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Encontrei Jesus em uma viagem que fiz com o escritor Paulo Coelho

Por Da Redação
Atualizado em 22 fev 2017, 08h12 - Publicado em 16 set 2016, 11h09

“Precisamos fazer um pacto. Eu e você, numa igreja católica. De preferência, amanhã mesmo. Só assim levarei o projeto adiante.” O best-seller Paulo Coelho – em carne, osso e aura – estabeleceu a condição uns 15 minutos depois de nos conhecermos. Era abril de 2001, e estávamos num Boeing. A aeronave, que partira do Rio, seguia para Bogotá, onde o autor lançaria O Demônio e a Senhorita Prym.

Ele viajava na classe executiva (óbvio) e sabia que um jornalista da econômica iria procurá-lo durante o voo. Havia poucas semanas, uma editora me propusera escrever a biografia autorizada do romancista. Paulo simpatizou com a ideia, mas mandou avisar que não a aprovaria sem antes me encontrar. Queria ver se nossos santos batiam. Sugeriu, então, que o acompanhasse à capital da Colômbia. Até aquela ocasião, nenhum de nós visitara a cidade.

Chegamos à noitinha e nos dirigimos para o luxuoso Hotel Estelar La Fontana. Na manhã seguinte, pedimos à concierge que nos indicasse a igreja mais próxima. Já não recordo o nome do templo em que, diante de Cristo, firmamos o tal pacto: o compromisso de nos respeitar mutuamente enquanto trabalhássemos juntos. Mas lembro de que se localizava na Praça de Usaquén.

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Quando deixamos a igreja, resolvemos caminhar. De repente, um sobrado despertou a atenção do mago. “Gostei daqui”, comentou. Um rapaz, que saía da casa, logo o reconheceu: “Dom Paulo! Que honra! Entre, por favor”. Bastou darmos uns passos para notar que o interior do sobrado evocava O Alquimista, talvez o livro mais famoso do escritor. Partes do romance, transcritas e ilustradas, se espalhavam pelas paredes.

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O moço explicou que ali funcionava um híbrido de café e escola para jovens pobres. “Tomei coragem de inaugurar o espaço depois de ler O Alquimista e aprender uma lição preciosa: devemos buscar aquilo que desejamos profundamente.” O romancista perguntou como o rapaz se chamava. “Jesus”, respondeu. Quase caí para trás. “Vá se acostumando”, me disse Paulo, risonho. “Eu atraio coincidências.” De fato, enquanto convivemos, pude testemunhar outras situações intrigantes. Em 2002, porém, o romancista acabou desistindo do projeto e nunca mais nos falamos.

Armando Antenore se sentou às margens do Rio Piedra e sorriu (foto: arquivo pessoal)

Armando Antenore se sentou às margens do Rio Piedra e sorriu (foto: arquivo pessoal)

Texto publicado na edição 241 da revista Viagem e Turismo (novembro/2015)

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