Encarar um arquipélago intocado sobre uma cadeira de rodas não é mole.
Fernando de Noronha, para um deficiente, era só um sonho até 2013, quando foram adaptadas três trilhas e uma praia. Esta, a do Sueste, conta com gente pronta para apoiar quem quer nadar, mas tem dificuldade para andar, o que inclui os idosos.
Na entrada dessas atrações foram criados os Postos de Informação e Controle (PIC), com ducha, loja, aluguel de equipamentos, lanchonete e banheiros, inclusive, claro, para cadeirantes.
Placa para um dos Postos de Informação e Controle (PIC), instalados na ilha em 2013
Outra coisa boa é que ônibus acessíveis foram incorporados à frota local. A seguir, atrações bacanas tanto para o leitor comum como para os brasileiros com alguma deficiência.
As trilhas
De plástico reciclado que lembra madeira, três das trilhas de Noronha foram adaptadas com passarelas suspensas que saem de um mesmo PIC – onde há banheiro adaptado (estava sem tranca) para o cadeirante curtir sem sustos.
Com 943 metros de extensão, a trilha para o Mirante dos Golfinhos, cercada de uma vegetação habitada por lagartos tejuaçu, possibilita autonomia ao deficiente.
No mirante, dá para pegar um binóculo com o pessoal do projeto Golfinho Rotador, que fica de plantão para contar quantos deles passam por ali diariamente, em fila, machos à frente de fêmeas e filhotes.
Com a passarela adaptada, babar no Mirante dos Golfinhos é privilégio quase universal
Para conhecer as outras trilhas, a gente roda de volta ao PIC para adentrar a trilha do Mirante do Sancho, mais curtinha, mas que exige um empurrão em alguns trechos de aclive.
A paisagem viçosa do alto é adornada por aves marinhas como noivinhas e atobás.
A beleza ridícula do Sancho, possivelmente a mais linda enseada deste Brasilzão
Dali, passando por burras-leiteiras (árvores que soltam um líquido causador de queimaduras), são mais uns 500 metros até o Mirante Dois Irmãos, conhecido como “ai, que lindo”. Esse trecho também requer auxílio por causa da inclinação em alguns pontos e nos últimos 50 metros, que não estão contemplados pela passarela.
O Morro Dois Irmãos, adorno inconfundível da costa de Noronha
Banho de mar
Foi implantado o mergulho assistido no Sueste.
Na entrada da praia há o PIC, onde o deficiente informa que quer cair na água – é legal solicitar o auxílio com alguma antecedência – e aluga máscara, snorkel, pé de pato e colete (R$ 25 o kit por dia).
Dois monitores são designados para o processo, no meu caso o Ítalo e o Mariano. Eles me conduziram por uma rampa até a areia, onde havia uma esteira. Sobre ela, a dupla me transferiu para a cadeira anfíbia, que, além de adentrar o mar, é montada com pneus big foot que rodam na areia.
Eu e a cadeira anfíbia na Praia do Sueste
Na água, por uma hora, a gente se agarra a uma boia conectada a uma corda que fica presa a um dos monitores.
Aí, é só maciota, pois ele nos puxa até a área em que se visualiza a graciosa vida subaquática do Sueste.
Vale lembrar que foi nessa praia que rolou o primeiro ataque de tubarão da história de Noronha, no início de uma noite, fazendo com que o mar só fique liberado para banhos das 9 às 16 horas.
Barcos e mergulhos
As atividades saem do Porto de Santo Antônio, onde há uma rampa íngreme no píer que leva às embarcações.
Para embarcar, o jeito é pedir uma força aos simpáticos noronhenses e forasteiros que trabalham nos receptivos.
Quem não tem deficiência nos braços e sabe nadar, como eu, dá conta de estripulias como:
– Ilha tour (Atalaia, 81/3619-1328 e Costa Azul, 81/3619-1134; R$ 150), passeio de barco que faz um giro com pausa para mergulho livre no Sancho.
A escolta dos golfinhos no passeio de barco por Noronha
– Batismo de Mergulho (R$ 455), com visibilidade de até 50 metros; uma alternativa econômica é procurar o Bodão, na Praia do Porto, e pagar R$ 250 pelo mergulho que sai das areias: é mais barato porque dispensa o barco.
O balé das arraias no Sancho
– Nave (Museu dos Tubarões, 81/3619-0230; desde R$ 180), um barco russo com lente no assoalho que revela a vida marinha, legal para quem não vai mergulhar, já que no mergulho a gente já contempla a vida marinha.
– Prancha Submarina (Atalaia, 81/3619-1328; desde R$ 110), na qual a gente se agarra e observa o fundo do mar.
Onde ficar
As casas de moradores, sobretudo na Vila dos Remédios, têm as diárias mais em conta da ilha, mas, claro, não dá pra esperar adequação para quem anda de cadeira.
Entre as pousadas de verdade, algumas contam com quartos adaptados, verifique a disponibilidade no ato da reserva.
Oito vezes campeã do Prêmio VT, a Zé Maria (reserve no Booking.com) vai na pegada novo luxo, com horta hidropônica e amenities Natura. Fica na Floresta Velha e é para quem tem grana – achar uma tarifa de R$ 700 o casal é ganhar na loteria.
Festival gastronômico da icônica Pousada Zé Maria
No mesmo segmento, a Triboju (reserve no Booking.com) tem bangalôs com hidro.
Na Vila do Trinta, a 15 minutos da Praia do Porto, há diárias desde R$ 350 (casal) na Dois Irmãos (reserve no Booking.com).
Na Floresta Nova, a Mar Atlântico (reserve no Booking.com) tem estilão domiciliar, e a Beco de Noronha (reserve no Booking.com), ofurô e chá da tarde três vezes por semana.
Perto do Forró do Cachorro, a Monsieur Rocha (reserve no Booking.com) é uma opção com custo/benefício.
Transporte
Dois ônibus (R$ 3) cruzam a BR-363, a segunda menor do país, com 7,5 km. Para explorar os confins, contrate um táxi – gastam-se de R$ 20 a R$ 40 nos percursos – ou um guia como o Jotinha (81/3619-1328; diárias desde R$ 350), que também faz o Ilha tour (desde R$ 120) e roda tudo.
Programe-se
De dezembro a fevereiro, ondas atraem os surfistas. Chove entre março e junho, mas também há sol e os preços caem. O mar é perfeito para mergulhar em setembro e outubro.
A Praia do Sueste, dourada por natureza
Taxas para visitar Noronha
São duas: a de preservação ambiental (R$ 56,80 por dia, prevista para subir para R$ 64,25 em 1º de abril de 2016), e a do Parque Nacional Marinho (R$ 89 para brasileiros e R$ 162 para estrangeiros), válida por dez dias.
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