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Eu sei que vou te amar

Monte Verde, no friozinho da Serra da Mantiqueira, tem natureza exuberante, passeios legais e pousadas com clima de lua de mel

Por Fernando Souza
Atualizado em 16 dez 2016, 09h15 - Publicado em 12 set 2011, 20h57

Poucos destinos de inverno são tão associados a romance quanto Monte Verde, famoso distrito de Camanducaia, no sul de Minas, a 167 quilômetros de São Paulo. Encravada na Serra da Mantiqueira a quase 1 600 metros de altitude, a vila não tem a opulência de Campos do Jordão nem a gastronomia estrelada de Visconde de Mauá. À primeira vista, a localidade resume-se a uma estreita avenida cheia de bares, restaurantes e lojas de malhas, chocolates e congêneres serranos. Dessa via principal, porém, parte um emaranhado de ruas de terra cercadas de araucárias, vales e mirantes – cenários que podem ser apreciados em trilhas pela mata, nos passeios de quadriciclo ou de dentro das próprias pousadas, sob o edredom, bem agarradinhos, com a lenha crepitando na lareira e a taça de vinho descansando no criado-mudo.

Pousada romântica, aliás, é o que não falta em Monte Verde. Inaugurada em abril passado, a Bucaneve tem quartos com bom enxoval, LCD, DVD e hidromassagem dupla. Na Estalagem Wiesbaden, há chalés com hidro, ofurô e até minipiscina. Como os donos moram ali, espere por mimos e caprichos no atendimento. Horsconcours da região, as acomodações do Kuriuwa esbanjam ao menos 63 metros quadrados de área. Na Nico on the Hill, é a simpatia do casal Nico e Beatriz Pereira que faz a diferença. Os turismólogos Leonardo Barros e Tamara Melo saíram de São Paulo para comemorar o aniversário de 1 ano de casamento na Pousada Ahavanoah, aberta em 2009. “Tem até frigobar vintage”, diz Tamara. Para completar o pacote lua-de-mel-sem-fim, quase todas as pousadas do distrito contam com lareira nas acomodações, vista generosa para o verde e um silêncio de sonho, desafiando os casais a sair da cama.

Se há muito a fazer edredom abaixo, há ainda mais montanhas acima. Da Praça da Árvore, no centrinho, parte uma rua de terra ruim que leva a diversos mirantes no alto da serra. Estacione o carro no final da via, a 3,5 quilômetros da vila, e siga a pé pelo caminho sinalizado para as pedras Partida e Redonda. Cinco minutos depois, entre à esquerda numa trilha estreita, em meio à mata densa, sob o frescor dos quase 2 mil metros de altitude. A subida de terra batida coberta de folhas secas dura menos de 20 minutos. Ao avistar uma enorme laje rochosa a céu aberto, você terá chegado à Pedra Redonda, que escancara 360 graus de montanhas ondulantes no coração da Serra da Mantiqueira.

Outro programa clássico do distrito são os passeios de quadriciclo guiados. O roteiro de uma hora percorre ruas sem pavimento e cercadas de muito verde, algumas com vista privilegiada para a vila comercial, e culmina no aeroporto. Daquela pista de terra partem voos panorâmicos em avião monomotor para toda a Mantiqueira. No mais, Monte Verde é um playground para ecoturistas: há trekking até o Pico do Selado, a 2 083 metros de altitude; o arvorismo do Espaço Adélia, montado numa área repleta de araucárias; os passeios de jipe; e a grande novidade da temporada, a Mega Tirolesa.

Dono de uma fazenda de 100 alqueires, Robert Hamacher vislumbrou no vale forrado de eucaliptos uma atividade que combinasse adrenalina com a vista espetacular do desfiladeiro. O condutor Pezão é quem instiga os visitantes: “Vamos voar?”, repete ele. Não é força de expressão. Pendurado em dois cabos de aço, o praticante desliza por 450 metros, a quase 50 quilômetros por hora, até o outro lado do vale, com as pernas balançando 65 metros acima dos pinheiros. Na falta de um cliente para me encorajar, Pezão coloca o equipamento em Letícia, a filha de 10 anos de Hamacher, que desce a longa barriga de cabos assobiando. Sem escusas, lá vou eu. Logo após a saída, o raso barranco sob os meus pés desaparece entre uma fi leira de árvores, dando lugar a um vazio alucinante. Outra tirolesa faz o percurso de volta, numa travessia ainda mais alta (75 metros) e comprida (475 metros) – e, o que é melhor, sem a paúra da ida.

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Além dos casais e ecoturistas, muitas famílias sobem a serra para curtir o clima e as atrações de Monte Verde. Na casa alpina onde o hospitaleiro casal Donatila e Arnis Luca vende geleias, há um jardim cheio de bem-te-vis, beija-flores, melros e canários-da-terra. O esquilo Tiquinho, outro desinibido morador local, apanha castanhas nas mãos das crianças. Para a molecada que quer fazer programa de adulto, a Monte Moto tem uma pista de quadriciclo particular, minimizando os riscos de acidentes. Há ainda um rinque de patinação no gelo no fim da avenida principal, muito concorrido nos fins de tarde. Entre os hotéis, o Cabeça de Boi tem tradição na recreação infantil, mas fica devendo na conservação dos quartos.

Termômetro do movimento turístico, a Avenida Monte Verde concentra quase todo o comércio local. Sem grandes predicados gourmet, os restaurantes têm uma atmosfera datada, em que músicas românticas das décadas de 1970 a 90, como Every Time You Go Away, de Paul Young, fazem Coldplay parecer uma banda indie. Para não correr perigos gastronômicos, peça truta no almoço, ingrediente farto e criado na região, e fondue no jantar. Nos bares, os luminosos das cervejas de trigo alemãs refl etem a boa oferta dessa bebida nas cartas. Tal modismo ajudou o distrito a inaugurar o Chopp do Fritz, misto de choperia e microcervejaria que promove visitas à fábrica. O chope? Não é lá um Baden Baden, mas tem a água, o frescor e a autenticidade de Monte Verde.

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