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787 Dreamliner: o avião da vez

O Boeing leve e econômico que tem janelas maiores, luzes especiais e, no Japão, até privadas high-tech. O novo jato conquistará também os passageiros?

Por Ewerthon Tobace
Atualizado em 5 jul 2019, 14h29 - Publicado em 9 ago 2012, 19h34

Aeroporto de Haneda, em Tóquio, um domingo de junho, às 23h50. A apenas 40 minutos do meu embarque, um avião chega ao finger, mas não é o aguardado Boeing 787-800 Dreamliner para Frankfurt. Preocupado, ouvi da atendente da All Nippon Airways (ANA) que havia um voo para Cingapura antes do meu. O 787 esperou sua vez e não precisou nem de meia hora para ser preparado e ocupado antes de decolar pontualmente, à 1 hora. Eficiente assim. Depois de três anos de adiamentos, o Dreamliner fez seu primeiro voo comercial em 26 de outubro de 2011, entre a capital japonesa e Hong Kong, pela própria ANA. Mesmo sem a badalação do gigantesco A380, lançado em 2007, mais de 25 mil pessoas concorreram a um dos 100 lugares da estreia. O maior lance beirou os US$ 10 000.

Com capacidade para 250 passageiros (290 na versão 900, prevista para 2013), o 787-800 é compacto perto do A380, que comporta até 853 pessoas. Também não é o mais rápido do mundo, só um pouco mais veloz que o 707, o primeiro jato comercial da Boeing, de 1954. O Dreamliner da ANA tampouco oferece o melhor entretenimento ou mordomias como camas e chuveiros. O que faz dele o lançamento mais bem sucedido da aviação comercial, uma vedete com 859 encomendas firmadas, é a economia de combustível. Fuselagem com muita fibra de carbono (mais leve), aerodinâmica inovadora e motores de alto desempenho possibilitam consumir até 20% menos que qualquer outro de mesmo porte. A ANA, com dez Dreamliners, e a Japan Airlines (JAL), com quatro, são as únicas companhias a operar o modelo. A próxima será a Air Ineroporto fim do ano, em rotas que não incluem o Brasil. A Avianca adquiriu 12 aviões e deve trazer um pra cá, só não sabe quando.

Voltemos a Tóquio. Ao entrar na aeronave, encontrei uma classe executiva repaginada, com ar de primeira classe. A configuração é de apenas uma poltrona nas laterais e só uma ou duas no centro, alternadas. Na econômica, onde me instalei, a formação 2-4-2 dá a impressão de haver mais espaço, apesar dos corredores apertados. Nos dois 787 usados pela ANA em voos de longa duração, a distância entre as poltronas é de 86 centímetros, 10% a mais que a média do mercado. Na executiva, os 110 centímetros beirariam a modéstia não fosse a poltrona reclinar 180 graus, unindo-se à extensão para os pés.

Ao acomodar minha mochila, fiquei surpreso com o tamanho do bagageiro, um dos diferenciais do novo Boeing. Só as duas últimas fileiras não têm o compartimento, mas há espaço de sobra nos adjacentes. Manta e travesseiro me aguardavam no assento. Na bolsa abaixo da mesinha, o de sempre: revista de bordo e do duty free, fones de ouvido e cartão com procedimentos de emergência. O monitor touch screen, com 10,6 polegadas (17 na executiva), acompanha boas conexões: entrada USB, plugue para gadgets Apple e tomada universal.

Passageiro acomoda os pertences no bagageiro do Boeing da ANA, em Tóquio Passageiro acomoda os pertences no bagageiro do Boeing da ANA, em Tóquio

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Passageiro acomoda os pertences no bagageiro tamanho jumbo – Foto: Bloomberg / Getty Images

Antes de o 787 decolar, fui inspecionar o entretenimento. São 43 filmes (À Beira do Abismo era um dos mais recentes), 30 seriados de TV (mais da metade em japonês e sem legendas, quase nenhum americano), 81 canais de música e 12 games. Distraído com a revista, nem percebi quando o avião levantou voo e, suavemente, alcançou o céu de Tóquio. As asas arcadas para cima, já usadas em outros modelos da Boeing, associadas a um sistema que regula sua superfície, exclusivo vo do 787, dão mais estabilidade à aeronave e reduzem as turbulências.

Depois de meia hora de voo, uma comissária de bordo distribuiu uma toalhinha quente e, na sequência, bebidas – vinhos, destilados, cervejas, sucos, chás, refis e água. Por ser um voo noturno, só foi servido um lanche com três opções de recheio: salada de ovo com presunto, patê de atum e salada de batatas. Quando fui à cozinha para conversar com as comissárias, elas ainda me ofereceram chocolates, salgadinhos e bebidas não alcoólicas.

Janela mágica Hora de olhar “a” janela – e não “pela” janela. Uau! De cima a baixo, são 47 centímetros de vista, quase meio metro de céu, um recorde. E o tamanho, ali, é apenas uma parte do documento: ao apertar um botão, um sistema eletrônico faz o vidro escurecer gradualmente. A tripulação também pode controlar o nível de iluminação das janelas, evitando que alguém inunde a cabine de sol. O achado tecnológico e o efeito “Ray-Ban”, porém, não são unanimidade. Nos 787 utilizados em voos longos, a ANA pretende ressuscitar as cortinas de plástico a fim de criar um blackout mais poderoso.

