Incensado destino de serra dos paulistanos, Campos do Jordão “acontece” no inverno. O shopping Market Plaza, aberto somente na estação, fervilha sob os letreiros de grifes caras, enquanto o circo dos estandes promocionais e das baladas temporárias se arma no entorno da Vila Capivari. Momento oportuno para a inauguração de atrativos turísticos, a alta temporada marca também a estreia das novidades permanentes de Campos. Em 2010, a grande beneficiada foi a hotelaria. Depois de dois anos embargado por questões ambientais, o Blue Mountain Hotel & Spa finalmente entrou em operação, confortável e portentoso como dele se esperava. Perto do centro comercial, o Le Renard é outro que já nasce como um dos hotéis mais aconchegantes da região, engrossando uma lista de estalagens exclusivas que não para de crescer na cidade.
Aberto no fim de maio, o Blue Mountain ocupa uma imponente construção alpina no alto da cidade, a oeste da Vila Capivari, de onde pode ser contemplado a distância. Seus 94 quartos têm vista panorâmica para o centro comercial e estão equipados com TV de LCD de 32 polegadas, DVD, cama superking e banheiro com toalheiro e piso aquecidos. Em 79 unidades (84% do total) há banheira de hidromassagem. A mobília sóbria, o piso de madeira e as facilidades tecnológicas dão às confortáveis acomodações uma feição executiva, com sutil toque serrano. Na área de lazer, a estrela é uma linda piscina de pastilhas, aquecida e coberta, vizinha de duas belas jacuzzis. Prometido para julho, o spa ostentará a grife Kyron, da socialite Yara Baumgart. Para a gastronomia, o hotel trouxe o chef Antonino Malaquias, nome rodado em cozinhas jordanenses de ponta, caso do Grande Hotel e do restaurante Baronesa Von Leithner.
Sem o porte do Blue Mountain, mas um pouco mais intimista e acolhedor, o Hotel Le Renard ergueu sua bela fachada normanda numa esquina nobre do Alto Capivari, um pedaço arborizado, tranquilo e a apenas seis quadras da vila comercial – o que, em se tratando da engarrafada Campos de inverno, é uma conveniência e tanto. Os quartos apresentam eletrônicos semelhantes ao do Blue, decoração elegante e mimos como amenities L’Occitane, roupões felpudos e espelho antiembaçante no banheiro. Elogiável para um hotel com apenas 30 acomodações, a estrutura reúne uma piscina com bom solário, duas saunas, sala de massagem by Jacques Janine e um fitness compacto mas de qualidade. O café da manhã leva a assinatura do restaurante Ludwig, um dos mais requintados da cidade.
No último dia 2 de junho, véspera do feriado de Corpus Christi, Campos abriu oficialmente sua temporada de inverno. No concorrido Market Plaza – vulgo “shopping do João Dória” –, uma lustrosa Mercedes C180KC, estacionada na entrada como se fosse a hostess do lugar, era o prenúncio de uma fileira de vitrines como Polo Ralph Laurent, Sony Style, Lacoste e La Martina, esta a única loja nacional da famosa marca argentina de roupas esportivas. No piso inferior, a pequena praça de alimentação ganhou uma filial da hamburgueria P.J. Clarke’s, fato inédito até nos shoppings da capital. A cinco quadras dali, a Estação de Inverno – um amplo deque com estandes de telefonia, carros de luxo, moda feminina e outros produtos de consumo – é o cenário das entrevistas de Amaury Jr., Otávio Mesquita e seus genéricos humorísticos, gente tão associada à cidade quanto os plátanos da linha do trem. Anexo ao Tênis Clube, o espaço abriga ainda uma filial da casa noturna Blá, que, em São Paulo, é reduto de paquera assíduo dos playboys.
Bares e baladas sazonais, aliás, não faltam à alta temporada de Campos. Além das festas abertas que pipocam no entorno da Vila Capivari, o bairro conta com lounge-bares modernosos e cinco danceterias, nas quais a entrada, sem consumação, chegava a R$ 200 durante o feriado prolongado. Para saber a programação, basta caminhar na Rua Djalma Forjaz, onde rola uma maciça distribuição de flyers à noite.
Epicentro da efervescência de Campos, a rua da cervejaria Baden Baden continua tomada de paulistanos nos fins de semana de inverno. Na animada pista de dança do bar Villa di Phoenix, a administradora Michelli Takahara, de 27 anos, explica seu fascínio pela cidade. “Eu gosto do que é bom, de curtir o clima frio, de comer em restaurantes legais e de ver pessoas bonitas e bem vestidas”, diz. Do lado de fora, milhares de jovens paqueram, bebem e se divertem, boa parte em turmas de amigos formadas nas melhores escolas da capital. Ao meu lado, a adolescente Maria Montoro, neta do ex-governador Franco Montoro, exibe o look das teens que entopem a rua: meia-calça grossa, salto alto, saia curta e um belo casaco de couro, no qual guarda o celular de última geração. Seu rosto, emoldurado em longos cabelos pretos, exibe os traços finos trazidos do berço, que uma cuidadosa maquiagem trata de ressaltar. “Venho para Campos desde que eu nasci”, conta ela, com jeito e trejeito de quem, de fato, nasceu com a cara de Campos do Jordão.