Lima
Por Maria Angélica Oliveira
Um bom roteiro em Lima tem que reservar bastante espaço para a comida, sempre. Alçada ao pódio mundial da gastronomia, a capital do Peru tem uma variedade grande de restaurantes surgindo a cada dia para além das casas premiadas. São tantos que dedicamos uma outra matéria inteira para restaurantes e cafés de Lima, que você pode ler aqui.
Mas, se você não é tão foodie assim, saiba que a cidade tem muitos atrativos além da comida. É uma capital vibrante, com herança cultural preservada, uma bonita orla e regiões turísticas seguras. Lima não é apenas um ceviche gostosinho antes de seguir para Machu Picchu. Acompanhe.
QUANDO IR
O inverno em Lima não é rigoroso: as médias oscilam entre 15°C e 20°C. No verão, os termômetros costumam ficar abaixo dos 30°C. A costa desértica do Peru praticamente repele as chuvas e, o máximo que você vai ver na cidade, se der sorte (ou azar) será uma garoa. A capital do Peru é mais bonita no verão, quando o céu é azul e o calorzinho na medida convida a aproveitar ainda mais a cidade.
ONDE FICAR
Lima abriga diversos casarões centenários transformados em hotéis boutique. No bairro de Miraflores, por exemplo, o Atemporal parece um castelinho e tem decoração vintage. Já o Fausto é moderninho e conta com um gostoso terraço ao ar livre.
Em Barranco, o Villa Barranco ocupa uma antiga mansão colonial e tem quartos para lá de charmosos – os banheiros, com azulejos decorados em azul, são um destaque à parte. Na Casa República, a decoração é predominantemente branca, ainda que os corredores dos quartos fiquem coloridos graças aos muitos quadros pendurados nas paredes. Já o clássico Hotel B, o único na cidade com o selo Relais & Châteaux, fica em uma mansão de 1914 que costumava ser a casa de verão de uma rica família limenha.
As grandes redes de luxo também marcam presença em Lima. O JW Marriot e o Belmond Miraflores Park tem piscinas ao ar livre com vista para o mar. Já o Westin impressiona com quartos com vista para arranha-céus.
Mais básicos e ainda assim bem confortáveis são o Sheraton e a cadeia local Casa Andina.
Dentre os hostels, os mais descolados são o Selina, com decoração charmosa e colorida, e o badalado Viajero Lima, instalado em um bonito edifício histórico.
A oferta de Airbnbs é grande, e você pode ver uma seleção de apartamentos em Miraflores e Barranco nesta matéria.
Veja outros hotéis no item Bares e rooftops
ONDE COMER
A lista dos melhores restaurantes do mundo, de acordo com o guia The World’s 50 Best Restaurants, vem há anos consagrando a gastronomia peruana, prova maior é o pódio que as casas de Lima ocupam, entra ano e sai ano. Na edição de 2025, o primeiro lugar ficou com o Maido, que é liderado pelo chef Mitsuharu ‘Micha’ Tsumura, casa que une técnicas japonesas a ingredientes peruanos, na chamada cozinha nikkei. Outros três restaurantes de Lima aparecem no ranking: Kjolle (9º lugar), Mérito (26º lugar) e Mayta (39º lugar).
Fato é que a culinária peruana vai muito além dos estrelados e também do ceviche, o que reflete a diversidade geográfica e cultural do país, com influências da costa, dos Andes e da Amazônia, além das imigrações espanhola, africana, chinesa (chifa) e japonesa (nikkei). Um ingrediente comum a todas essas vertentes é o ají, pimenta típica do Peru, que existe em centenas de variedades — das mais ardidas, como o ají limo usado no ceviche, às mais suaves, como o ají amarillo e o panca.
De tão variada e extensa, neste guia a gastronomia peruana ganhou um capítulo à parte e que você pode acompanhar neste link.
O QUE FAZER
Contudo, apesar de ter uma orla interessante, é bom ajustar expectativas quanto às praias de Lima. Com pedras e água gelada, nadar nesse pedaço do Pacífico só é interessante para os surfistas, que vêm de diversos países para pegar ondas no Peru.
Bairros
Miraflores
Comece seu roteiro pelo malecón, o conjunto de parques em cima das falésias e de frente para o Oceano Pacífico. Caminhe ou vá de bicicleta pela ciclovia – há um serviço público de aluguel, o City Bike Lima.
