Anatomia é destino
A imagem das brasileiras no exterior costuma ser a de mulheres bonitas e sexy. E isso não tem, necessariamente, a ver com turismo sexual
Recentemente, a rede de lojas de conveniência 7-Eleven lançou um game on-line chamadoWake up with a Hot Brazilian… Coffee. A ideia é promover o lançamento de um café brasileiro. O jogador entra num bar em Copacabana e escolhe uma das moças bonitas para “conversar”. Dependendo da receptividade às frases, você avança ou não na partida. Quem ganha acorda no hotel com uma… xícara de café quente fumegando no criado-mudo. Com uma ou outra escorregada (as “brasileiras” são absoluta e totalmente americanas), o game é divertido e criativo. As falas são bem redigidas e espertas. A recriação do ambiente, impecável. Enfim, uma deliciosa bobagem.
Mas houve quem enxergasse nisso mais uma insidiosa campanha para denegrir a mulher e estimular o – lá vamos nós, de novo – turismo sexual. Há uma patrulha pronta a apontar qualquer foto de garota bonita, ainda mais de biquíni. Em especial se for obra de um gringo malvado, interessado apenas em prejudicar nossa imagem.
O problema é que, como sabia Freud, a gente não tem controle sobre o que pensam ou dizem da gente. Por mais que o retrato do Brasil no exterior tenha mudado para melhor, é virtualmente impossível editar o que será falado de nós. Não fosse assim, provavelmente o governo cuidaria para que não saísse nenhuma linha, por exemplo, sobre a guerra nos morros e a corrupção. E todas as fotos das moças as mostrariam de calça e óculos de aros grossos, lendo qualquer coisa de lombada quadrada, em Copacabana, Maresias, Fortaleza, Santos, Natal, Aracaju, Salvador, São Paulo, Rio Branco.
Acontece que não é verdade. É uma fantasia. Infelizmente, somos, de maneira geral, ainda mais na praia, um povo bonito, orgulhoso disso, sexualmente provocante. As jovens ainda vão tomar sol de pouca roupa, que é o melhor jeito, e os jovens veem graça nisso. Tudo indica que será assim por algum tempo – para desespero de quem vê depravação em tudo.