Tão antigo quanto uma cena de butô é descrever o Japão como um lugar onde o moderno encontra o tradicional. E tão velho quanto a cerimônia do chá é associar Tóquio, sua capital, a um dos destinos mais caros do mundo. Mas, se essas definições parecem incontornáveis, é preciso dizer que agora há nuances.
De fato, a cidade consta como a segunda mais onerosa no ranking global da consultoria Mercer, atrás apenas de Luanda, em Angola. Só que isso já não assusta tanto quem mora na 21ª mais cara (São Paulo) ou na 29ª (o Rio). Na hotelaria, Tóquio dispõe de endereços novos ou repaginados desde US$ 135 a diária – quartos diminutos à parte, valor semelhante ao cobrado pelos hotéis de nossas metrópoles. Dotada de um eficiente sistema de transportes, a cidade é toda interligada pelo metrô, cujo bilhete de 24 horas custa ¥ 700 (cerca de R$ 14,30), menos que uma corridinha de táxi paulistana. São 13 linhas e 282 estações, por onde viajam 8,5 milhões de pessoas diariamente, um recorde mundial. Quanto à coexistência de arranha-céus e templos sagrados, de jovens trendy e velhinhos educadíssimos, não dá para negar: muito do fascínio exercido pelo país persiste no equilíbrio entre a cultura milenar e o olhar contemporâneo. Para os brasileiros – recém-nascidos se comparados à história japonesa, anciões perante o vanguardismo de Tóquio –, esses extremos ficam ainda mais estridentes num passeio pela capital, bairro a bairro, e seus arredores. De metrô, né?
Shinjuku e Shibuya – Tóquio fantasia
É difícil não se deslumbrar com a tecnologia gritante, as telas de plasma e os letreiros coloridos das ruas de Tóquio. Nos distritos de Shinjuku e Shibuya, arranha-céus, vitrines e painéis luminosos trazem à mente as imagens futuristas dos filmes e seriados de TV. Esses dois bairros badalados vivem lotados de gente a qualquer hora do dia. Na estação Shinjuku do metrô (na linha circular de Tóquio, Yamanote), pegue a saída leste para a região das lojas, a oeste para a área comercial e a sul para o shopping Takashimaya Times Square e para o Studio Alta, ponto de encontro tão infalível quanto seu telão gigantesco. Em Shibuya, opte pela saída Hachiko e visite a estátua do famoso cachorrinho de mesmo nome, que esperou pelo dono até morrer e inspirou o filme Sempre ao Seu Lado, com Richard Gere. Olhando para cima, os néons e painéis vão confirmar que você está no maior cruzamento do mundo. Para fotografar o formigueiro humano, suba até o topo do prédio 109 ou ao 2º andar da cafeteria Starbucks. Também ficam nas adjacências o complexo multimídia Bunkamura, que reúne museu, galeria, teatro, cinema, restaurantes e lojas, e um karaokê da famosa rede Pasela, com grande seleção de músicas internacionais.
Akihabara – Made in Japan
Já que estamos falando de estereótipos japoneses, o bairro de Akihabara é parada obrigatória para quem quer conhecer os últimos lançamentos de tecnologia. Para evitar as multidões e pesquisar os preços com calma, visite o local durante a semana. O acesso é fácil: basta pegar a linha JR Yamanote do metrô e descer na estação de Akihabara. As placas vão indicar o caminho para a Electric Town. Ao sair, você vai dar de cara com dezenas de lojas de eletrônicos ao longo da Avenida Chuo (Chuo Dori) e seus arredores. As maiores redes, como a Laox e a Akky, abrigam várias lojas, são duty-free e comercializam eletrônicos e computadores tipo exportação – além de atender em inglês, que, ali, parece o idioma nativo. Uma das melhores redes japonesas, a Sofmap, tem 16 endereços em Akihabara, e a gigante Yodobashi Camera abriu sua loja perto do metrô. Mas os fanáticos por novidades do mercado japonês devem se lembrar que muitos gadgets demoram a chegar, quando chegam, ao Brasil, dificultando a troca de peças e os consertos.
