O melhor restaurante do Oriente Médio e Norte da África tem nome turco, é comandado por três irmãos imigrantes sírios e fica em uma esquina despojada de Dubai.
No começo desta semana, o The World’s 50 Best Restaurants anunciou pelo segundo ano os ganhadores de sua controversa lista para a região e no topo ficou o Orfali Bros, um restaurante de muita personalidade que foge dos estereótipos que tornaram conhecidos os espaços gastronômicos dos Emirados Árabes, da Arábia Saudita e até do Marrocos.
Não há decoração pomposa, com distintos ambientes. Não há grupos de investidores por trás. Nem, tampouco, está localizado em algum hotel de luxo. O Orfali fica em um espaço repleto de vidros e pé-direito alto naquilo que poderia ser definido entre uma lanchonete e uma confeitaria moderna.
Mohammad, Wassim e Omar são três irmãos de origem armênia que cresceram em Aleppo, na Síria, e se dispersaram por distintos países até resolverem se encontrar em Dubai para abrir o projeto em 2021.
Foi um sucesso imediato em uma cidade que carece de propostas mais, digamos, autênticas. Dubai, assim como muitos de seus vizinhos, é tomada por grandes grupos, cadeias internacionais de restaurantes, muitas deles de origem americana.
No Orfali, os irmãos andam por uma estrada diferente: mais casual, popular e relaxada. Tortas coloridas e cheias de camadas podem ser consumidas o dia todo, assim como receitas bem cotidianas, como fattoush, salada grega e gaspacho.
O acento é mais árabe, mas os olhos são para o mundo, um reflexo da mistura que tem formado o caldo cultural e demográfico dos Emirados nos últimos anos: 90% dos habitantes são imigrantes ou expatriados.
Natural que o restaurante eleito número 1 para representar a região também seja um reflexo disso: Mohammad, que é o chef de cozinha, prepara pratos como o shish barak à la gyoza, uma receita que une a carne à turca com a técnica asiática.
Mistura fritura com caviar, rala trufa sobre vegetais braseados, conjuga no mesmo menu gochujang coreano e pimenta síria, além de ter criado uma seção inteira de pides (pratos servidos com pão turco).
Enquanto isso, seus irmãos se dedicam mais à pastelaria, cuja cozinha equipada ao estilo Willy Wonka fica no segundo piso e de onde saem maravilhas como tartelette de pistache com framboesas, bolo de gergelim negro e torta de maçã caramelada.
É um espaço divertido, em que a comida tem sabor e alma, que agrega influências do mundo todo (de tartar a batatas bravas, passando pela pizza) sem deixar de olhar para suas próprias raízes: ingredientes como tahine, muhammara, berinjela estão presentes o tempo todo.
“As regras foram feitas para serem moldadas e quebradas, sempre com respeito pela nossa tradição”, diz a primeira página do menu. “Não somos apenas chefs, somos família”. Algo também representado no senso de equipe que querem promover.
Mohammad se orgulha de dizer que são mais de 17 países diferentes representados pelos funcionários do espaço, que preza em contratar justamente imigrantes de distintos países como Etiópia, Paquistão, Índia e Síria. O mundo todo está na cozinha do Orfali — e ele nunca foi tão saboroso.
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