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Como as bicicletas tomaram os morros de Belo Horizonte

Apesar do relevo acidentado da cidade, ciclistas experimentam um novo jeito de aproveitar a capital mineira

Por Abril Branded Content
27 nov 2017, 17h04

Da sacada do Maletta, um dos prédios mais icônicos do Centro de Belo Horizonte, é possível avistar o monumento situado no encontro da rua da Bahia com avenida Álvares Cabral que diz: “A minha vida é esta: subir Bahia, descer Floresta…”, trecho do samba de Rômulo Paes. Da mesma sacada, veem-se grupos de ciclistas que rotineiramente se fundem à paisagem fazendo o famoso trajeto eternizado nos versos da música — antes possível apenas com o bonde, que subia a rua da Bahia no sentido do bairro Santo Antônio e a descia, indo em direção ao bairro Floresta.

Em um desses diversos grupos de pedal coletivo que circulam pela cidade diariamente, seja para se exercitar, socializar ou trabalhar, está o dentista Carlos Edward Campos, morador da região Centro-Sul da cidade e membro da Associação dos Ciclistas Urbanos de Belo Horizonte (BH em Ciclo). “A associação tem entre seus objetivos trabalhar a interface do poder público em ações que promovam e favoreçam o uso da bicicleta no transporte”, diz.

“O deslocamento [com a bicicleta] permite um olhar completamente diferente sobre a cidade. Você consegue perceber coisas que não vê quando está se deslocando de carro, você consegue ter uma interação maior com os outros atores da cidade, pedestres, ambulantes, outros meios de transporte”, destaca o dentista.

Em uma parceria com o #hellocidades, projeto de Motorola que incentiva a reconexão pessoal em diversas cidades brasileiras por meio do uso consciente da tecnologia, fomos conhecer melhor esse universo sobre duas rodas que não para de subir os morros da capital mineira.

O começo e as adaptações

O relacionamento de Carlos com a bike vem desde a infância. Mas a magrela só se tornou a sua melhor amiga há cerca de cinco anos, quando ele passou a usá-la para se locomover. Coincidentemente, foi na mesma época em que o meio de transporte começou a se popularizar e a ser mais fortemente incentivado na capital mineira.

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Em 2014, o início da implantação do Sistema de Bicicletas Públicas Bike BH possibilitou o compartilhamento do meio de transporte a baixo custo, com valores que variam entre R$ 3 e R$ 60, dependendo da opção de passe escolhida pelo usuário. Em 2016, BH começou a contabilizar os ciclistas que passam diariamente pela avenida Bernardo Monteiro na altura da esquina com a avenida Afonso Pena, no bairro Funcionários, região Centro-Sul da capital.

Somente na primeira semana após o totem ser instalado, foram registradas mais de 2.000 bikes circulantes no local. A medida permite à prefeitura de Belo Horizonte (PBH) investir em políticas públicas destinadas a esse modal e a estimular uma metrópole mais sustentável. Belo Horizonte foi a segunda cidade no país (depois de São Paulo) a adotar esse dispositivo contador, e a quarta na América Latina.

De lá pra cá, a cidade passou a abraçar cada vez mais a magrela, que virou protagonista de bloco de Carnaval, ato político, prática de atividade física e socialização. Está caindo o mito que dizia que BH é uma cidade ruim para pedalar. Conhecida pelos morros, a capital mineira tem surpreendido pelo crescimento do número de ciclistas. Além disso, chama atenção a rede de sociabilização que se forma nesse grupo, com o surgimento de vários projetos que facilitam a integração da comunidade.

O Seat Post, uma oficina de bikes da zona sul que reúne os amantes da atividade, realiza quinzenalmente um forró. Há ainda projetos como o Velódromo Raul Soares, iniciativa independente de ciclistas belorizontinos que promove uma competição amigável, ocupando de forma lúdica as ruas da cidade. E o Bicicletas Roubadas, um cadastro colaborativo para ajudar na recuperação dos equipamentos e evitar que consumidores e lojistas comprem material roubado. O cadastro também ajuda a mapear áreas de risco para ciclistas e prevenir roubos.

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Primeiras pedaladas

Para os novatos e os que ainda têm medo de encarar pontos da cidade com relevo mais acidentado, como o “tobogã” da avenida do Contorno ou as subidas da avenida Raja Gabaglia, e o trânsito nada tranquilo da cidade, tem o Bike Anjo, um dos movimentos mais antigos. No último domingo de todo mês, os integrantes desse grupo — ciclistas veteranos voluntários — ensinam pessoas a pedalar, orientam o uso de equipamentos e como se locomover na cidade de forma segura. Tudo gratuitamente.

