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Auroville, a cidade do amanhecer

A comunidade alternativa na Índia se mostra um ótimo destino para quem busca maior auto conhecimento e introspecção

Por Giovana Christ
17 dez 2018, 14h25

A cidade que pode parecer o céu para alguns e o inferno para outros se chama Auroville e localiza-se no Sul da Índia. Em meio a tantas comunidades alternativas que falharam ao serem construídas no meio de um mundo — quase completamente — capitalista e dependente do dinheiro, a cidade global instalada na Índia se destaca por, esse ano, completar 50 anos de existência e relativo sucesso.

A viagem é válida para quem busca conhecimento interior, introspecção e não se importa tanto com conforto. A ideia de Auroville é que a comunidade seja colaborativa, ou seja, que cada um faça um pouco para sustentar seu modo de vida.

Auroville foi fundada em 1968 com o objetivo de ser um lugar em que as pessoas vivessem sem a dependência de dinheiro, política e religião. Há 50 anos o lugar vem se transformando para adequar sua ideia de cidade do futuro e descobrir o melhor jeito de construir uma comunidade global mais pacífica e harmoniosa com a natureza e os seres.

A vida dos aurovillianos hoje é dividida em comunidades que se separam por interesses em comum. É possível encontrar grupos que focam em saúde e bem estar —  com grande concentração de idosos —, em terapia e ioga — para os que buscam mais introspecção —, comunidades com mais jovens ou crianças com diversos outros objetivos de vida.

A ideia é que seus moradores não tenham que trabalhar para viver, e sim, que trabalhem para colaborar com a sociedade e transformar Auroville em um lugar melhor. Ainda pode ser considerada uma sociedade — em partes — dependente do dinheiro, mas seus moradores não são obrigados a lidar com ele, nem passam necessidade se não o tiverem. É possível viver a base de troca e o lugar oferece um sustento mensal para se viver uma vida com o básico.

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“Na Suíça eu era pobre, mas aqui posso me dar ao luxo de doar dinheiro”, diz uma moradora anônima em entrevista para a BBC. De contratada para trabalhar com tecnologia da informação em uma multinacional para aposentada em uma comunidade dos sonhos (para ela), a nova moradora de Auroville relata não querer sair mais do lugar.

Não é possível afirmar que a comunidade internacional é um ponto turístico indiano. Apesar de praticável, as visitações não são tão incentivadas. As informações de estadia e transporte são descentralizadas e é necessário uma pesquisa cuidadosa antes de se jogar nos ônibus e táxis da região.

No site de Auroville estão disponíveis algumas modalidades de conhecer a cidade. É possível passar o dia, algumas semanas ou até ser voluntário por um ano na comunidade. Existem guest houses pagas em dólares para quem pretende só dar uma volta e ver como é possível viver totalmente baseado em coletividade. A viagem requer uma dose de boa vontade e exploração, já que os moradores são conhecidos por não serem os melhores anfitriões e por não demonstrarem interesse nos visitantes.

Há muito o que se ver na “grande” cidade. A atração principal fica com o Matrimandir, ponto central da cidade onde uma grande esfera dourada com uma arquitetura que dá a sensação de estar saindo do chão significando o nascimento de um novo pensamento de sociedade. O passeio ao monumento faz um convite à introspecção, com os passeios pelos jardins e a meditação profunda no interior de seu salão. Além de conhecer a obra arquitetônica, é possível passar o dia com atividades como agricultura, terapia, ioga e episódios culturais como filmes e apresentações de música.

Matrimandir, Auroville
Matrimandir é conhecido como “a alma da cidade” (Soltan Frédéric/Getty Image/Reprodução)

Para se tornar um morador de Auroville, um período de teste é necessário para a aceitação na comunidade e deve ser mostrada uma colaboração com a população. “Durante os 12 meses de seu período como Newcomer [como são chamados os novos moradores], é pedido que você explore suas habilidades, áreas de interesse e conhecimento para contribuir e se envolver na construção e manutenção da cidade e da sociedade”, segundo o site.

A ideia de construção do lugar veio de Mirra Alfassa, francesa de mãe egípcia e pai turco, conhecida como “Mãe”. O objetivo foi criar uma sociedade balanceada, justa, harmoniosa e dinâmica. Juntamente com seu parceiro e mentor, Sri Aurobindo’s, Auroville começou a ser construída e em 1968 foi fundada com a presença de 124 países, apoio do governo da Índia e da UNESCO, que acredita que o projeto é relevante para o futuro da humanidade.

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