Surto de Covid-19 em navio põe em dúvida retomada dos cruzeiros

Cruzeiro no Caribe zarpou com maioria vacinada, mas registrou 27 casos da doença. Infectologista explica o porquê e dá dicas para se proteger

Por Bárbara Ligero
Atualizado em 27 set 2021, 09h07 - Publicado em 27 ago 2021, 11h21
Navio Vista, da Carnival Cruises, que navega pelo Caribe
O Vista, onde ocorreu o surto, é um verdadeiro parque flutuante com tobogãs, teleférico e cinema iMax. Crédito: (Carnival Cruises/Divulgação)
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A armadora Carnival Cruises confirmou que 27 pessoas testaram positivo para a Covid-19 durante um dos seus roteiros, sendo que uma delas acabou morrendo. Todas elas estavam vacinadas. Esse é o maior número de casos confirmados da doença e o primeiro óbito dentro de um navio desde a retomada dos cruzeiros marítimos no Caribe e nos Estados Unidos, em junho.

O Vista partiu do porto de Galveston, no Texas, no dia 31 de julho, e o surto foi descoberto no 4º dia de viagem, quando a embarcação estava prestes a atracar em Belize. A passageira Marilyn Tackett, de 77 anos, foi submetida a um teste do tipo RT-PCR após apresentar sintomas respiratórios. Quando foi confirmado que a idosa estava com Covid-19, ela foi hospitalizada em Belize e depois transferida para outro centro médico em Oklahoma, sua cidade-natal, onde acabou falecendo. 

Na sequência, mais de 900 testes foram realizados entre aqueles que tiveram contato direto ou indireto com Marilyn. Os resultados indicaram a presença do novo coronavírus no organismo de 26 tripulantes, que estavam assintomáticos e foram isolados em cabines. Nenhum outro cruzeirista testou positivo.

Na ocasião, a Carnival Cruises não exigia que os passageiros apresentassem resultado negativo para a doença ou comprovante de vacinação antes do embarque. Ainda assim, 96% dos 2.895 passageiros a bordo já tinham recebido as duas doses ou a dose única da Janssen. Entre os tripulantes, o número era ainda maior: 99,8% dos 1.441 funcionários. 

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A médica Raquel Stucchi, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explica que mesmo os que foram totalmente vacinados contra a Covid-19 ainda podem se infectar, apresentar sintomas e repassar o vírus adiante. “Nenhuma vacina garante 100% de proteção. Porém, elas diminuem bastante o risco de desenvolver formas graves da doença que possam levar à internação e ao óbito”, ressaltou. Por esse motivo, a vacinação continua sendo a recomendação número um antes de embarcar em uma viagem de navio.

O incidente no Vista e o avanço da variante Delta fizeram com que o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) aumentasse o alerta para viagens de navio, que agora são classificadas como de alto risco, e diminuísse a validade dos testes aceitos para embarque para até dois dias antes da partida. A autoridade de saúde norte-americana atualizou suas orientações no dia 20 de agosto, ressaltando ainda que as pessoas com comorbidades devem evitar fazer cruzeiros, independentemente do status de vacinação. 

O cenário também fez com que o governo das Bahamas passasse a exigir que todos os cruzeiristas estejam comprovadamente vacinados contra a Covid-19 para poder desembarcar em uma de suas ilhas. A medida é válida inclusive nas ilhas privativas que armadoras como a MSC e a Royal Caribbean mantêm por lá. Já Belize, que esteve diretamente envolvida no episódio, determinou a partir de agora que todos os passageiros de qualquer navio serão proibidos de desembarcar se mais de 2% tiverem recebido diagnóstico positivo para a doença em algum momento da viagem.

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No Caribe e em outras partes dos Estados Unidos, o comprovante de imunização está sendo pedido pela maioria das armadoras. A própria Carnival Cruises passou a fazê-lo após o ocorrido. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda não bateu o martelo sobre os protocolos que deverão ser seguidos durante a temporada nacional de cruzeiros, prevista para começar em novembro, mas tudo indica que estar vacinado não será um pré-requisito para embarcar por aqui.

A preocupação com a retomada se torna ainda maior ao analisar o histórico de surtos de Covid-19 e outras doenças em cruzeiro marítimos. “Eventos como esse acontecem com frequência porque os navios são lugares com um grande número de pessoas, que passam um tempo considerável juntas e em ambientes fechados”, diz Raquel Stucchi.

A infectologista recomenda que, para evitar contaminações, os passageiros passem a maior parte do tempo em espaços abertos ou com boa ventilação natural e sigam os protocolos já conhecidos. “O ideal é que toda a programação a bordo seja feita ao ar livre. Limitar o tempo e o número de pessoas em ambientes fechados – somado ao uso de máscara, higienização das mãos e distanciamento social – reduz sim o risco de transmissão do coronavírus”, afirma.

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Aqui, a médica ressalta para a importância do uso correto da máscara, que deve cobrir o nariz e a boca e ter um bom poder de filtração, como é o caso da PFF2. “Mesmo que você esteja vacinado e em um espaço aberto, é importante utilizar a máscara sempre que estiver próximo de outros passageiros que não fazem parte do seu convívio diário. O ideal é tirar a máscara apenas quando estiver dentro da piscina, tomando sol, comendo ou bebendo. Também não se esqueça de levar máscaras suficientes para poder trocá-las ao longo do dia, principalmente se elas molharem”, aconselha.

Quando ficar de máscara não for uma possibilidade, valem as regras de distanciamento social. “Evite ficar próximo de outras pessoas quando estiver dentro da piscina ou se alimentando. É preciso manter um distanciamento de pelo menos um metro e meio”, conclui. Por fim, vale o bom senso: “todos aqueles que tiverem quadros respiratórios, mesmo que leves, não devem viajar. O mesmo vale para os que tiveram contato com alguém que recebeu resultado positivo para a Covid-19 ou está aguardando resultado de exames”.

A longo prazo, a melhor maneira de fazer com que os cruzeiros voltem a ser seguros é fazendo a sua parte em relação à imunização. Não há dúvida de que a vacinação contra a Covid-19 é a única forma de controlar a pandemia de maneira prolongada. Nós temos que ter pelo menos 80% da população completamente vacinada para conseguir diminuir a circulação do vírus.

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