Ciclistas veteranos acompanham novatos pelas ruas da cidade no projeto Bike Anjo (Bike Anjo/Divulgação)

“O projeto surgiu em São Paulo em 2010, e em Belo Horizonte, os ciclistas iniciaram os trabalhos em 2012. É impressionante a quantidade de ciclistas que surgiram desde então. Aqueles que já pedalavam começaram a se juntar e formar grupos que hoje se espalham pelas ruas de BH”, conta Carlos Edward.

Zoobiker, Mountain Bike BH, Platina Bikes, Mountain Bike Barreiro, Sagrado Pedal, Bike de Elite, Minas Riders, são apenas alguns dos outros grupos formados nas reuniões do Bike Anjo.

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Estilo de vida

Lucas Alves, é membro da Dizzy Express, uma cooperativa de ciclomensageiros que, há quatro anos, realiza entregas em toda a cidade exclusivamente usando bicicletas. “A conexão com a cidade se dá de várias formas, para começar pelo fato de diminuirmos o ritmo. Pedalando, você se conecta com as pessoas na rua, conversa no sinal, se aproxima do dia a dia e dos detalhes que muitas vezes não percebemos quando estamos dentro do carro, com os vidros fechados”, afirma.

Segundo a BH em Ciclo, a capital mineira conta com aproximadamente 83 km de ciclovias. No entanto, o Plano Diretor de Mobilidade Urbana de Belo Horizonte (PlanMob-BH) identificou 411 km de rotas cicláveis (ciclovias e/ou ciclofaixas), e a PBH tem trabalhado para atingir a meta de implantação dessas rotas. O plano prevê a expansão das ciclovias até 2020.

Veículo de baixo custo e manutenção, sustentável, não poluente, silencioso e flexível quanto aos deslocamentos, a bicicleta também contribui para o aumento da qualidade de vida de quem a usa. “Eu me senti integrado à cidade quando pude, pela primeira vez, pedalar no Parque Municipal, um lugar que era proibido aos ciclistas. Com muita luta, conseguimos derrubar a lei absurda que determinava isso. É um ponto de encontro com amigos ciclistas, e constantemente realizamos ‘bicinics’ [piqueniques promovidos por ciclistas] lá. Qualquer ida à padaria ou farmácia, por exemplo, ganha outro contorno na bicicleta”, afirma o assessor de imprensa Gil Sotero, um dos principais entusiastas do meio de transporte na cidade.

Sotero coordena o Tweed Ride BH — um passeio retrô por BH —, é voluntário do Bike Anjo, e realiza o Ciclo Bazar de Rua, encontro de amantes de bicicletas vintage. “A bicicleta é um veículo individual, mas essencialmente sociabilizador. Pedalamos juntos em vários momentos, e essa convivência se estende a muitos locais. A bicicleta une até casais”, conta.

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Passeio reúne ciclistas que gostam de se vestir de forma elegante com roupas retrô (Tweed Ride BH/Divulgação)

Ele também tem projetos envolvendo a bike. Em seu blog pessoal, divulga o bike lifestyle. E também alimenta o BH Cycle Chic, site que registra os ciclistas urbanos da cidade e seus estilos. Além disso, o assessor criou a Bici Ecléticas, uma agência de bicicletas modelos, disponíveis para filmes ou ensaios fotográficos.

Agora que acabaram suas desculpas, por que não experimentar, você também, um pouquinho das ruas de Belo Horizonte sobre duas rodas? Além de realizar uma boa atividade física, você vai se conectar mais profundamente com o lugar em que vive. Quando for para a rua, registre imagens e coloque na internet com a hashtag #hellocidades. Saiba mais em hellomoto.com.br.

Rolês para fãs de bicicleta em BH

Pedal de Salto Alto: Passeio voltado para mulheres, sempre aos sábados, com datas e locais divulgados no site do grupo.

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Tweed Ride BH: Passeio que ocorre aos sábados na Savassi. Para participar, basta se vestir com trajes elegantes, como boinas, gravatas e suspensórios. O grupo está sempre aberto a novas amizades.

Mountain Bike BH: Grupo mais antigo da cidade. Promove um fórum de discussão com informações e oferece trilhas guiadas no fim de semana. É preciso se associar para participar dos fóruns. A anuidade fica entre R$ 50 e R$ 100.

Zoobiker: Criado em 2013, o grupo tem entre 40 e 80 integrantes e sai sempre às segundas-feiras, às 20h, na Savassi.

BH Bike Polo: Galera que se reúne para jogar polo sobre duas rodas em praças e outros espaços públicos, normalmente às quartas e domingos à noite.

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