Manual do Viajante

Dicas para fazer trilhas com segurança

Planejamento, equipamentos, alimentação e cuidados que garantem uma aventura segura em meio à natureza

Por Cecilia Carrilho
4 out 2025, 16h00

Trilhas são cada vez mais procuradas por viajantes que querem se desconectar da rotina e se aproximar da natureza. Mas, para que a experiência seja positiva, é fundamental se preparar em caso de terrenos irregulares, longas distâncias e mudanças de clima que podem transformar o passeio em risco se a segurança não estiver em primeiro lugar.

O especialista ouvido nesta reportagem, Marcos Padilha, tem cerca de 20 anos de experiência em situações de emergência e foi o fundador da Padilha Treinamentos, um centro de treinamento internacional certificado pelo American Safety and Health Institute (ASHI), que faz parte da associação Wilderness Medical Society. Na empresa, ele ministra cursos sobre primeiros socorros e segurança em áreas remotas, que podem ser consultados pelo Instagram.

A seguir, reunimos as principais dicas para quem quer se aventurar nas trilhas com mais segurança:

1. Na escolha do local, respeite seu nível

Comece pelo que está ao seu alcance. Trilhas curtas, bem sinalizadas e com terreno estável são ideais para iniciantes. Aos poucos, é possível encarar subidas íngremes e travessias mais longas. Avaliar a dificuldade do caminho e conhecer seus limites é o primeiro passo para evitar imprevistos.

Padilha fez um alerta para a falta de preparo técnico de alguns viajantes, que muitas vezes se aventuram em trilhas apenas acompanhados de amigos. “A minha dica para a pessoa que está iniciando é que ela procure clubes de montanhismo e excursionismo ou treinamentos e cursos”, aconselha.

Marcos Padilha especialista em segurança Pedra do Baú — Marcos Padilha, especialista em segurança em atividades ao ar livre, na Pedra do Baú (Marcos Padilha/Arquivo pessoal)

2. Equipamento e vestimenta

Roupas leves, calçados já amaciados, chapéu e uma mochila bem organizada são tão importantes quanto a trilha em si. Sapatos específicos ajudam a proteger os pés, capas de chuva e casacos evitam que o clima vire surpresa desagradável, e a mochila precisa carregar o que realmente importa: água, comida, kit de primeiros socorros, lanterna, mapa ou GPS.

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Escolher e preparar o calçado é parte fundamental do planejamento da trilha. “Na trilha, o sapato tem que estar firme no seu pé. Outro erro muito cometido pelas pessoas é comprar uma bota hoje e amanhã fazer a trilha. É preciso amaciar esse calçado. Um calçado novo vai te machucar num ambiente no qual você vai fazer esforço”, explica Padilha.

Entre tantos itens básicos, há também aqueles que parecem dispensáveis, mas podem salvar em uma emergência. O apito é um deles, já que seu som se destaca no ambiente natural e alcança grandes distâncias. “O barulho do apito não é um som característico da natureza. Quando você começa a escutar ‘pi, pi, pi’ sucessivamente, é sinal de que alguma coisa está acontecendo. Além disso, o som do apito ecoa muito longe”, afirma Padilha.

calçado tênis para trilha — Preparar o calçado antes de encarar a trilha evita machucados, garantindo segurança e conforto ao longo do percurso. (Katya Wolf/Pexels)

3. Hidratação e alimentação

Subestimar água ou comida é um erro clássico que pode transformar uma trilha tranquila em um problema sério. Barrinhas de cereais, frutas secas, sanduíches leves e pequenas porções de proteína ajudam a manter o corpo funcionando, prevenindo quedas de pressão ou desidratação.

O consumo pode variar de acordo com o clima e o terreno, e ignorar isso pode colocar qualquer trilheiro em risco. “Se eu estou indo para um lugar que está mais frio, talvez eu não vá consumir muita água, mas se eu estou indo para um lugar que está mais quente, o consumo de água aumenta. O principal é ter o máximo de informações sobre o lugar para onde você está indo”, afirma Padilha.

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Da mesma forma, é fundamental observar os sinais do corpo, principalmente os de desidratação, como sede intensa e urina muito escura, amarelada e com odor forte, que indicam a necessidade de se hidratar.

