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48 Horas em Petrópolis

O Brasil Imperial e a gastronomia de primeira na Serra Fluminense

Por Fernando Leite
Atualizado em 16 dez 2016, 08h32 - Publicado em 20 jul 2012, 19h28

Petrópolis teria tudo para ser apenas mais um destino de montanha, daqueles cheios de chalés alpinos e restaurantes servindo fondues. Mas já nos seus primórdios, em meados do século 19, a história mostraria que tudo seria diferente naquele pedaço de terra repleto de vales  escorados pela curiosa Serra dos Órgãos. Cansado de sentir o inclemente suor em sua longa barba, o imperador D. Pedro II resolveu trocar – durante o verão – a escaldante Quinta da Boa Vista, sede do poder monárquico no Rio de Janeiro, pelas temperaturas mais amigáveis do alto da serra. Com isso, a cidade ganhou uma gama considerável de palácios, inexistente em qualquer destino serrano brasileiro. Obteve também uma certa aura elitista, muito presente ainda hoje nos seus charmosos hotéis e restaurantes. Para ter sucesso no roteiro proposto para suas 48 Horas em Petrópolis, é necessário um controle rigoroso no relógio – as atrações estão espalhadas pelos distritos do município, alguns bem longe da área central.

                                                     

DIA 1

O despertar em Petrópolis é quase sempre cênico. Espalhados pelos inúmeros distritos do município, hotéis e pousadas capricharam na localização de suas salas de desjejum, quase sempre voltadas para as montanhas. Fato que se repete até em alguns dos sisudos hotéis centrais.

Reserve o primeiro dia – e parte do segundo – para as atrações centrais. Projetado e construído por colonos alemães a mando do império brasileiro, o Centro respira ares europeus, com largas avenidas ladeadas de palácios e eficientes canais de água. À primeira vista surge a imagem de um bairro muito charmoso, mas o crescimento desordenado impactou profundamente o cenário – Petrópolis tem quase 300 mil habitantes e um indigesto tráfego de veículos em seu defasado sistema viário.

O ideal seria começar o roteiro pelo Museu Imperial, mas como seus portões abrem apenas às 11 horas, reserve o período da tarde para conhecer o palácio em que a turma de D. Pedro II veraneou por mais de 40 anos. Inicie a volta ao passado pela cênica Catedral de São Pedro de Alcântara, a principal igreja gótica do Brasil. No Mausoléu Imperial estão as lápides de D. Pedro II, Dona Teresa Cristina, Princesa Isabel e Conde d’Eu. Quem tem bom condicionamento físico poderá vencer os 169 degraus até o campanário e admirar a bela vista petropolitana.

Museu Imperial, Petrópolis, Rio de Janeiro

Sala de jantar do Museu Imperial, antigo palácio de verão de Dom Pedro II. Crédito: Ismar Ingber

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Quase no final do Segundo Reinado, o ano de 1884 proporcionou o surgimento de duas inusitadas construções. Inspirado no Crystal Palace londrino, o Palácio de Cristal foi um presente de Conde d’Eu para sua esposa, a Princesa Isabel. Sem o cunho monárquico, a Casa da Ipiranga exibe janelas e telhados assimétricos, recebendo a alcunha de Casa dos Sete Erros. No seu interior, repare no lustre central, o mesmo do Palácio de Versalhes, na França.

Para concluir o giro matutino, a Casa de Santos Dumont é a mais “moderna” das edificações históricas. Construída em 1918, a diminuta residência de verão do foi erguida no alto de uma colina. As invencionices de Dumont se fazem presentes no chuveiro quente movido a álcool e na famosa escada de um pé só. Note no segundo andar que não há divisória entre os cômodos.

Sem perder muito tempo com um almoço demorado, que tal uns salgadinhos para forrar o estômago? O Recreio do Bacalhau serve um bolinho sequinho e saboroso. A Empada Brasil – aquela mesma com lojas em todo o país – nasceu aqui e disponibiliza mais de 20 sabores do salgado.

Enfim, vamos ao protagonista das atrações centrais, o Museu Imperial, que merece um bom tempo de dedicação.  Construído em 1845, o então Palácio Imperial foi a residência de verão da realeza. Não leve em consideração a sugestão de conhecer o museu em uma hora – você não disputa uma prova de atletismo, a boa visita será feita com o dobro do tempo, no mínimo. Comece o tour pelo portentoso jardim, com mais de 100 variedades de plantas. Dentro da neoclássica construção, substitua seu calçado por uma pantufa e admire a maior coleção de objetos do período imperial brasileiro. Apesar de auto-explicativo, vale a pena comprar o manual na entrada ou seguir uma visita guiada. Pelos dois andares do palácio, o visitante poderá conhecer quartos e salas e ficar frente a frente com a imponente coroa imperial de D. Pedro II composta de 639 brilhantes e 77 pérolas.