Uma sugestão é iniciar o itinerário no malecón pelo Parque Maria Reiche, inspirado na matemática que estudou as Linhas de Nazca, passar pelo Parque Chinês e Farol da Marinha e chegar ao Parque del Amor, que reproduz os mosaicos do parque Guell, em Barcelona, e que ganhou fama pela escultura gigante de um casal se beijando.
Perto dali fica o parapuerto, de onde saem parapentes que fazem voos pelo malecón. Mais à frente, está o Larcomar, um shopping a céu aberto debruçado sobre o mar e que tem ótimas lojas.
Não deixe de conhecer o Parque Kennedy, uma grande praça no coração de Miraflores, também conhecida como parque dos gatos – há dezenas de felinos que vivem ali. Muitos dos hotéis de Lima ficam no entorno do parque e por isso é uma localização muito conveniente. O lugar é um ponto de encontro na cidade e quem for adepto do delicioso programa de observar os locais em momentos de ócio, terá aqui um prato cheio. Nos finais de semana, os locais se reúnem ali para dançar. No entanto, vale lembrar que no Peru não é permitido o consumo de bebidas alcoólicas em lugares públicos.
Longe da orla, fica a Huaca Pucllana, um sítio arqueológico composto de pirâmides cerimoniais construídas há cerca de 1800 anos e que foi escavado entre casas e prédios. O lugar foi o centro cerimonial mais importante da cultura pré-hispânica e impressiona pela magnitude. Aproveite para almoçar no restaurante que fica no sítio arqueológico.
Se não for a Cusco, vale visitar os mercados de artesanato entre as avenidas Petit Thouars e Gonzáles Prada. Mas preste atenção, a qualidade e preços variam bastante – é bom pesquisar.
San Isidro
Ao lado de Miraflores está San Isidro, o bairro mais caro de Lima. A avenida Conquistadores reúne as lojas mais exclusivas da capital e restaurantes finos. No coração do distrito está El Olivar, um parque de dez hectares e 1670 oliveiras por onde passeiam esquilos. As árvores são protegidas como patrimônio nacional e algumas têm mais de 400 anos. Entre abril e junho, ficam carregadas de azeitonas.
Barranco
É o bairro mais descolado e boêmio de Lima. Vizinho a Miraflores, também tem um malecón lindo, casinhas antigas, ruas charmosas e muros grafitados.
O ponto de partida é a Ponte dos Suspiros, com oito metros de altura e 33 metros de extensão. Siga a tradição: prenda a respiração, faça um pedido e atravesse num fôlego só.
O entorno da ponte é repleto de cafés e street art. Passe por debaixo dela e explore a área para ver murais icônicos e tirar algumas das melhores fotos da viagem. Por ali está a Bajada de Baños, um boulevard com graffitis e jardins que leva até a praia.
Barranco também é famoso pelas galerias e lojas de decoração. As melhores são a Dédalo e a WU. Na mesma avenida, visite o museu do muralista peruano Jade Rivera, que já pintou empenas e paredes no mundo todo – algumas nas ruas de Barranco – retratando um universo mágico e onírico.
Centro
Patrimônio cultural da humanidade, o imperdível centro histórico de Lima guarda a beleza da época colonial com praças, palacetes e balcões talhados em madeira.
A Plaza Mayor ou Plaza de Armas reúne o Palácio Presidencial, a Prefeitura de Lima e a catedral. Diariamente, por volta de meio-dia, acontece a troca de guarda. A depender do dia, a coreografia é acompanhada da banda presidencial e da cavalaria.
Nenhuma visita ao centro está completa sem os conventos de São Francisco, que abriga catacumbas, e o de Santo Domingo, com pátios celestiais. Para continuar viajando no tempo, conheça a Casa Fernandini e a Casa de Aliaga, palacetes com séculos de história e mobiliário de época impecável. Para visitá-las, é preciso reservar. O site da Casa Aliaga tem uma lista de guias credenciados – as reservas são feitas com eles.
Saindo da Plaza de Armas, caminhe pelo Jirón de la Unión até a Plaza San Martín, onde está a estátua de José de San Martín, o militar que proclamou a independência do Peru. Em frente a ela está o Gran Hotel Bolívar, o mais emblemático de Lima, construído em 1924. O hotel é aberto à visitação. No saguão, uma imponente cúpula de vitral em estilo art noveau dá as boas-vindas, e o bar recebe os turistas com o pisco sour mais famoso da cidade.
