Exposição Gepetos de Praga reúne marionetes da República Tcheca em SP
Até 2 de dezembro, os bonecos artesanais serão exibidos gratuitamente na Caixa Cultural São Paulo
O anseio do homem em dar vida à matéria inanimada criou vários personagens da literatura mundial. Pinóquio, uma das marionetes mais famosas do mundo, surgiu desse desejo humano. Na história italiana, quem dá vida a Pinóquio é o carpinteiro Gepeto, cujo sonho de ter um filho é realizado quando o boneco se torna um menino de verdade. “Gepeto remete a criadores. Todos nós somos criadores. Em nosso universo inconsciente, há um estímulo de trazer à tona os personagens que existem dentro de nós mesmos”, disse Clóvis Arruda, coordenador da exposição Gepetos de Praga.
Inspirados em 127 marionetes vindas da República Tcheca para a exposição aberta sábado (29), na capital paulista, adultos e crianças poderão se sentir como Gepeto. Além de levar o visitante à observação das obras com uma trilha sonora especialmente produzida, a mostra conta com oficinas, onde o público pode manusear e até construir marionetes.
O tcheco Pavel Truhlar, um dos bonequeiros mais importantes do seu país, auxilia os visitantes nessa tarefa. Ele comandará oficinas em que será ensinada a arte de fazer marionetes, mas de um modo despretensioso. “Eu gostaria que as crianças simplesmente brincassem, ficassem alegres. E que, de repente, abrisse algo novo dentro delas, no mundo imaginário”, disse Truhlar.
Entre as obras em exposição, 90 são de autores contemporâneos, posteriores à década de 1950. O restante das peças são raridades, confeccionadas a partir de 1873. Segundo Arruda, as marionetes surgiram há muitos séculos na República Tcheca, vindas da Itália, Holanda e França. “Estão presentes de uma forma muito intensa na cultura [tcheca] desde o século 12”, contou.
Com o passar do tempo, porém, essa arte não morreu por lá. “A tradição está viva até hoje e crescendo mais entre os grupos que fazem teatro. Lá, a arte é popular, mas também muito profissionalizada. Tem alguns teatros que fazem performances nas ruas, mas são poucos. Geralmente, os grupos têm os seus teatros e são itinerantes”, disse Truhlar.
Para a mostra, Truhlar levou algumas de suas criações. Uma delas traz o cenário e os personagens de As Viagens de Guliver, em que Truhlar entra em cena – ele próprio – fazendo o papel do gigante Guliver. “As marionetes ficam pequenas perto de mim e fazem os outros personagens”, contou. O tcheco revelou ainda que os personagens da história de Guliver são seus favoritos na exposição. “Porque essas marionetes já alegraram, durante 13 anos, muita gente no mundo inteiro”, disse.
Já o visitante Tiago Prates, de 10 anos, elegeu outra marionete como preferida. “Gostei do bobo da corte tocando o alaúde. Já tinha visto outras marionetes, mas não de madeira, tão entalhadas, tão bem feitas”, disse. Lucas Grillo, de 10 anos, ficou impressionado com a marionete do Don Juan. “Ela lembra a Era Medieval. Está muito benfeita, nem parece que é de madeira, parece uma holografia”, disse. O menino revelou estar animado para participar da oficina para construir seu próprio boneco: “Pretendo fazer um homem num cavalo”, contou.
A mostra também traz palestras voltadas para profissionais da área, que queiram aprender mais sobre marionetes. “Há o propósito de criar um ponto de referência entre os profissionais que trabalham com esse tipo de arte aqui no Brasil”, conta Arruda. Interessado em participar, o cenógrafo e figurinista de marionetes da companhia Truks, Dalmir Rogério Pereira, observou as obras e fez comparações com o trabalho feito no Brasil. Ele reconheceu certas semelhanças entre os dois países. “A relação com o popular, a presença do cristianismo no imaginário, na figura dos demônios, dos anjos”, destacou.
Dalmir notou, porém, uma diferença no sistema de manipulação dos bonecos. “Assim como os portugueses, os tchecos trabalham com bonecos de fios, com um varão que sai do alto da cabeça”, disse. Segundo ele, essa técnica dá liberdade para movimentar os fios através da cruzeta, que movimenta pés, pescoço e mãos da marionete. Já na companhia em que trabalha, Dalmir usa um sistema chamado bunraku, uma tradição milenar japonesa de manipulação direta dos bonecos. “São três manipulares para cada boneco. Um controla a cabeça e o tronco, outro controla as mãos e o terceiro controla os pés”, explicou.
Gepetos de Praga – A arte viva das marionetes
Quando: até 2 de dezembro; terça-feira a domingo, das 9h às 21h
Onde: Caixa Cultural São Paulo – Praça da Sé, 111 – Centro – São Paulo (SP)
Quanto: grátis
Mais informações: (11) 3321-4400
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