“Mas você vai sozinha?!?” Ué, e daí? Para essas moças acostumadas a pegar a estrada sem companhia, a trabalho ou para lazer, a viagem pode tanto ser uma extensão da vida quanto aquela esperada fuga do cotidiano. Só não é mais um bicho de sete cabeças.
Mulheres que viajam sozinhas sempre têm histórias para contar e estão dispostas a compartilhar suas dicas, seus perrengues, suas trapalhadas e suas descobertas. Mas, raras exceções, são vistas com desconfiança ou, pior, com uma pontada de pena. Por quê?
Homem viajando sozinho é aventureiro, lobo solitário, desbravador. Mas a mulher ainda lida com o estigma de ser aquela que “ficou pra titia”, a chata, a louca ou, pior: “Ela não tem companhia, tadinha”. O julgamento existe e não raro vem das próprias mulheres. Somos acostumadas a depender de outro ser humano para nos sentir aprovadas e tememos nos aventurar fora de casa quando o assunto é diversão. Jantar sozinha em restaurante? Estranho. Ir a um show sem ninguém? Desconfortável. Drinque sozinha num bar? Ah, só se estiver procurando problema (ou homem; às vezes é a mesma coisa).
Medo é um limitador e tanto. Por medo a gente deixa de andar à noite, de falar com aquela pessoa que queria conhecer, de comer algo diferente. A gente perde muita coisa por causa de medo, inclusive a oportunidade de fazer a viagem superdesejada, que acaba largada no fundo da gaveta de ideias porque, “ah, não tinha com quem ir”.
Bobagem. O mundo pode não ser o seu quintal, mas muitas vezes a melhor companhia é você mesma. E, como alguém que realmente curte viajar solo, quando me perguntam, respondo: viajar sozinha é o meu momento de entender minhas escolhas. Pode assustar, mas é libertador.
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O texto é da escritora Gaía Passarelli, que publicou o livro de crônicas Mas você vai sozinha? (Globo Livros) |