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Índios Yawanawás, no Acre, recebem turistas para vivência espiritual na Amazônia

Apenas 50 turistas podem participar da Festa Mariri, que celebra a tradição Yawanawá, no Acre

Por Julia Latorre e Ludmilla Balduino
8 Maio 2014, 18h40

Atualizado em 19/4/2016.

Qual Amazônia você quer conhecer? Sua verde imensidão abriga ao mesmo tempo uma floresta, nove países, a maior biodiversidade do mundo em um ecossistema tropical, nove estados brasileiros e a maior população indígena do Brasil.

Na Amazônia Acriana, mais especificamente na Terra Indígena do rio Gregório, está localizada a aldeia Mutum, dos índios Yawanawás. Em 2000, o líder do povo indígena, Yawanawá Joaquim Tashka, percebeu que a cultura indígena ancestral estava se perdendo na aldeia: os jovens já não se orgulhavam tanto de suas origens e os costumes não eram mais passados de geração em geração.

Foi então que surgiu o Festival Yawanawá, que celebra a cultura indígena da tribo e resgata os costumes. O festival foi mais do que bem sucedido e passou a atrair turistas de todos os cantos. Segundo Tashka Yawanawá, a popularidade do festival era tanta que se podia compará-la ao festival de Parintins. Ou ainda, a uma espécie de “Woodstock da floresta”.

Uma década depois, diante da popularidade do Festival Yawanawá, Tashka e outros membros da tribo perceberam que o festival estava turístico demais e perdeu o tom intimista e tradicional dos primeiros anos. O festival não acabou, mas em 2013 surgiu a Festa Mariri Yawanawá, cuja programação é de cinco dias e cinco noites dedicadas à cura, dança, música e manifestações culturais e espirituais. Em 2016, a festa ocorre entre os dias 25 e 30 de outubro.

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Turismo exclusivo

Apesar da Festa Mariri ser voltada para as comunidades indígenas, até 150 turistas podem fazer parte dessa celebração e conviver no espaço de aldeia. As inscrições para o festival podem ser feitas através do site do evento.

Fugir da rotina do turismo tradicional é só um detalhe desse roteiro. Enquanto os índios Yawanawás celebram sua cultura no Festival Mariri, os visitantes, além de poder vivenciar costumes, rituais e brincadeiras da tradição Yawanawá, têm uma experiência introspectiva de harmonia com a natureza.

O passeio

Não é tão simples chegar à aldeia Mutum, mas segundo Maria Teresa Meinberg,  fundadora da operadora Mundus Turismo Consciente, a jornada de praticamente três dias para chegar até a tribo já faz parte da experiência de imersão no modo de vida da floresta.

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Para chegar à aldeia, o visitante deve viajar de van ou de carro por cerca de oito horas a partir de Rio Branco até o Rio Gregório. O meio de transporte será trocado por um barco, e a viagem pelo curso do rio, margeando a densidade das árvores da floresta, dura aproximadamente 6 horas. É só então que o visitante finalmente chega à tão esperada aldeia Mutum. Um avião fretado deixa a volta mais curta: todo o trajeto é feito pelos ares em “apenas” um dia.

Os hóspedes podem optar por dormir em dormitórios coletivos, em redes ou camas, ou ficar em casas de famílias que moram na aldeia. Há quatro cozinhas espalhadas pelo lugar, com comidas típicas (mingau, banana, comida de caça, mandioca…), mas também tem o tradicional arroz e feijão para aqueles que não se adaptarem à culinária local. Não há luz elétrica, nem sinal de celular, mas tem ponto de internet e Wi-Fi.

Hospedar-se em uma comunidade indígena para conviver com os Yanawás pode soar invasivo, mas Joaquim Tashka explica que o turismo é uma forma de ajudar a proteger o território ameaçado: “o turismo acaba beneficiando a comunidade pela visibilidade.”

Ainda não existe uma lei que aprove o turismo na aldeia. Os turistas que se hospedam na aldeia Mutum são “convidados”, já que o povo indígena tem autonomia sobre sua terra.

Definitivamente, os turistas que embarcam nessa experiência indígena não devem ir com expectativas de se hospedar em um Tropical Manaus ou algo do tipo. E sim com uma cabeça aberta, prontos para ver índios pintados (com roupa ou sem), experimentar carne de paca (ou macaco, ou capivara…), dormir na rede e antes de tudo: respeitar a cultura alheia.

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Em nenhum momento o turista é obrigado a participar das atividades, mas tem toda a liberdade para se juntar aos rituais e brincadeiras. Quanto mais integração, melhor. Seja com os índios ou com a natureza.

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