Para muitos, a Grécia se resume a Atenas, aos seus monumentos e às incontáveis ilhas em que o sol não se faz de rogado, o mar é sempre azul e as casas caiadas de branco incitam o imaginário de qualquer viajante. Mas a Grécia é muito mais.
Eu me refiro à Macedônia, não o país, que aliás não é reconhecido como tal pelo governo grego, mas a região situada no norte e que tem em Tessalônica (ou apenas Salônica) sua principal cidade. Rival de Atenas – algo na linha de Roma x Milão, Madri x Barcelona, São Paulo x Rio – e que se juntou à Grécia somente em 1912, a cidade fez parte do Império Otomano e chegou a segundo maior centro depois de Istambul.
Ali se desenvolveu uma babel de línguas, religiões, povos e costumes. Falava-se grego, turco, árabe, francês, inglês, italiano e ladino, uma língua ibérica. Cosmopolitismo puro. A prova de que é uma pequena cidade global se traduz hoje pela culinária. Come-se divinamente no Sempriko, em um bairro residencial, e também no Ergon, um empório chique.
Somem-se a isso um povo amável e acolhedor, uma longa avenida à beira-mar (sim, além de tudo há praias), um trânsito nada caótico e preços amigáveis.
Não dá para falar de macedônios sem citar Alexandre, o Grande. Notável na guerra e na paz, discípulo de Aristóteles, viveu apenas 32 anos e seu legado foi promover o encontro da filosofia grega com a sabedoria oriental. Não é pouco.
Em Vergina e Pella, fabulosos sítios arqueológicos a 80 quilômetros de Salônica, tem-se uma pós-graduação em Alexandre, seu pai, Felipe II, e em sua época. O Museu das Sepulturas Reais de Aigai, em Vergina, guarda tumbas, como a do próprio Felipe II, esculturas, mosaicos, jóias de ouro, tudo exibido dentro das mais modernas técnicas de museologia e com uma luz dramática digna de um Oscar de fotografia.
Outro lugar subestimado pelos visitantes a duas horas de Atenas, na região da Beócia, é o Hosios Loukas, ou Mosteiro de São Lucas, complexo de construções bizantinas do século 12 situado exatamente no meio do nada. À volta, somente campo, silêncio e paz.
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Rui Porto é publicitário e escreveu estas linhas ao som de Alexandre, de Caetano Veloso, música que conta a vida do imperador |
Texto publicado na edição 258 da revista Viagem e Turismo (abril/2017)