Museus
O Larco é o mais interessante. Instalado em um casarão do século 18 no bairro de Pueblo Libre, uma região ao norte da cidade um pouco afastada do pedaço mais turístico, o lugar tem jardins que já valem a visita. A coleção é focada em 5 mil anos de história de arte pré-colombiana e o acervo contém 45 mil obras, sendo uma coleção de arte erótica e uma reserva técnica impressionante que é possível visitar. Vale a pena almoçar ou jantar no lindo restaurante do museu.
Em uma mansão do século 19 no Parque da la Exposición, na região central, está o Museu de Arte de Lima (Mali), que exibe 1200 obras do período pré-hispânico ao atual. Já o Museu de Arte Contemporânea (MAC), em Barranco, é conhecido pelas exposições interativas e instagramáveis.
O Museu Amano, em Miraflores, mostra a genialidade da produção de tecidos dos povos pré-hispânicos. Estão expostas quase 600 peças têxteis fabricadas há mais de 2000 anos com padrões usados até hoje no mundo.
Para conhecer a história recente do Peru, vá ao Lugar de la Memória, também em Miraflores, que retrata o conflito armado entre o grupo terrorista Sendero Luminoso e o Estado peruano nos anos 1980 e 1990. Foi um período sombrio no país, com atentados a bomba e execuções que deixou um triste saldo de 69 mil mortos.
Lima com crianças
Lima é uma cidade niños friendly – plana e repleta de praças muito bem cuidadas com áreas de lazer. No malecón de Miraflores, há parquinhos e labirintos de arbustos que são diversão garantida.
Mas o maior atrativo é o Circuito Mágico da Água, um parque com dezenas de fontes que ganham cores e música em shows no final do dia. Adultos também embarcam na brincadeira – e quem entra é pra literalmente se molhar.
Se a ideia é conhecer os animais peruanos, vá ao Parque de las Leyendas, o maior zoológico do país, que abriga mais de 1500 bichos.
Escapadas
Paracas
A cerca de 300 km de Lima, a reserva de Paracas e o oásis de Huacachina podem ser visitados separados ou combinados em um só dia. Há várias opções de tours nas agências de turismo de Lima, mas o ideal é passar ao menos uma noite por lá para não fazer das férias uma maratona (a volta para Lima no fim do dia pode ser especialmente cansativa).
Paracas é um parque marinho e desértico que protege centenas de espécies de aves, peixes e mamíferos. O cenário de um deserto à beira-mar é uma das paisagens mais insólitas e interessantes que há no mundo. A praia mais famosa é a Playa Roja, com areia vermelha. As Islas Ballestas fazem parte da reserva e há passeios de lancha para visitá-las. Por lá, são vistos flamingos, lobos marinhos e pinguins, além do Candelabro, uma figura gigantesca gravada no solo há quase dois mil anos, semelhante às linhas de Nazca. O passeio depende sempre das condições climáticas e pode não acontecer se o mar estiver estiver muito agitado. Se acontecer, prepare-se para o vento forte e algumas pessoas relatam o cheiro acentuado de guano, o dejeto das aves que é raspado de tempos em tempos e vendido como adubo a preços altíssimos. Mas acredite, o passeio é dos mais interessantes.
Ver essa foto no Instagram
Em terra firme, não perca o restaurante Inti Mar, que é especializado em vieiras. À beira-mar, o restaurante oferece um tour que inclui mergulho com snorkel para coletar as conchas que serão consumidas. Se quiser tranquilidade, aproveite a praia em frente, perfeita para banho. Faça reserva, chegue cedo e aproveite as espreguiçadeiras enquanto espera o almoço. O lugar também tem seis quartos simples caso queira passar a noite (a luz elétrica é cortada entre 23h e 11h).
A região tem hotéis muito grandes e excelentes à beira-mar como o La Hacienda Bahia, o Aranwa e o Hotel Paracas. A oferta de Airbnb também grande e bastante variada, veja aqui.
Para os aventureiros, Paracas também é um destino muito buscado por praticantes de kitesurfe e windsurfe. As empresas Cruz del Sur e a Peru Bus fazem o trajeto de ônibus entre Lima e Paracas em 3h15.
