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Cinza sobre o branco

Bariloche viveu o pior julho de sua história com a erupção do Vulcão Puyehue, mas ainda acredita em um setembro feliz

Por Paulo Vieira (edição)
Atualizado em 14 dez 2016, 11h55 - Publicado em 18 set 2011, 18h12

Piadas sobre clima são antigas. Há uma, conhecida, que diz que “os ingleses estão felizes, pois o verão caiu em um sábado”. Uma atualização possível é dizer que os argentinos estão tristes, já que o inverno caiu em uma quarta de cinzas. As cinzas, infelizmente reais, expelidas pelo vulcão chileno Puyehue, o vilão da temporada em Bariloche.

Há 51 anos adormecido, o vulcão despertou em 4 de junho e jogou cinzas na atmosfera, que o vento se incumbiu de levar a Bariloche e bem mais ao norte, impedindo os voos em diversas cidades da américa do sul (até em santa Catarina). Bariloche, o destino de esqui preferido dos brasileiros, eterno vencedor do Prêmio VT, e a vizinha Villa La Angostura ficaram com as ruas cheias de um pó similar à areia. Ele impediu o funcionamento da estação de Cerro Bayo, em Angostura, em julho, mas os “2 centímetros de areia” que cobriram Cerro Catedral, em Bariloche, não foram suficientes para atrapalhar o esqui. O problema esteve o tempo todo no ar, com o fechamento do aeroporto de Bariloche por longos períodos. Isso derrubou a temporada. A rede hoteleira fechou julho com ocupação de 20% – a previsão antes do vulcão era de 100%; e dos 20 mil estrangeiros esperados, chegaram mil. “Foi o pior ano de nossa história. Pior que a crise política de 1999 e a gripe suína de 2009”, disse à VT Léo Tiberi, da Emprotur, o organismo de turismo da cidade.

Com os problemas no ar, a melhor solução encontrada foi o desembarque em Esquel, a 350 quilômetros, ou quatro horas de ônibus, de Bariloche. Uma via crúcis que poucos brasileiros tiveram vontade de encarar. A pedagoga Stella Pellegrini, com diárias reservadas desde março em Bariloche, decidiu viajar para Valle Nevado, no Chile. Como ela, fizeram outros compatriotas. “Havia muitos brasileiros, mas nada que tenha atrapalhado a estada. A semana foi ótima no Chile”, disse Stella. O executivo Mário Gasparini, que já foi mais de dez vezes a Bariloche, fez uma opção mais tropical: Punta Cana. “O estresse para chegar por Esquel não compensaria o prazer da viagem. Por isso, em fidelidade a Bariloche, minha estação de esqui preferida, resolvi não trocá-la por outra.”

Operadora que tem em Bariloche uma de suas especialidades, a Agaxtur cancelou 22 voos fretados para o destino. Segundo Aldo Leone Filho, presidente da empresa, 95% de seus clientes trocaram Bariloche pelo Caribe e pelos Estados Unidos. Até Dubai entrou na roda. Já a CVC, que fez fretamentos com a companhia área argentina andes, vendeu 80% dos pacotes planejados antes das cinzas. Com o desconforto do desembarque em Esquel.

Esta reportagem falou até aqui do que passou, mas é bom lembrar que setembro ainda é inverno – e ainda tem neve. Por isso há otimismo em Bariloche. Sol Canalda, gerente do galileo Boutique Hotel, crê em uma taxa de ocupação de 65%. Ali o preço da diária caiu de US$ 200 para US$ 140 (e, com três diárias, o hóspede ganha uma noite em hotel de Buenos Aires). A atividade do Puyehue diminuiu ao longo de agosto, mas as cinzas ainda podem estar lá. Como explica Valdecir Janasi, geólogo e professor do Instituto de Geociências da USP, “é mais fácil prever o início de uma erupção do que seu término”. A boa notícia é que o Servicio Meteorológico Nacional, da Argentina, prognostica boas chances de cair neve neste fim de inverno.

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