Escapadas radicais
Não é preciso ir muito longe ou ser atleta para ter um fim de semana na natureza com adrenalina. Os repórteres da VT caminharam, mergulharam, fizeram rafting, andaram de bike e até voaram de planador perto da capital
PLANADOR
Haja estômago
Por CARMEN FUKUNARI
Em uma manhã azul, experimentei a sensação de me aproximar do céu (quase) em silêncio a bordo de um planador, avião sem motor. Para turbinar a adrenalina, não havia paraquedas no Aeroclube Politécnico (planadoresjundiai.org.br; R$ 250), em Jundiaí, a 63 quilômetros de São Paulo. Aliás, antes de eu contar como foi, aviso: não existe legislação que obrigue o uso desse equipamento. Não há estatística de acidentes com planadores, mas eles são muito raros, segundo o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), consultado pela VT.
Ciente disso, assinei o termo de responsabilidade e entrei numa Quantum com destino à cabeceira da pista, onde esperaria a minha vez. Lá, não ouvi um ruído, mas eis que surge uma cápsula branca rebocada por um trator. Não dava mais para voltar atrás. Oba! Antes de embarcar, como é de praxe, o piloto que iria comigo (são só você e ele no voo) indagou- me, meio sem jeito: “Quanto você pesa?” É que só voa quem tem entre 40 e 100 quilos. Cintos atados, corda conectando o planador ao monomotor, e lá vamos nós! O rebocador à nossa frente foi ganhando altitude, e a gente foi na cola. Quando ele atingiu 800 metros, o piloto do planador soltou a corda que nos rebocava. Começamos a planar em círculos e, minutos depois, vi alguns urubus. “eles sabem aproveitar as térmicas”, disse o piloto, referindo- se às massas de ar quente que impulsionam urubus e também planadores para cima. Nossa térmica nos fez subir de 2 a 3 metros por segundo, o que tornava a vista de 180 graus cada vez melhor – a nave tem uma espécie de redoma transparente. Curti a serra do Japi, a região preservada a oeste de Jundiaí, sem molduras!
Quando atingimos 1 000 metros, o sol me fitou. Bom motivo para você usar boné, óculos escuros e protetor solar. Abri a janelinha, mas o barulho do vento era insuportável. Após 20 minutos de passeio, que dura 30, começamos a descer. O piloto ensaiou uma manobra a 90 graus, mas desistiu quando eu lhe disse que meu estômago estava saindo pela boca (nada que tenha impedido meu almoço, mais tarde, em Jundiaí, no Sal da Terra. O pouso, felizmente, foi muito suave e silencioso. Voar sem motor é incrível, mas eu ainda gostaria de sentir o vento no rosto… De repente num parapente.
Repórter já sem capacete em Nazaré Paulista – Foto: Guilherme Lima
BIKE
Vamos trilhar?
Por LUIZ AYMAR
Eu queria um fim de semana diferente e escolhi uma trilha em Nazaré Paulista, a 63 quilômetros de São Paulo. Amo pedalar, mas não faço da bike minha companheira diária. Só que a falta de ritmo não seria empecilho, e a trilha, de 18 quilômetros, era tida como leve. Chamei a namorada e um casal de amigos, peguei a Dom Pedro I (você pode acessá-la pela Fernão Dias, pela Carvalho Pinto ou até mesmo pela pequena estrada Guarulhos–Nazaré Paulista) e, no quilômetro 38, tomei a saída para o Bairro Santa Luzia até a trilha. A partida é na Pousada Fazendinha (hotelpousadafazendinha.com.br), onde, caso você não queira ficar (diárias desde R$ 120), dá para estacionar o carro (R$ 5) e almoçar. A trilha margeia a represa do Rio Atibainha, de água cristalina. Ao som do vento e dos pássaros, reservei água para o trajeto, coloquei capacete e bermuda. A aventura começa no cascalho, onde senti falta de luvas – a troca de marchas é intensa. Depois de 5 quilômetros, a primeira ladeira. A paisagem é linda: a mata é fechada, com árvores enormes, mas há de ter atenção, pois em segundos o terreno muda de cascalho para areia fofa. Na segunda metade da trilha, mais aberta, diminuímos o ritmo para curtir mais a paisagem. Em algumas ladeiras, empurrei a bike. Era hora de parar para um mergulho nessa água limpa e fria – há pontos para nadar em boa parte da trilha. Depois, com o sol caindo, concluímos o passeio na pousada com tempo para descansar as pernas na rede. Fadiga deliciosa.
O bote com o repórter (de olhos fechados, ao fundo) desce as corredeiras do Juquiá, a uma hora de São Paulo – Foto: Divulgação Canoar
RAFTING
Tenente Dan
Por BRUNO FAVORETTO
Na condição de futebolista frustrado, desenvolvi uma fixação por conhecer novos esportes. Fui campeão paulista de futebol de botão, tentei o tênis de mesa, completei a maratona de Nova York. Mas eu adoro água corrente e sangue correndo nas veias. Chegara a hora de me jogar no rafing. Homem ao mar, ou melhor, ao Rio Juquiá, em Juquitiba, a uma horinha da capital pela Régis Bittencourt.
