Eu já havia dirigido umas quatro horas desde Vegas, e nada de visualizar uma pontinha que fosse do Parque Nacional Bryce, em Utah. Vi a estrada mudar de pistas largas e retas para uma pista simples e cheia de curvas, senti a temperatura despencar de 38 °C para 6 °C em pleno agosto. Mesmo as incríveis montanhas vermelhas e um pórtico de pedra escavado para dar lugar à rodovia 12 foram um alarme falso: era o Red Canyon, mas não Bryce.
Entrei em Bryce Canyon City, fiz o check-in no hotel Best Western Bryce Canyon Grand, estava esquentando. E só depois de pegar outra vez o carro, passar pelo centro de visitantes, estacionar e andar até um mirante é que, voilà: lá estavam, em um enorme anfiteatro, as formações rochosas conhecidas por hoodoos.
À primeira vista, os hoodoos parecem pilares esculpidos a tacape. Alguns surgem isolados; outros, agrupados, como se estivessem à espera de um Giacometti para desgastá-los até dar forma a esculturas abstratas-quase-humanas espetaculares. Mas o artista, neste caso, é a natureza.
Cerca de 200 dias por ano, de dezembro a abril, gelo e neve se acumulam no topo das formações durante a noite e depois derretem ao sol. A água, então, escorre e volta a congelar ao anoitecer. As variações entre quente e frio causam a expansão e o craquelamento das rochas, e, com a forcinha das chuvas no verão, se varre o calcário que se descolou das formações. Os índios paiute, que habitaram Bryce em 1200 a.C., acreditavam que os hoodoos eram seus ancestrais, tornados pedra.
Dá pra ficar horas vendo de cima essas figuras nos mirantes que circundam o anfiteatro, só percebendo as formações mudarem de cor à medida que as horas passam. Mas o bacana também é descer e caminhar entre os hoodoos nas várias trilhas demarcadas. Cheguei com o intuito de percorrer a Navajoo Loop, o percurso mais famoso, que dura cerca de uma hora, mas um encontro me fez mudar de ideia.
“Eu não quero que você desça aí. Quero que você caminhe pela borda do anfiteatro até Sunrise Point, desça pela Queen’s Trail e depois suba a Navajoo Loop pela Wall Street“, disse assertiva e sorridente uma guarda-florestal com cara de Lucille Ball que encontrei no mirante Sunset Point. “No caminho você vai ver uma formação que se parece com a rainha Elizabeth. Repare que atrás dela tem um bule. Na volta você poderá dizer que tomou chá com a rainha”, disse Lucille, bebendo de uma xícara imaginária com o dedo mindinho em riste.
Fiz o que ela mandou e, mesmo estendendo o passeio por uma hora a mais, não me arrependo. De perto, os hoodoos são altos como catedrais. No caminho passei por portas escavadas na pedra, fiz ziguezague por formações, dei tchauzinho pra rainha e fui para o último trecho, Wall Street, um corredor com paredes tão elevadas que quase se fecham no alto, uma pirambeira íngreme.
Bryce é bacana também à noite, quando a altitude, o isolamento, o frio e a ausência de poluição deixam o céu perfeito para ver estrelas e fazer caminhadas na Lua cheia. É uma sorte que eu não tive. Taí a desculpa pra voltar.
Aproveite as distâncias para conhecer os parques nacionais de Zion e do Grand Canyon, o Monument Valley, o Antelope Canyon e o Horseshoe Bend, e a cidade de Sedona.
Guia VT
DE VEGAS PRA LÁ
Não há linhas de ônibus, mas há passeios de van de um a nove dias combinando Bryce e outros destinos. Veja com a Southern Utah Scenic Tours, a Southwest Adventures Tour e a National Park Tourz.
COMO CIRCULAR
De maio a outubro há um ônibus gratuito para quem pagou entrada: a taxa por veículo é de US$ 35 e, por pedestre, de US$ 20, válidas por sete dias. Mais informações sobre taxas aqui.
Ficar
Vizinhos e da mesma rede Best Western, o Ruby’s Inn e o Canyon Grand Hotel ficam perto da entrada do parque.
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