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Cresce o número de brasileiros deportados do México

Turistas têm sido submetidos a maus-tratos nos aeroportos mexicanos. Escrutínio de comprovantes, reservas e dinheiro tem sido prática comum

Por Bárbara Ligero
Atualizado em 7 jan 2020, 16h54 - Publicado em 7 jan 2020, 16h22
Painel com Mexico City escrito, Cidade do México, México
 (Getty Images/Getty Images)
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Em nota publicada ontem (6), o Consulado-Geral do Brasil no México admitiu que um número considerável de brasileiros tem sua entrada negada ao viajar para o país e alertou que os mesmos são obrigados a esperar seu retorno ao Brasil, por horas ou dias, detidos em salas de aeroportos internacionais em condições equivalentes à de cadeias.

Desde 2013, o México não exige visto de brasileiros a turismo ou a negócios em estadias de até 180 dias. Porém, o próprio site do consulado avisa que os controles migratórios mexicanos tendem a ser rigorosos em comparação com os dos países da América do Sul. Os viajantes devem comprovar a finalidade da sua viagem apresentando:

– passaporte com validade mínima de seis meses a partir da data pretendida de entrada em território mexicano,

– prova de meios de subsistência compatíveis com a quantidade de dias que permanecerá no México, preferencialmente em dólares norte-americanos, pesos mexicanos e cartão de crédito internacional;

– passagem de regresso ao Brasil ou com destino a outro país;

– passagens domésticas de ônibus ou avião, comprovantes de locação de carro ou comprovantes de contratação de serviços de transporte;

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– comprovante de hospedagem contendo nome, endereço e telefone do hotel ou “carta-convite” do anfitrião que oferecerá hospedagem (modelo disponível aqui);

– comprovante com nome, endereço e telefone da empresa com o qual manterá reuniões de negócios, inclusive com o nome do funcionário de tal empresa, no caso de viagem a trabalho.

Além disso, sugere-se levar:

– comprovantes de exercício de profissão ou de rendimentos (como carteira de trabalho e contracheques);

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– passaportes antigos em que haja visto de turismo válido para os Estados Unidos.

É imprescindível que o viajante leve cópias impressas de tais documentos, já que as salas de controle migratórios dos principais aeroportos do México não permitem a conexão de celulares à internet. Também não adianta deixar os arquivos salvos no e-mail ou em nuvens: a qualquer momento os agentes migratórios podem confiscar os celulares.

O assessor executivo Alex Evans, de Santa Rita do Passa Quatro, viajou para a Cidade do México em dezembro de 2019, seguiu as instruções do consulado à risca e conseguiu entrar no país, mas não sem ser bastante questionado antes.

“A fila no Aeroporto da Cidade do México estava enorme e, na hora de passar pela imigração, a funcionária foi bem seca nas perguntas. Ela me pediu documentos de hospedagem no hotel, passagens de ida e volta que ela folheou várias vezes, reservas de passeios e até o comprovante de compra do ingresso de um show que eu assistiria. Acredito que se eu não estivesse com toda essa papelada em mãos e não estivesse levando dólares, ela teria impedido a minha entrada no país”, ele contou em entrevista à Viagem e Turismo.

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Maus-tratos

É importante lembrar, porém, que mesmo que o viajante apresente todos os documentos requisitados, os agentes migratórios têm o poder de impedir a entrada no México. Ainda em nota divulgada ontem (6), o Consulado-Geral do Brasil no México reconheceu uma série de maus-tratos aos quais os cidadãos brasileiros podem ser submetidos enquanto aguardam a deportação.

Em primeiro lugar, homens e mulheres são separados e não há previsão de que famílias, inclusive com crianças, possam aguardar juntas o seu retorno ao Brasil. Durante a espera, os brasileiros inadmitidos têm todos os seus pertences apreendidos e devem dividir alojamento com outros migrantes detidos, além de dormir em colchonetes plásticos ou bancos de concreto.

Não há garantia de que comida e/ou água serão fornecidos regularmente aos passageiros e, devido a uma proibição da lei mexicana, o Governo brasileiro tampouco pode intervir fornecendo mantimentos.

Na teoria, em casos como esse os viajantes têm direito a realizar uma chamada telefônica ao Consulado Geral do Brasil na Cidade do México (+52 55 3455 3991). Porém, o próprio órgão relata que, muitas vezes, nem mesmo esse direito é concedido pelas autoridades mexicanas – e afirma: “o Governo brasileiro vem trabalhando, há meses, com vistas a reduzir o número de inadmissões e exigir melhores condições de alojamento para brasileiros inadmitidos. A prioridade é, entretanto, manter o cidadão brasileiro atualizado sobre o cenário atual, para que possa tomar uma decisão informada sobre seus deslocamentos internacionais.”

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O rigor na imigração tem nome: Trump

Ao que tudo indica, o aumento na rigorosidade e no número de viajantes deportados são uma forma do México mostrar para os Estados Unidos que está fazendo sua lição de casa. Como muitos imigrantes ilegais entram nos EUA pela fronteira mexicana, o presidente Donald Trump ameaçou implementar tarifas sobre as importações mexicanas caso o país não agisse para impedir a migração ilegal.

Em entrevista ao GLOBO, a embaixadora Wanja Campos da Nóbrega, cônsul geral do Brasil no México, afirmou que a postura estrita dos órgãos de controle migratório mexicano realmente visa combater fluxos migratórios de latino-americanos, inclusive brasileiros, aos Estados Unidos. A medida já está tendo resultados: ontem (6), o México anunciou ter conseguido reduzir em 56% o fluxo de migrantes para os EUA desde maio.

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