Harajuku – Lolitas góticas
O desejo de expressar a individualidade faz com que japoneses usem roupas que brasileiros não ousariam vestir nem em época de Carnaval. Famoso mundialmente, o bairro de Harajuku serve como passarela da moda urbana do Japão. A ousadia fashion cria estilos inusitados em uma mistura de cores, tecidos e muitos acessórios. Aos domingos, a ponte ao lado da estação Harajuku do metrô é invadida por lolitas góticas (meninas trajadas como na era vitoriana) e pela tribo cosplay (grupos caracterizados de personagens de animações, games e bandas). Na Takeshita Dori (Rua Takeshita) há diversas vitrines de moda, incluindo as de sapatos-plataforma e de acessórios coloridos. Nela, localiza-se uma das maiores lojas de ¥ 100 (no câmbio médio de outubro, R$ 2,04) da rede Daiso. O shopping La Foret também fica pertinho e é a meca fashion de Harajuku. Nas redondezas, butiques e cafés chiquetosos dão feições de Champs-Élysées à Omotesando Dori.
Ginza – Os jardins do imperador
Grifes internacionais e lojas de departamentos como Mitsukoshi e Matsuya fazem de Ginza uma síntese da sofisticação de Tóquio. Nos fins de semana, a principal avenida do bairro é fechada para o trânsito, facilitando caminhadas até o Ginza Wako, prédio de arquitetura europeia que ostenta um relógio de 1932. Juntinho de Ginza está o Palácio Imperial, a residência oficial da família Akihito. Jardins e palácio ocupam uma área do tamanho do Central Park, em Nova York – mais que o dobro da extensão do Parque do Ibirapuera. De segunda a sexta, é possível fazer um tour guiado pelo interior da propriedade, sob reserva. Os jardins, abertos todos os dias, proporcionam uma experiência zen no coração da cidade, a dez minutos a pé da estação de trem de Tóquio. Para chegar ao bairro, há três linhas de metrô: Ginza, Hibiya e Marunouchi.
Asakusa – Portal sagrado
O Templo Kannon, também conhecido como Senso-ji, é a principal atração de Asakusa, um dos bairros mais tradicionais da capital japonesa. Um passeio pelo local começa pelo portal Kaminari, perto da saída da estação Asakusa do metrô (linha Ginza). O monumento é decorado por uma imensa lanterna vermelha de papel, com estátuas do deus do vento à direita e do deus do trovão à esquerda. Ao passar pelo primeiro pórtico, você entra na Nakamise Dori, repleta de lojinhas de suvenires e que desemboca no templo. À esquerda do Sensoji fica um pagode de cinco andares e 48 metros de altura; e, à direita, o Santuário Asakusa. Curiosamente, o bairro sedia há mais de 30 anos um festival bem brasileiro: o Carnaval de Asakusa. O evento é realizado em agosto e atrai milhares de moradores e turistas.
Ueno – Arte e ciência
Uma viagem a Tóquio não fica completa sem uma visita ao Parque de Ueno, o polo cultural da cidade. Dentro dele há instituições como o Museu Nacional de Tóquio (Tokyo Kokuritsu Hakubutsukan), sede da maior coleção de arte japonesa do mundo, o Museu Nacional de Natureza e Ciência e o zoológico (Ueno Dobutsuen). A estação de Ueno é servida pelas linhas Ginza e Hibiya do metrô e pela JR Yamanote de trem.
Arredores – Fuji e outras fugidas
Com 3 776 metros, o Monte Fuji é o ponto mais alto e o símbolo do Japão. Durante a estação oficial de escalada (julho e agosto, mas também em junho e setembro, com mais frio e menos gente), a montanha recebe milhares de visitantes e escancara um nascer do sol deslumbrante. O caminho para o topo compreende dez estágios, os cinco primeiros com acesso por carro e ônibus. Após o sexto, a subida divide-se em quatro trilhas com diferentes graus de dificuldade – a favorita dos turistas é a Yoshida. Ônibus ligam a estação Shinjuku do metrô, em Tóquio, ao quinto estágio do Monte Fuji em duas horas e meia.
