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Confissões de uma instrutora de esqui

Ela conta como foi a experiência de apresentar o esqui a crianças de 4 e 5 anos de idade

Por Fernando Souza (edição)
Atualizado em 2 jul 2021, 13h02 - Publicado em 14 ago 2012, 19h21

Sou formada em turismo e, quando estava na faculdade, trabalhei na estação Heavenly, em Lake Tahoe, na Califórnia, por três temporadas (de 2004 a 2007). Comecei como caixa de uma loja que alugava equipamentos, passei a operadora de teleféricos e, aprendiz voraz de esqui, logo me interessei em virar instrutora: parecia bem mais divertido, pagava quase o dobro (US$ 12 a hora mais gorjetas) e era o “must” da estação, o cargo mais privilegiado. Na segunda viagem, fiz um curso chamado Learn to Be e, depois de algumas lições avançadas, consegui meu certificado de instrutora, especialista em crianças de 4 e 5 anos. Era raro um brasileiro dar aulas de esqui. Não conheci nenhum outro.

Ensinar crianças tão pequenas significava ser babá também. Eu as recebia às 8h30, ajudava a colocar o equipamento e subia a montanha até uma área plana de learning. Lá, ministrava as técnicas, dava lanche e almoço (só McDonald’s e Domino’s), brincava na neve e atendia a qualquer necessidade delas. As crianças eram separadas por habilidade e, à medida que avançavam no aprendizado, podiam seguir comigo para as pistas iniciantes.

Eu morava em uma casa alugada com outras pessoas da estação. Nas horas vagas, íamos aos cassinos do estado de Nevada (quase do outro lado da rua, já que a cidade fica bem na divisa) e aos pubs próximos à montanha. Trabalhávamos cerca de dez horas por dia (eu também era garçonete), e uma cerveja toda noite se tornara essencial. Nas festas de fim de ano, cheguei a ralar 20 dias seguidos sem uma folga.

Passei por alguns perrengues com o idioma no começo, como quando uma menina me pediu para “go potty”, que eu interpretei como um pedido de ir a uma “party”. Foi só quando uma americana interveio que entendi que ela queria ir ao banheiro.

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Também tive de lidar com acidentes, tanto entre as crianças – ajudei a socorrer um garoto que quebrou a tíbia esquiando – quanto comigo: numa queda, torci o joelho e distendi um ligamento do pescoço, o que me rendeu um colar cervical por duas semanas. E, por causa das botas apertadas, ganhei feridas e perdi todas as unhas do pé.

Nesses dias de Jamaica Abaixo de Zero (comédia que mostra atletas do Caribe congelando nas olimpíadas de inverno), um americano foi dizer à minha supervisora que era um absurdo escalar uma brasileira para dar aulas ao filho dele. “Where does she ski in Brazil? At the Sugar Loaf?” Mexeu com meus brios… então, propus: se o menino evoluísse, ele voltaria no dia seguinte e o pai me daria uma gorjeta. Se não, eu devolveria o dinheiro. No dia seguinte, ganhei um pedido de desculpas e uma nota de US$ 100!

Nossa instrutora tem 27 anos e mora no Rio de Janeiro. Depois da última temporada em Lake Tahoe, trocou a neve pelas areias de Ipanema.

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