Uma rápida passada no hotel para um providencial banho, porque às 20h – entre quinta e sábado – a pedida é retornar ao Museu Imperial para ver e ouvir a trajetória de D. Pedro II ser contada através de um espetáculo de som e luz pelos jardins. 

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Itaipava é o endereço da noite petropolitana e já ganhou vida própria. Quando se pensa em comer bem e/ou agitar, basta seguir 18 quilômetros pela Estrada União e Indústria para achar um porto seguro. Como o almoço foi um lanchinho, vale a pena se arriscar em uma comida mais parruda. O pernil de carneiro servido na cataplana (panela de barro) do Parrô do Valentim e o ravióli recheado com porco, coelho e vitela do Il Perugino são duas apostas campeãs.

 

DIA 2

Após aprender tudo e mais um pouco sobre D. Pedro II, Princesa Isabel e toda trupe monárquica, teremos um dia dedicado à atrações naturais, compras e muita cerveja.

Vamos dividir o período matutino em dois grupos. Quem curte uma boa caminhada, mas não tem tempo e preparo para enfrentar a travessia da Serra dos Órgãos até Teresópolis, certamente gostará da trilha até a cachoeira Véu de Noiva. Saindo da portaria do Parque Nacional da Serra dos Órgãos (acesso pelo bairro Bonfim), a caminhada por dentro de um belo vale não é curta, mas não tem nenhum trecho de grande dificuldade. A maior aventura é enfrentar os 42 metros da cachoeira numa descida de rapel. Devido à temperatura da água, o banho só é recomendável no verão.

Parque Nacional da Serra dos Órgãos, Rio de Janeiro

Os picos do Parque Nacional da Serra dos Órgãos desafiam montanhistas de todo o Brasil. Crédito: Flavio Veloso

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Como nem todo mundo gosta de se embrenhar no meio da mata, ir às compras é sempre um bom programa. Mais uma vez, o distrito de Itaipava é o endereço. Todo fim de semana, no trevo da BR-040, funciona a sempre lotada Feirinha de Itaipava, onde as quase 400 lojas vendem roupas e acessórios a um preço bem acessível. Chegue no horário de abertura (10h) ou sofra para estacionar seu veículo. A poucos quilômetros dali, o Shopping Estação Itaipava tem um perfil menos popular, apostando em marcas tradicionais. Quem procura por artesanato e não liga para preços mais caros, a Galeria Luiz Salvador exibe belíssimas peças de cerâmica.

Hora do almoço: momento de visitar outros distritos de Petrópolis. Araras e Vale do Cuiabá, dois lugares que parecem saídos de um conto de fadas, são apostas seguras. Ótimas opções para uma hospedagem romântica, são também um imã à boa mesa. Aproveite o cenário e mergulhe fundo nos restaurantes desses locais, como o Fazenda das Videiras (Araras) e o Tankamana (Vale do Cuiabá).

Não abuse da bebida durante o almoço, porque o restante do período vespertino será dedicado à cerveja. Como não há tempo para fazer um tour pela fábrica da Cervejaria Petrópolis e visitar o recém-inaugurado Museu da Cervejaria Bohemia – cerca de 40 km os separam – faz-se necessária a difícil escolha.

Fabricante de diversas marcas, como Itaipava e Crystal, a Cervejaria Petrópolis está situada no distrito de Pedro do Rio. Chamado de Beer Tour, a visita passa por todos os processos de fabricação da bebida e termina no bar, onde o visitante pode degustar as cervejas da empresa.

Entre 1853 e 1997, a Cervejaria Bohemia esmerou-se em produzir um produto bem acima da média. A fábrica fechou, a marca mudou-se de lugar e nunca mais foi a mesma – ainda que continue sendo uma boa cerveja. Hoje, a antiga fábrica, localizada no coração do Centro, inaugurou um interativo e gigantesco museu que narra toda a história da bebida. Aos cervejeiros de plantão duas boas notícias: há uma degustação diretamente da tina, ou seja, o produto em sua forma mais bruta e, no final da visita, monitores ensinam a maneira correta de beber uma cerveja.

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Uma vez que o clima etílico tomou conta do dia, o jeito é curtir a noite em…Itaipava, claro! A creperia Nucrepe serve 80 sabores e funciona como uma ótima pré-balada para as danceterias do distrito, como as efervescentes Nix e Tamboatá, que lotam de gente bonita em todos os fins de semana.

 

Se você tiver mais dias na cidade:

– Visite a Rua Teresa e se surpreenda com a quantidade de lojas de malhas;

– Conheça o Sítio do Moinho e descubra a origem dos pães presentes na maioria das mesas no café da manhã;

– Siga para Teresópolis pela belíssima BR-495, que tem o melhor visual da Serra dos Órgãos e do Vale do Cuiabá;

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– Visite o Palácio Quitandinha, outrora um famoso hotel-cassino com um belo lago na sua frente.

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