Ainda mais perto da cidade, a duas horas de trem, ficam dois recantos naturais com verde exuberante, muito ar puro e bons atrativos culturais. Hakone, local do parque nacional homônimo, é uma região montanhosa com fontes termais (onsen) muito apreciadas pelos habitantes de Tóquio. Além do Lago Ashi e sua linda vista para o Monte Fuji, há impressionantes gêiseres de água sulfurosa na área de Owakudani. Para se beneficiar das propriedades terapêuticas da estância, vá ao onsen Mori No Yu, uma casa de banhos tradicional, ou ao Yunessun, que, entre 25 atrações aquáticas, tem piscina de saquê, de chá-verde e até de vinho tinto. Se você preferir um banho de arte, o Hakone Open-Air Museum, na estação Chokoku-no-Mori, traz obras de Rodin, Taro Okamoto e Pablo Picasso. Dedicado aos samurais, o Museu Hakone Mononofu-no-Sato, na estação JR Odawara, exibe artefatos de época e permite que os visitantes trajem as vestimentas de guerreiros para tirar fotos.
O outro programaço nas redondezas de Tóquio é o Parque Nacional de Nikko (Nikko Kokuritsu Koen), uma área preservada de 134,5 mil hectares com montanhas, lagos, rios, cascatas e mata verdejante. No pé do Monte Nantai (o vulcão sagrado de Nikko) fica o Lago Chuzenji (Chuzenji-ko), que deságua na majestosa Catarata Kegon (Kegon-no-Taki), de quase 100 metros de altura – uma das três mais belas do Japão.
Do hashi às facadas de Kobe
Economizou na condução? Tóquio tem alguns dos melhores (e mais caros) restaurantes do mundo
O Sukiyabashi Jiro (4-2-15 Ginza, Chuo-ku, metrô Ginza, 3535-3600; 2ª/6ª 11h30/14h e 17h/20h30, sáb 11h30/14h; reservar), do chef Ono-san e três estrelas pelo Guia Michelin 2010, prepara sushis perfeitos, entre os preferidos do premiado chef paulista Jun Sakamoto. No Kyubey (8-7-6 Ginza, Chuo-ku, metrô Shimbashi, 3751-6523; 2ª/sáb 11h30/14h e 17h30/22h; Cc: A, M, V; reservar), muitos ingredientes chegam ao balcão ainda vivos e são limpos na frente do cliente. Cena parecida você vê no Raku-tei (6-8-1 Akasaka Minato-ku, Akasaka Music Inn, metrô Akasaka, 3585-3743; 3ª/dom 10h/12h e 17h/20h30; reservar), um restaurante familiar em que o filho “mata” os frutos do mar na hora, antes de o pai empanar os tempurás. A casa integra o time de endereços duas-estrelas no último Guia Michelin, que inclui, entre outros, o Nihonryori RyuGin (7-17-24 Roppongi, Minato, metrô Roppongi, 3423-8006; 2ª/sáb 18h/2h; Cc: A, D, M, V; reservar) e o Kondo (5-5-13 Ginza, Chuo-ku, metrô Ginza, 5568-0923; 2ª/sáb 12h/15h e 17h/22h30; Cc: A, D, M, V; reservar). Para provar um bom kobe beef, carne do gado wagyu com alto nível de gordura entremeada, há o Aragawa (3-3-9 Shimbashi, Minato-ku, metrô Uchisaiwaicho, 3591-8765; 12h/22h; Cc: A, M, V; reservar), o restaurante mais caro do mundo em 2005 e 2006, segundo a revista Forbes (considere uns US$ 400 por pessoa, sem vinho), e o Gorio (8-18-3 Ginza, Chuo-ku, metrô Tsukijishijo, 3543-7214; 12h/22h; Cc: A, D, M, V; reservar), que também usa as melhores carnes. Peça para alguém do hotel fazer as reservas, já que muitos lugares só atendem em japonês.
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