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Confissões de… Um motorista de traslado

A louca rotina de um personagem típico dos aeroportos – de mexicanos travestidos a japoneses bêbados

Por Tamara Serantes
Atualizado em 16 dez 2016, 09h17 - Publicado em 8 set 2011, 12h13

O meu primeiro dia foi tranquilo, já o segundo… Tive que buscar três grupos: dez canadenses animadíssimos que iam a uma convenção GLS; 20 mulheres com mais de 60 anos que viajavam pelo mundo; e cinco crianças escocesas que vinham fazer intercâmbio. Eu mal falava inglês, mas dei um jeito de me comunicar com todos. Hoje já consigo me fazer entender.

Antigamente as plaquinhas vinham apenas com nome e sobrenome da pessoa. Não era raro pegar o gringo errado. Aí era aquela correria para devolvê-lo e saber onde estava o passageiro certo. Agora, as plaquinhas também têm a logomarca da empresa, o que facilita na identificação.

Nem sempre é fácil reconhecer o passageiro. Certa vez, eu estava esperando um mexicano chamado Manolo Diaz. Mas eis que Manolo era uma mulher, ou melhor, um homem vestido de mulher. Fiquei muito assustado e, morrendo de vergonha, pedi para ver seus documentos. Ela realmente era ele. Manolo me explicou sua história: estava no Brasil para encontrar seu grande amor, uma brasileira cujo ex-marido era muito ciumento. Por medo dele, Manolo preferiu chegar disfarçado.

Normalmente os gringos adoram ver um GPS no painel do carro. Isso faz com que se sintam mais seguros. Mas, certa vez, tive de levar um casal alemão a um bairro de periferia, a uma Igreja Batista. O bendito GPS me mandou para uma rua quase deserta, perto de um matagal, onde havia poucas casas e gente desconfiada. Não tive dúvida, peguei meu velho guia de ruas e me achei rapidinho. Ainda bem que eu ainda sou um motorista das antigas, não confio em aparelho que me diz o que fazer.

Trabalhei também como guia no Rio de Janeiro. Foram três anos como motorista e guia. Às vezes, tive de desviar do meu caminho por causa de bloqueios policiais e conflitos entre traficantes. Eu sempre dava um jeito de distrair os grupos. Eu dizia que íamos por um caminho alternativo para ver paisagens bonitas ou usava a desculpa de que “está acontecendo uma manifestação”. Assim, ninguém guardava má impressão da cidade.

Os passageiros nem sempre são agradáveis. Os mais chatos são os executivos que nunca cumprimentam e falam de forma grosseira. Os mais engraçados são os japoneses que, muitas vezes, chegam bêbados. Eles passam as 15 horas de voo bebendo de tudo. Quando chegam ao aeroporto não conseguem sequer chegar até a van. Aí tenho de levar um por um até a porta do hotel. Isso quando não preciso carregá-los até o quarto.

Nosso motorista tem 20 anos de experiência e ganha, em média, R$ 1 500, fora as gorjetas e comissões

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