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Divino maravilhoso

O acaso levou nossa colunista a topar com o restaurante favorito do escritor José Saramago, em Lisboa

Por Gabriela Erbetta
Atualizado em 16 dez 2016, 08h31 - Publicado em 31 jul 2012, 18h26

Sou do tipo que se emociona ao visitar lugares um dia frequentados por artistas que admiro. Adorei passear pelas casas do escritor Ernest Hemingway, em Key West, e do pintor Xul solar, em Buenos Aires, ambas transformadas em museus. E uma vez, por acaso – eu só descobri quando vi a plaquinha na porta –, me hospedei em um hotel de Paris instalado no prédio onde Oscar Wilde morou, em 1899.

Percebi uma tabuleta parecida num canto do restaurante Farta Brutos (Travessa da Espera, 20), em Lisboa. Dizia “José saramago – mesa e lugar preferidos”. vejam bem: Saramago não é meu escritor português predileto (sou team Eça). Mas escreveu O Evangelho Segundo Jesus Cristo, um dos poucos livros que volta e meia pego para ler de novo, e, caramba, o homem ganhou o Nobel. Depois de subir algumas ladeiras entre o Chiado e o Bairro alto, ter entrado pela portinha um tanto escondida do Farta Brutos sem saber que aquele era o restaurante favorito do portuga parecia ainda melhor do que programar uma visita à casa dele em Lanzarote, nas Canárias, onde viveu desde 1993 até morrer, em 2010.

Quando começaram a chegar os pratos, comida lusitana de raiz, entendi o motivo de o escritor ter estado ali tantas vezes, como atestam os quadrinhos afixados nas paredes. Pataniscas de bacalhau, uns bolinhos de fritura bem leve, com arroz umedecido de tomate. Pedaços de peixe e camarões mergulhados em um molho repleto de coentro. Nacos generosos de carne de pato escondidos sob uma camada de arroz sequinho e fatias de linguiça. Na sobremesa, travessas cheias de doce de laranja (“temperado com um segredinho”, atesta a chef-garçonete Fernanda), ovos moles, leite creme, maçã assada, pera em calda de vinho tinto e papos de anjo para cada um se servir à vontade. A conta deu € 30 por pessoa (o banquete de sobremesas custa apenas € 5). E só não recomendo comer rezando porque assim ofenderia a memória do velho ateu Saramago.

*Gabriela Erbetta se diz ateia, mas fez promessa de voltar ao Farta Brutos

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