Dos cafés de Paris às brasseries da Borgonha, de Key West à África, o bar favorito do escritor Ernest Hemingway era La Bodeguita Del Medio, em Havana, onde ele entornava baldes do melhor mojito do mundo, que eu tive a chance de experimentar.
Fernando Pessoa, imortalizado em uma estátua em pleno Largo Camões, no bairro do Chiado, em Lisboa, era habituê do Café A Brasileira. Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, bastiões do Clube da Esquina, foram a todos os bares possíveis do ainda hoje boêmio bairro de Santa Teresa, em Belo Horizonte.
Pode até ser que Pablo Neruda, o grande poeta chileno, tivesse predileção por um ou outro bar ou café, fosse em Santiago, Valparaíso, Paris ou qualquer lugar do mundo. Mas a nenhum desses lugares ele dedicou tanto amor quanto aos bares que construiu em suas três casas chilenas: La Chascona, em Santiago; La Sebastiana, em Valparaíso; e Isla Negra, em El Quisco.
Dessas três, já tive a sorte de conhecer as duas primeiras. Neruda se dizia um “coisista”: recolhia ou comprava todo tipo de peça, de taças de cristal a sofás, de maçanetas a mapas confeccionados no século 17. Tudo para decorar suas casas e os bares nelas instalados. O bar de La Chascona, em Santiago, parece uma gruta, graças às paredes de ferro. Na decoração chamam atenção os sapatos gigantes e as fotos antigas expostas em um grande leque de madeira preso à parede atrás do balcão.
Do bar de La Sebastiana, em Valparaíso, Neruda não via o mar por causa dos objetos e paredes que separavam esse ambiente das janelas da sala. Voltei há algumas semanas de lá, mas as cores e os excessos daquele delicioso cantinho da casa não me saem da cabeça. Ali, cercado por garrafas, copos e outras tranqueiras, Neruda costumava incorporar um barman para servir os amigos – ele era um grande anfitrião. Dizem que se especializou em um drinque que levava vermute, mas é sabido também que gostava bastante de uísque e de vinho.
Quantos de seus poemas não tiveram inspiração ali? Espero conhecer Isla Negra em breve e, assim, fechar a minha trilogia nerudiana.
→ Miguel Icassatti* vê poesia em tudo que envolva copos e garrafas
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