Huacachina
Na lagoa de Huacachina, os programas são passear de pedalinho, almoçar com vista para o oásis e fazer passeios de buggy com emoção, subindo e descendo montanhas de areia (prefira fazer o passeio que sai às 16h para ver o pôr do sol). Os aventureiros também podem praticar sandboard. Já os românticos podem contratar piqueniques nas dunas para assistir o pôr do sol com uma taça na mão. Saiba mais sobre os tours neste link. A empresa Viva Brasil Peru Viagem é um receptivo focado em brasileiros e também organiza passeios por lá e em outras regiões do Peru.
Como chegar
A Latam tem voos diretos de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre. Já a Sky faz a rota saindo de São Paulo. A chegada é no Aeroporto Internacional Jorge Chávez, que fica em Callao, a 20 km de Lima, e está mais moderno. Em junho de 2025, as operações foram totalmente transferidas para um novo terminal, três vezes maior que o antigo, com aparelhos de raio X que eliminam a necessidade de tirar notebooks e outros aparelhos eletrônicos de dentro da mala de mão.
View this post on Instagram
Nem pense em entrar no primeiro táxi que aparecer: a maioria é informal, golpes e assaltos são comuns. Use aplicativos como Uber e Cabify ou os táxis de empresas que têm guichês no aeroporto, como Directo e Taxi Green.
Para quem viaja sozinho, a alternativa mais barata e segura para sair do aeroporto é o Airport Express Lima, um ônibus que vai direto para Miraflores e faz quatro paradas por lá.
A Transacreana é a viação rodoviária que faz o trajeto partindo do Rio de Janeiro ou São Paulo, com duração de cinco dias – a empresa anuncia que é a viagem rodoviária mais longa do mundo, totalizando mais de seis mil quilômetros.
Como circular
As zonas turísticas de Lima são seguras para caminhar, mas evite andar com o telefone na mão, pois os furtos de celulares vêm aumentando.
Com trânsito caótico, não vale a pena alugar carro. Melhor se locomover com os aplicativos como Uber e Cabify, mas prepare-se para encarar veículos bem antigos. Se quiser um serviço melhor, a dica é a empresa Satelital, com frota própria e preços similares aos dos apps de mobilidade.
A principal recomendação de segurança é nunca pegar táxis na rua, prefira sempre usar aplicativos. Como já foi dito, a informalidade é grande e o risco de assalto também. Além disso, não há taxímetro no Peru – o valor da corrida precisa ser combinado com o motorista.
Em compensação, o ônibus Metropolitano, que circula por faixa exclusiva na Via Expressa Luis Fernán Bedoya Reyes, funciona como um BRT e trata-se de um transporte público bastante confiável (os cuidados são os mesmos em qualquer capital).
Para o visitante, o importante é focar na Linha C da Ruta Troncal (sul-norte), que é o jeito mais conveniente, barato e seguro de circular entre os bairros de interesse turístico, que são: Barranco, Miraflores, San Isidro e o Centro.
Para ir até a Plaza de Armas, no Centro, desça na Estación Jirón de la Unión; na altura do Parque Kennedy ou para a Huaca Pucllana, em Miraflores, desça na Estación Ricardo Palma; para a região de Barranco, desça na Estación Bulevar.
A compra dos cartões e a recarga podem ser feitas nas próprias estações.
Quanto tempo ficar
Pelo menos três dias inteiros são recomendados: um para Miraflores e San Isidro, outro para o Museu Larco e Barranco e um terceiro para o Centro. Se for esticar até Paracas, considere cinco dias. Se a ideia for mergulhar mais seriamente na gastronomia, considere pelo menos uma semana – e vale muito! Neste link tem mais detalhes do roteiro.
Documentos
Viaje com RG ou passaporte. Desde maio de 2023, o carimbo no passaporte foi substituído pela Tarjeta Andina de Migração, um registro virtual.
Dinheiro
A moeda peruana é o Novo Sol (consulte a cotação do dia). As melhores cotações costumam estar nas casas de câmbio do centro histórico, no Jirón Ocoña. Para fugir do IOF no Brasil e da dupla conversão, tem sido vantajoso levar reais ao invés de dólares. A Visa é a bandeira de cartão mais aceita no Peru. Cartões de débito internacional como Wise, C6 e Nomad funcionam bem para compras e saques, basta carregar com dólar. Vale sempre levar um pouco de soles na carteira para fazer compras em pequenos comércios e pagar passeios.





