É possível?

Será que Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 mudarão o número de turistas estrangeiros no Brasil?

Por Paulo Vieira
Atualizado em 14 dez 2016, 12h05 - Publicado em 8 set 2011, 19h51

O slogan do turismo sul-africano é “É possível”. Lembra a expressão “Si, se puede” cantada pela torcida dos times argentinos e paraguaios (e agora equatorianos) quando enfrentam os europeus na final do torneio intercontinental de clubes. As frases partem da ideia de que a tal possibilidade é, na verdade, bastante remota, daí ser necessário fazer crer que, sim, é possível, ou que, sim, se pode. Porque muito melhor tradução disso seria “bem, talvez possamos, é difícil, você sabe, mas vamos dar o melhor de nós”.

Fazer turismo na África do Sul certamente já foi menos possível, mas, para um americano e um europeu, a quem esses slogans normalmente se destinam, continua sendo algo bem mais difícil do que ir ao Caribe ou a um país próximo. De todo modo, a África do Sul bem que poderia emprestar ao Ministério do Turismo brasileiro a tal frase. Há quase dez anos estamos estagnados no número de turistas estrangeiros que vêm ao Brasil, e isso apesar das entrevistas do Lula, da capa da revista The Economist, do ingresso do Eike Batista na lista dos dez maiores bilionários do mundo, da visita do Ahmadinejad e, mais importante, do crescimento gradual do turismo no mundo. A Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016, celebradas como vitórias e afirmação do novo papel do Brasil de player mundial, são vistas como um ponto de inflexão do nosso turismo, a nossa redenção. Mas será mesmo possível sairmos sustentavelmente do patamar histórico de 5 milhões de turistas estrangeiros? Vemos sinais de que isso irá ocorrer?

Só comendo muito feijão. A aviação, se já não vive o pandemônio dos anos recentes, continua na mão de pouquíssimos, o que cria distorções como não se poder voar entre, digamos, São Luís e Teresina exceto com uma conexão em… Brasília. Os aeroportos estão faz décadas defasados, o que a nossa caríssima taxa de embarque não parece querer passar recibo. Há muito tempo não existem trens no país, e a tarifa que se estuda para o sonhado trem-bala é de mais de R$ 200 (trecho). De carro, são aqueles pedágios todos que conhecemos – ou estradas do nível da BR-101.

Não queria estar bancando o Nestor da história, mas pensar nos lindos comerciais de TV que devem surgir em julho, com o encerramento desta Copa – “Agora chegou a nossa vez”, eles dirão -, e no clima de 190 milhões em ação que deve vir por aí, já começa a me dar uma irritante sensação de déjà vu. Será possível?

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