Antes de viajar, fiz uma lista das novidades do 787. A alta pressão interna da cabine, equivalente à externa a 1 800 metros de altitude, deixa o ambiente menos seco. “Os passageiros não têm tanta sede, e nós, comissárias, não precisamos passar creme nas mãos toda hora”, conta-me a simpática Naoko Yamamoto. No sistema de luzes state of-the art, a cromoterapia é usada para relaxar o passageiro – quando as luzes se apagaram, um azul-motel tomou conta do teto. Confesso, fiquei sonolento.

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Tentei dormir. E descobri o ponto mais fraco do 787 da ANA: na classe econômica, as poltronas praticamente não reclinam. Para não incomodar o vizinho de trás, o assento desliza para a frente, muito pouco, trazendo consigo a base do recosto – quase nada. Os joelhos de pessoas altas tendem a encostar na poltrona da frente. No meu caso, foi impossível manter a cabeça relaxada, e eu acabei a viagem com uma baita tensão nos ombros e no pescoço.

Duas horas antes da nossa chegada a Frankfurt, fui conhecer os banheiros. Dos três existentes na econômica, um é adaptado para deficientes e tem espaço para troca de faldas. No toalete lateral, a novidade era a presença de uma simples mas utilíssima janela que diminui a sensação de claustrofobia. Em todos eles, as privadas contam com o famoso sistema high-tech japonês, com assento aquecido e jatos d’água na função de bidê.

Após quase 12 horas de voo, o 787 pousou no Aeroporto de Frankfurt. Chegamos 12 minutos adiantados e, em menos de dez minutos já estávamos na fila da imigração. No voo de volta, dias depois, encontrei o check-in da ANA sem filas. Passaporte brasileiro em mãos, fui saudado em espanhol, cortesia digna da empresa aérea que tem o segundo melhor atendimento em solo do mundo pelo respeitado ranking da Skytrax.

Em pesquisa recente, a ANA afirmou que nove em cada dez passageiros se surpreenderam com o conforto do 787. Na econômica, minha impressão foi a de ter andado em um novo carro popular com alguns opcionais – a janela, as luzes, os banheiros. E, como em um carro popular, foi só passar o cheirinho de fábrica para eu sentir vontade de viajar com mais conforto. Ironicamente, no Dreamliner eu só sonhei acordado.

Boeing da ANA, em Tóquio Boeing da ANA, em Tóquio

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A cabine de comando que regula até a superfície das asas – Foto: Divulgação

Sonho de consumo

As inovações e os números do Boeing que gasta 3 litros de combustível por passageiro a cada 100 quilômetros

  • Banheiros: São três na executiva e três na econômica. Um deles é adaptado para deficientes, os laterais têm janela, e todos são dotados de privadas high-tech japonesas, com assento aquecido e jato na função bidê.
  • Turbinas: O sistema antirruído isenta a empresa proprietária do 787 de pagar a taxa que algumas cidades cobram por excesso de barulho
  • Fuselagem: 50% do avião é feito de um composto à base de fibra de carbono, material mais leve e resistente
  • Executiva: A poltrona desliza inteira até a posição fully flat, unindo-se a um suporte fixo e estofado para os pés.
  • Econômica: Ponto sensível do 787 da ANA, é o assento da poltrona que desliza para a frente, mas muito pouco, e o encosto quase não reclina
  • Iluminação: Lâmpadas LED coloridas ajudam os passageiros a relaxar
  • Asas: O design curvado e o sistema que regula a superfície das asas fazem o Dreamliner passar suavemente por áreas de turbulência
  • Janelas: São as maiores da aviação comercial. No lugar das cortinas de plástico existe um sistema eletrônico de escurecimento: uma camada de tinta eletrocrômica entre os vidros reage com os pulsos eletrônicos.

Teste de viagem

O Voo: Tóquio–Frankfurt–Tóquio pela All Nippon Airways – ANA (www.ana.co.jp), com ida em 25 de junho e volta em 2 de julho, por ¥ 135 750 (R$ 3 460 na data da compra), na econômica.

Check-in: Ótimo – rápido, eficiente, sem filas, também pode ser feito pela internet até 24 horas antes do voo. no Japão, há terminais de autoatendimento simples de usar.

Pontualidade: Ótimo – Um passageiro atrasou a decolagem na volta, mas a chefe da tripulação avisou os passageiros e pediu desculpas. ambos os voos pousaram adiantados.

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Conforto: Regular – as poltronas da econômica quase não reclinam – bom somente para o vizinho de trás. Para quem é muito alto, o sistema comprime os joelhos. Em compensação, há um suporte para os pés.

Comidas e bebidas: Bom – A refeição da ida foi apenas um sanduíche. na volta, havia pratos bem elaborados. as bebidas eram variadas – as não alcoólicas e alguns snacks ficavam “liberados” na cozinha.

Entretenimento: Bom – Tem boa seleção com 43 filmes (europeus e asiáticos, com legendas em inglês), além de 81 canais de música e 12 games. há entrada USb (para laptop, pen drive) e conexão para gadgets da apple.

Atendimento: Ótimo – Segue o padrão das empresas japonesas: primoroso. as comissárias são atenciosas, simpáticas e muito prestativas.

Boeing da ANA, em Tóquio Boeing da ANA, em Tóquio

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Com simpatia e muitos chocolatinhos, as comissárias japonesas dão calor humano à eficiência do Dreamliner – Foto: Toshifumi Kitamura/AFP

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