia a US$ 20 por dia e peixe a US$ 4, se tanto. E era só enfiar o rosto na água para ver peixes e tartarugas.

Os dias de descanso nos deram ânimo para a maratona que seria a volta para casa. Ela começaria no aeroporto de Lombok – mais próximo das Ilhas Gili –, passaria por Jacarta, Hong Kong, Nova York, para enfim chegarmos a São Paulo. No portão de embarque em Jacarta, fomos barrados porque não tínhamos visto para o Canadá. Oi? Canadá? Descobrimos, então, que o trecho de Hong Kong para Nova York previa escala em Vancouver, embora ela não constasse no bilhete. A solução da Cathay Pacific foi nos enviar para Hong Kong, lá nos dar um chá de cadeira de 12 horas e nos colocar em um jato para Nova York. Deixamos de ser mortos-vivos quando vimos a família em Cumbica. Hoje São Paulo já nos engoliu, e quase me esqueço o que é ter tempo. Mas, tudo bem. Temos conosco fotos, vídeos, os amigos que fizemos pelo mundo e as mais incríveis histórias.

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ELES E O MUNDO

As aventuras, o sublime e até as roubadas no giro de um ano de Cassia e Danilo pela Terra

 

A volta ao mundo de Cassia e Danilo

 

 

. . : TOP 5 : . .

 

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5 Paisagens de enlouquecer

→ Cordilheira do Himalaia, Nepal

→ Deserto de Gobi, Mongólia

→ Ilha Olkhon, Lago Baikal, Rússia

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→ Vulcão Bromo, Java, indonésia (foto)

→ Parque Nacional Plitvice, Croácia

 

 

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5 Comidas deliciosas

→ Burek em Sarajevo, Bósnia

→ Paella valenciana em Valência, Espanha

→ Pato laqueado em Pequim, China

→ Cordeiro com alecrim em Kazam, Rússia

→ Dim sum em Karakorum, Mongólia

 

 

 

5 Roubadas

→ Comprar o bilhete errado e viajar de trem em pé na China

→ Passar frio com a jaqueta errada na Cordilheira do Himalaia

→ Horas no ônibus sem ar e com janelas vedadas na Croácia

→ Topar com ratos em restaurantes na índia

→ Não se fazer entender na bilheteria dos teatros na Rússia

 

Leia mais:

Check-in ##– Veja outras reportagens da edição de ABRIL de 2013 da VT

Mais da VOLTA AO MUNDO ##– Guerreiros não dizem não

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