Como bom virginiano, cheguei ao sítio Canoar (canoar.com.br; R$ 90) duas horas antes para reconhecer o terreno. Almocei ali mesmo (R$ 30). Estava aflito. Menos pelas pedras e corredeiras, mais pelo fato de ser paraplégico e saber que seria preciso sentar à borda do bote para remar, um sacrifício para quem tem pouco equilíbrio de tronco. Fiquei zen quando conheci o instrutor Sidney e os dois casais de marujos que debutariam comigo. Sidão recomendou que eu não pegasse o remo, apenas ajudasse com o peso do corpo. O curioso é que, durante as orientações, vi que cerca de 30% dos 70 aventureiros que ocupariam os 14 botes não sabiam nadar. Tinha gente dos 7 aos 60 anos. Mas, com o colete e os instrutores por perto, não havia o que temer. Fui carregado por uma trilha até o Juquiá para encarar 5,7 quilômetros de corredeiras de nível 2 (ideais para iniciantes). Fantástico, o rio corta a mata atlântica. Nada de engarrafamento. Só astral.
O ponto mais legal é o “surfe”, em que se rema sobre uma espécie de redemoinho. O bote se remexe como uma passista, mas não fui arremessado. Em choque por causa da revigorante e revolta água gelada, eu me senti como o Tenente Dan, deficiente do filme Forrest Gump que desafia o mar em um barco pesqueiro. Depois de tudo, voltei para casa dopado pela endorfina e já comecei a tramar meu próximo rafing.
Trilha que leva ao Pico – Foto: Paulo Vieira
TREKKING
Pique no Pico
Por PAULO VIEIRA
No meu currículo de escalador – ou de escalaminhador, para ser mais preciso – não figuram as montanhas míticas de que ouvimos falar em filmes, livros e nesta brava VT. Meus feitos incluem a bonita Pedra do Baú, vencida em fins de semana lisérgicos e outros nem tanto, e, posso dizer agora, o Pico do Jaraguá, esse Redentor, esse Huayna Picchu da capital paulista. São na verdade dois os picos, os dois ocupados desde antes do Dilúvio por antenas de emissoras de TV, mas só aquela mais ao sul, a da Band, é visitável. Dá para ir de carro até a base do Pico e aí se contentar em vencer os menos de 300 degraus até o topo. Lá de cima, a visão já foi mais empolgante, quando o ar da cidade não era exclusivo do monóxido de carbono.
Mas não falo disso. A caminhada que fiz começa no portão do Parque Estadual do Jaraguá, que protege a Mata Atlântica da região, ao lado do lago. Logo aparece a curta Trilha do Pai Zé, de menos de 1 quilômetro, que leva, por dentro da mata, até o Pico. Curta, mas sempre ascendente, com seu final a castigar a nossa moleira, já que no lugar das árvores majestosas surgem os arbustos. Centenas de paulistanos dividiram a trilha em um domingo de sol de setembro, muitos de chinelo, outros de roupa social, alguns de cajado, dando à caminhada um certo sabor de romaria, como se benesses nos esperassem ao fim da jornada.
Mas as benesses estão no meio. Durante a trilha você passa por saguis e macacos-pregos, que se fazem percebidos e descem ao primeiro sinal de que você vai abrir a mochila e tirar dali algo que lembre comida (mas recomenda-se não alimentá-los para que não virem vagabundos). É um sucesso com as crianças. Não há passagens de risco; porém, como o trajeto é em aclive ou declive (com degraus de madeira na trilha), você não está isento de escorregões. O Pico, de qualquer forma, junto com a Pedra Grande, na Cantareira, é muito prazeroso e acessível para um trekking de fim de semana – ou mesmo antes de ir trabalhar, se o seu horário permitir. Se você optar por ir em uma tarde de sábado ou no domingo, considere pedalar até o trem da CPTM (linha 7), colocar a bike no vagão e descer na estação Vila Clarisse, a 1 quilômetro do parque. Desde que o trem opere, claro, o que não aconteceu naquele domingo.
Mergulho na Ilha das Cabras – Foto: Thiago Guirado Prata
MERGULHO
Mar adentro
Por VIVIANE AGUIAR
“Agora é só descer”, avisou o instrutor. Três amigos e eu, boiando no mar ao lado da Ilha das Cabras, a 100 metros da costa de Ilhabela, um dos pontos paulistas com a melhor visibilidade embaixo d’água – junto com a Ilha das Couves, em Ubatuba, e a Laje de Santos. Chegara o sacramento. Até o batismo pela Colonial Diver (colonialdiver.com.br; mergulho desde R$ 300), tivemos de assimilar inúmeras regras, duas delas transformadas em um mantra: respire, respire (puxando e soltando o ar que vem do regulador, o respirador que vai preso ao cilindro) e equalize equalize (prendendo o nariz e assoprando para equilibrar a pressão interna do ouvido com a da água). Esses mantras ocupavam meus pensamentos enquanto eu submergia 6 metros. Fui relaxando aos poucos conforme percebia que um mundo desconhecido se revelava. Deu para dizer oi a um linguado e a um sargo-de-beiço, passar pertinho de estrelas-do-mar e ter uma inédita sensação de liberdade, como se tivesse escapulido da terra, voando sem gravidade, sem estresse. Ao sair da água, ouvi alguém dizer que mergulhar era como dirigir: depois que se domina a técnica, ninguém pensa mais no que está fazendo. Para mim, a experiência tem mais a ver com a primeira vez em que andei de bicicleta. Não foi a necessidade de dominar o veículo, mas a sensação gostosa de sentir o vento na cara e de ter vencido um desafio que me fez subir na bike pela segunda vez. Agora, já batizada, não vejo a hora de que a minha segunda vez no mergulho também chegue. E, como provavelmente você vai querer esticar o fim de semana na praia, ache custo/benefício no Hostel Central (alberguecentral.com.br; desde R$ 43), a 5 quilômetros da ilha das Cabras.
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