Manga comprida, chapéus e protetor solar também ajudam a proteger do sol e a evitar a desidratação. Repor líquidos e sais minerais é essencial: ter sachês de reidratação ou isotônicos à mão em trilhas mais exigentes ajuda a repor eletrólitos como cálcio, potássio e sódio, garantindo que o corpo continue funcionando bem quando água sozinha não é suficiente.

beber agua — Manter-se hidratado é essencial em qualquer trilha, ajustando a quantidade de água ao clima e à intensidade do percurso (Vitaly Gariev/Pexels)

4. Respeite seu corpo e seu ritmo

Cada trilheiro precisa conhecer seus limites. Comparar o próprio ritmo com o de outros pode ser arriscado, e fazer pausas ao longo do caminho ajuda não só a recuperar o fôlego e evitar câimbras, mas também a aproveitar melhor a paisagem ao redor.

pessoa descansando durante trilha — Fazer pausas durante a caminhada reforça a importância de respeitar o próprio ritmo e ouvir os sinais do corpo (Andre Furtado/Pexels)

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5. Companhia e comunicação

Mesmo trilhas curtas podem se tornar perigosas sem companhia. Informar amigos ou familiares sobre o roteiro, horários de saída e chegada e pontos de parada é fundamental para qualquer atividade ao ar livre. Sempre que possível, é recomendável caminhar acompanhado de pessoas experientes ou de um guia, que podem orientar sobre o terreno, o clima e os cuidados necessários.

Marcos Padilha recomenda que o ideal é estar acompanhado, mas caso a pessoa vá sozinha, é preciso apurar tudo com ainda mais detalhes. “É preciso pensar se o lugar vai ter sinal de internet, se vai ser possível avisar um familiar. Hoje, existem localizadores satelitais, que são aparelhos que permitem rastrear onde você está. Você pode emitir pedido de socorro com esse tipo de equipamento, então ele é fundamental para uma pessoa que vai viajar sozinha”, conta.

celular trilha — Verificar sinal e ter formas de comunicação é importante para quem se aventura em trilhas (Kampus Production/Pexels)

6. Escolha guias e empresas de confiança

Em áreas mais remotas ou em trilhas desafiadoras, o guia é o responsável por garantir um caminho seguro. “A função do guia é te levar com segurança, te trazer de volta com segurança e proporcionar uma atividade bacana. E principalmente, prevenir problemas”, define Padilha.

Ao procurar uma agência ou empresa que organiza trilhas, é essencial checar se a empresa é constituída formalmente, tem CNPJ, está registrada no CADASTUR e oferece guias qualificados, com formação em condução de atividades ao ar livre e treinamento em primeiros socorros para áreas remotas. É preciso verificar se há um planejamento de riscos para emergências, kits de primeiros socorros, seguro para clientes e detalhes do roteiro como a distância percorrida por dia, nível de dificuldade, alimentação e acomodação.

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grupo em uma trilha — Contar com guias qualificados e empresas bem estruturadas faz total diferença em trilhas desafiadoras (PNW Production/Pexels)

7. Atenção à natureza

A natureza exige respeito em cada passo. Não deixe lixo, evite contato com animais e nunca acenda fogueiras desnecessárias. Observe rios e cachoeiras com cautela e escolha locais de acampamento seguros, longe de margens instáveis ou árvores fracas. Padilha reforça que o contato com os animais deve ser sempre mínimo: “o nosso único contato com eles é tirar uma fotografia e deixar eles em paz”. Cada gesto de cuidado preserva o ecossistema e mantém os caminhos seguros para os próximos aventureiros.

O clima também merece atenção redobrada. Mudanças súbitas, tempestades ou calor intenso exigem que você saiba o momento de parar a atividade e buscar abrigo. A natureza não deve ser subestimada nem desrespeitada, e o bom senso é o melhor guia para garantir que a trilha seja segura e prazerosa do início ao fim.

lixeira em meio a natureza — Cada gesto conta para preservar a natureza durante a trilha, desde não descartar lixo indevidamente até respeitar os animais (Matthis Volquardsen/Pexels)

8. Planejamento é o segredo do sucesso

O planejamento é a etapa mais importante de qualquer trilha, porque é ele que garante segurança e permite aproveitar cada momento sem surpresas desagradáveis. Antes de sair, é preciso estudar o mapa, conferir a previsão do tempo, organizar equipamentos e manter contatos de emergência à mão.

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Ter um bom planejamento faz toda a diferença, incluindo conhecer o percurso, levar água, comida, lanternas e baterias extras, além de formas de comunicação confiáveis. Em áreas remotas, usar SMS pode ser uma solução, já que precisa de pouco sinal para enviar ou receber mensagens. Com esses cuidados, cada quilômetro pode ser percorrido com mais segurança.

Se algo não sair como o previsto, seja se perder ou se machucar, o primeiro passo é parar e avaliar a situação. Evite se movimentar, para facilitar o serviço de equipes de emergência.